Desde a vitória de Donald Trump nas eleições de 2016, cineastas europeus têm se mobilizado em uma resistência criativa, enfrentando uma onda crescente de autoritarismo e intolerância que se espalha pelo mundo. À medida que se aproxima a cerimônia do European Film Awards, marcada para o dia 7 de dezembro em Lucerna, Suíça, a mensagem é clara: os cineastas europeus estão prontos para atuar como defensores globais dos valores progressistas diante da ameaça representada pelo populismo e pela extrema direita.
A polonesa Agnieszka Holland, ao assumir a presidência da Academia Europeia de Cinema, anunciou que “a democracia e a tolerância precisam ser restauradas” e assegurou que seu grupo “não deixaria a Casa Branca” até que isso fosse alcançado. Em sua visão, a tarefa dos cineastas nunca foi tão crucial, em um momento em que a intolerância aumentou significativamente não apenas nos Estados Unidos, mas em diversas partes do mundo.
Havana Marking, uma documentarista britânica que está na vanguarda dessa luta, acredita que o crescente autoritarismo exige uma resposta cinematográfica mais ousada. “Sentimos a necessidade de redobrar nossos esforços, produção de filmes políticos agora é mais vital do que nunca”, declara ela, afirmando que a trajetória de resistência cultural se intensificou. Em resposta a isso, festivais de cinema, como o Göteborg Film Festival, anunciaram uma seção especial focada na “poderosa resistência civil e na desobediência”, prometendo abordar temas polêmicos que desafiam as recentes mudanças políticas.
Os cineastas agora têm uma missão dupla: enquanto cercam a produção de filmes que desafiam o populismo, devem também se preparar para um possível esfriamento do ambiente para a produção de filmes liberais na América. O drama crítico ao governo de Trump, “The Apprentice”, por exemplo, teve que contar com apoio dinamarquês e irlandês para ser realizado após encontrar dificuldades com financiamentos nos EUA, onde o clima adverso se intensificou com o resultado das eleições de 2024, reforçando a necessidade de criar um refúgio para o cinema progressista na Europa.
Em meio a esses desafios, a presença de governos de direita na Europa – como na Itália, Hungria e Polônia – tornou-se um tema importante de discussão. Esses governos têm inibido a liberdade de expressão e a produção artística, levando alguns cineastas a se perguntarem sobre a segurança do financiamento da arte em um ambiente onde a censura pode se tornar um problema premente. Pia Lundberg, diretora artística do Göteborg Film Festival, enfatiza a importância de discutir a coragem e a resistência, afirmando que a desobediência é muitas vezes necessária para resistir a regimes opressivos.
À medida que o cenário global se torna mais inóspito para visões progressistas, os cineastas europeus estão decididos a não apenas resistir, mas também a reaffirmar suas crenças sobre a importância da democracia e da tolerância. A sua meta é transformar suas produções em espaços de discussão vital e crítica social diante do ambiente hostil que se intensifica em várias partes do mundo.
Embora a era de Trump nos EUA tenha mostrado o quanto filmes progressistas podem ter dificuldade em encontrar espaço, a percepção crescente de que a Europa pode ser um ambiente mais acolhedor para esse tipo de produção é um sinal de esperança. A resistência não é apenas uma questão de arte, mas também uma luta pela preservação dos valores fundamentais que unem sociedades democráticas.
Os desafios são significativos, mas a determinação dos cineastas europeus para serem a nova resistência a um Trump reeleito promete criar um espaço onde a liberdade de expressão e a defesa dos direitos humanos podem prosperar. No final, a luta pela democracia e pela justiça social é uma batalha contínua, que se desdobra tanto em Hollywood quanto nas ruas da Europa.
Assim, se você está pensando que a arte é apenas uma forma de entretenimento, lembre-se: ela pode ser um poderoso veículo de resistência. A próxima vez que você assistir a um filme europeu, pense nisso: talvez você esteja vendo a linha de frente de uma batalha pela democracia.