Em um movimento que demonstra sua força no mercado de comércio rápido, a Zepto, uma startup indiana de entrega de produtos, garantiu recentemente a quantia de $350 milhões em uma nova rodada de financiamento. Trata-se de sua terceira arrecadação apenas nos últimos seis meses, refletindo a rápida ascensão da empresa e sua luta para se consolidar em um setor cada vez mais competitivo. Com uma avaliação de mercado mantida em $5 bilhões, essa rodada de investimento atraiu a atenção de diversos investidores, incluindo escritórios familiares, indivíduos ricos e a gestora de ativos Motilal Oswal.
investimentos significativos e participações locais
Esta nova rodada de financiamento é um marco significativo, sendo considerada a maior rodada primária totalmente doméstica já realizada na Índia. Entre os investidores estão personalidades de destaque como Amitabh Bachchan e Sachin Tendulkar, além dos escritórios familiares de marcas proeminentes como Mankind Pharma, RP-Sanjiv Goenka, Cello, Haldiram’s e outros. O contexto deste investimento destaca a mudança das dinâmicas de propriedade estrangeira, já que atualmente mais de dois terços do capital da Zepto são detidos por investidores internacionais. A empresa está em busca de aumentar a participação de investidores indianos em sua composição acionária, ao passo que já arrecadou mais de $1,35 bilhão desde junho.
crescimento vertiginoso do comércio rápido na Índia
A demanda por serviços de entrega rápida, que prometem levar produtos como alimentos e itens básicos à porta dos clientes em até dez minutos, está em ascensão na Índia, com as vendas desse nicho projetadas para ultrapassar $6 bilhões apenas neste ano. Segundo a Morgan Stanley, a expectativa é que o mercado de comércio rápido atinja a impressionante marca de $42 bilhões até 2030, correspondendo a 18,4% do comércio eletrônico total e 2,5% das vendas no varejo. Esses números significam que, mesmo com a concorrência acirrada, empresas como Flipkart, Myntra e Nykaa estão sendo forçadas a reduzir seus tempos de entrega em uma tentativa de manter sua fatia de mercado diante da pressão dos aplicativos especializados.
Embora o comércio rápido ainda não tenha conseguido se estabelecer com força em outras partes do mundo, o modelo parece estar se consolidando bem na Índia, onde as lojas de varejo desorganizadas são predominantes. A Morgan Stanley descreve a evolução desse segmento como uma criação de um “comércio paralelo para consumidores em busca de conveniência”. Atualmente, os principais players do setor, incluindo Zepto, enfrentam margens de lucro mais baixas em comparação com o varejo tradicional, mas a empresa e seus concorrentes – como Blinkit, da Zomato, Instamart, da Swiggy, e BigBasket, da Tata – estão projetando margens de contribuição entre 7% e 8% e margens ajustadas de EBITDA de mais de 5% até 2030.
Atualmente, a Zepto realiza mais de 7 milhões de pedidos em mais de 17 cidades diariamente e tem como meta um faturamento anualizado de $2 bilhões. O CEO Aadit Palicha revelou que a startup projeta um crescimento de 150% nos próximos 12 meses e planeja abrir seu capital na Índia no próximo ano. Este rápido crescimento, no entanto, não vem sem custos.
impacto devastador nas lojas de vizinhança
A ascensão do comércio rápido tem acarretado efeitos negativos significativos sobre as pequenas lojas de bairro, que se proliferam nas cidades, vilarejos e aldeias indianas. De acordo com a All India Consumer Products Distributors Federation, cerca de 200.000 dessas lojas fecharam suas portas no último ano, sendo 90.000 apenas em grandes centros urbanos, onde a presença de serviços de entrega rápida é mais marcada. A federação alerta que, sem uma intervenção regulatória, mais lojas da vizinhança correm o risco de fechar suas portas, já que as plataformas de comércio rápido priorizam o crescimento em detrimento de práticas sustentáveis.
A Zepto, no entanto, defendeu sua estratégia, afirmando ter criado oportunidades de trabalho para centenas de milhares de trabalhadores em regime “gig”. Conforme destacado por Palicha em comunicado, a visão da empresa desde o início tem sido “desempenhar um papel pequeno na construção da nação, criar lakhs de empregos e oferecer melhores serviços aos consumidores indianos”. Entretanto, é importante ressaltar que desafios regulatórios estão à espreita, pois as regras atuais limitam o funcionamento de empresas de e-commerce que não sejam majoritariamente possuídas por indianos ou empresas locais, o que, em sua maioria, compromete o modelo de negócios utilizado pelas empresas de comércio rápido atualmente.
futuro incerto e oportunidades no setor
O cenário é complexo e exige atenção. As promessas de crescimento e inovação do setor de comércio rápido na Índia devem ser balanceadas com as realidades locais, considerando o impacto nas economias regionais e a sobrevivência das pequenas lojas. À medida que a Zepto e seus concorrentes se preparam para o futuro — com IPOs planejados e perspectivas de crescimento robusto — o foco deve ser não apenas no crescimento econômico, mas também na criação de um ecossistema sustentável que beneficie todos os envolvidos na cadeia de consumo.