O caso de Susan Smith, que em 1994 causou uma comoção nacional, continua a ressoar no imaginário coletivo, mesmo após três décadas. O triste destino de seus dois filhos, Michael, de três anos, e Alex, de quatorze meses, e a sequência de mentiras que acompanharam sua morte ainda geram debates acalorados e emoções intensas. Na última quarta-feira, Susan, agora com 53 anos e elegível para liberdade condicional, fez um apelo desesperado por clemência, mas foi negada de forma unânime pelo conselho de liberdade condicional, após discursos emocionantes de seu ex-marido, David Smith, e outros 14 testemunhas que se opuseram à sua liberação. Este evento marca não apenas a continuidade do sofrimento de uma família, mas também um alerta para questões sociais mais amplas que o caso levantou.
Na trágica reviravolta dos eventos, a história começou quando Susan relatou à polícia que seus filhos haviam sido sequestrados por um homem negro durante um suposto assalto em Union, na Carolina do Sul. No entanto, a verdade se revelou mais sombria. Depois de dias de investigação, os corpos das crianças foram encontrados dentro do carro que Susan havia afundado em um lago local. O profundo sentimento de traição sentido pela comunidade se restringe à mentira que se espalhou como um incêndio florestal, mobilizando a nação em busca de informações sobre as crianças. Tommy Pope, o promotor responsável pelo caso, relembra o momento em que o carro foi retirado do lago: “Eu vi homens e mulheres das forças de segurança chorando. A traição foi pior do que se realmente houvesse um sequestrador.”
Ainda mais perturbadora é a implicação racial que se entrelaça com a narrativa. A acusação impune de Susan não apenas destruiu a vida de seus filhos, mas também levantou questionamentos sobre o impacto das falsas acusações de sequestro que irão muito além de seu caso. Gloria Browne-Marshall, advogada de direitos civis, enfatiza que a descrição genérica de um homem negro como suspeito reflete um fenômeno racista que prejudica os homens negros e suas comunidades. “Quantos homens negros foram detidos, agredidos ou acusados devido à palavra dela?”, questiona Browne-Marshall, ressaltando a gravidade do impacto social que o caso teve.
A investigação logo se tornou cética em relação à história de Susan, levando-a a confessar, sob interrogatório, que havia rolado seu carro no lago com seus filhos dentro. No julgamento de 1995, que chamou a atenção de todo o mundo, os promotores argumentaram que Susan havia se envolvido em um relacionamento extraconjugal que resultou no fim de seu romance, levando ao desespero e à trágica decisão de acabar com a vida de seus filhos. O advogado de defesa alegou que Susan estava em um estado depressivo e não pretendia machucar seus filhos, afirmando que se tratava de um suicídio frustrado. Mas essa linha de argumentação não convenceu os jurados, levando-os a considerar a gravidade da situação em que as crianças foram forçadas a enfrentar.
Além do juízo popular, a batalha judicial de Susan se desenrolou e o sistema jurídico se encarregou de estabelecer que o carro flutuou por cerca de seis minutos antes de afundar. Foi uma eternidade para qualquer mãe agir, mas Susan não fez nada. Um sentimento semelhante foi compartilhado por David Smith, que, na audiência em que sua ex-esposa pleiteou a liberdade condicional, afirmou: “Ela intencionou acabar com as vidas deles.” David expressou que nunca sentiu remorso por parte de Susan, cuja batalha interna parece não ter terminado com o encarceramento.
Remorso e Liberdade Condicional: O Clamor de Susan por Uma Segunda Chance
Durante a audiência que a levou a clamar por liberdade, Susan se declarou como alguém que aprendeu com seus erros. “Eu sei que o que fiz foi horrível”, disse ela entre lágrimas, tentando alcançar um indulto em meio a uma História que a condenou ao ostracismo. No entanto, a frieza de sua narrativa contradiz sua súplica, como indicado por especialistas em criminologia que acompanhavam a audiência. “A possibilidade de que Susan conseguisse liberdade condicional era quase nula, dada a presença de testemunhas e a resiliência da família da vítima”, comenta Hayden Smith, professor de criminologia da Universidade da Carolina do Sul.
Artigos reunidos de vários cidadãos sobre a audiência de liberdade condicional de Susan indicaram que ao menos 354 mensagens, cartas e e-mails haviam sido enviados ao escritório de serviços aos vitimados, todos, exceto seis, opuseram-se à concessão de liberdade condicional. Além disso, o número de ofensas disciplinares em seu registro enquanto estava presa também pesou contra seu pedido. É importante reconhecer que o sistema de liberdade condicional na Carolina do Sul concede apenas cerca de 8% de liberdade a infratores violentos, enfatizando o impacto e a largura desse caso específico.
A Complexidade de Uma Verdade Oculta por Trinta Anos
Seus esforços para renascer como uma pessoa nova, livre de suas ações passadas, foram frustrados pela ausência de um abraço do perdão, tanto da sociedade quanto de sua família. Susan Smith, uma mulher trágica, que decidiu apagar uma parte significativa de sua vida, fez isso de forma irreversível, alocando o peso da culpa em um lago, onde oxigênio e vida se evaporaram. Este caso, ainda reverberando três décadas depois, não apenas retrata os horrores de uma tragédia familiar, mas também ensina como um único ato de desespero pode acionar uma série de consequências sociais e individuais devastadoras.