No verão de 2023, Elton John tomou uma decisão que parecia inimaginável: ele parou de fazer turnês.

O ícone da música, que por anos realizou pelo menos 90 shows anualmente, viu o fim de sua tour “Farewell Yellow Brick Road” como um marco em sua longa carreira, que se estendeu por mais de cinquenta anos.

Em suas palavras, ele refletiu sobre essa transição, dizendo: “Tenho 77 anos. Fiz tudo que havia para ser feito. Eu triunfei, estive lá e fiz. Estou ainda na música, gravando novos discos, mas as coisas mais importantes para mim são a minha família, meu marido David, e meus filhos adolescentes, Zachary e Elijah”.

Essa mudança não só representa um momento pessoal significativo para John, mas também um evento cultural importante, dado o impacto de sua carreira na vida de outros artistas, especialmente aqueles da comunidade LGBTQ+. Co-dirigido por R.J. Cutler e David Furnish, o documentário intitulado Elton John: Never Too Late examina as escolhas que levaram a esse ponto. A estreia do filme ocorreu em 15 de novembro e estará disponível na Disney+ em dezembro.

A decisão de deixar a estrada não foi recebida sem ceticismo, pois muitos duvidavam que o músico conseguiria abandonar sua vida de turnês tão facilmente. No entanto, ao final de sua última turnê, Elton John se sentiu satisfeito, encerrando-a com shows memoráveis, incluindo um espetáculo no icônico Dodger Stadium, onde havia se apresentado na altura de sua fama em 1975.

David Furnish falou sobre a nova fase de vida de John, afirmando que ele está mais feliz do que nunca fora do palco, sem nenhum arrependimento, pois sempre quis sair quando estivesse no auge de sua carreira.

Contudo, essa decisão também se deve ao custo físico que as turnês impuseram a seu corpo. Elton John, acompanhado de seu característico humor, elencou com sinceridade: “Para ser honesto, não há muito de mim restante. Não tenho amígdalas, adenoides ou apêndice. Além disso, não tenho próstata. Na verdade, o único órgão que me resta é meu quadril esquerdo.”

Cutler originalmente pretendia documentar a trajetória inicial de John, onde ele lançou dez álbuns de sucesso em cinco anos e falou abertamente sobre sua sexualidade em uma entrevista de 1976. No entanto, com a contribuição de Furnish, decidiu focar na turnê de despedida, estabelecendo um elo entre as duas fases da vida de John.

“A saída do armário de Elton não apenas transformou sua vida, mas também influenciou o mundo. Ao ver Elton e sua família se apresentando no final do filme, como qualquer família normal, demonstra a evolução da aceitação na sociedade que vivemos hoje”, afirmou Cutler.

O filme apresenta um contraste entre a época de ascensão de John e sua vida atual, mostrando ao público um pouco de sua vida familiar e o legado cultural que ele deixou. Embora alguns eventos importantes tenham sido omitidos, como sua luta contra o vício e seu ativismo durante a epidemia de AIDS, Cutler enfatiza que o documentário é uma narrativa construída para contar a história de maneira significativa.

Furnish, que conheceu John há mais de duas décadas, tem uma perspectiva única, por ser casado com o artista e ter direcionado um filme muito mais crudo chamado Tantrums & Tiaras em 1997. Trabalhar em um projeto tão pessoal, ele observa: “Sentimos que chegamos a um lugar que é muito verdade e que é essencialmente Elton, como um bom complemento a Rocketman, que foi uma versão fantasiosa de sua vida.”

Esta nova fase, marcado pela aposentadoria das turnês, não significa que Elton John esteja se afastando completamente da música; ao invés disso, abre um novo capítulo nesta narrativa incrível que ele criou ao longo de sua vida.

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