Em um cenário de reviravoltas na indústria de mídia, a recente reeleição de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos trouxe à tona preocupações em relação ao futuro da rede MSNBC, entre outras. A decisão de Trump, que já havia demonstrado embates anteriores com a mídia – especialmente com veículos que criticaram sua administração – levanta questões sobre como seus reguladores, nomeados na nova gestão, manobrarão as regras que envolvem fusões e aquisições, um tema sempre delicado e estratégico para o funcionamento das empresas de comunicação.
Meses após o início do primeiro mandato de Trump, seu Departamento de Justiça chocou o setor ao processar a AT&T para bloquear a aquisição da Time Warner, empresa-mãe da CNN. Esse movimento não apenas surpreendeu, mas também instigou especulações de que o objetivo da ação judicial era retaliar a CNN por sua cobertura crítica da administração Trump. Embora o processo tenha sido eventualmente arquivado e a fusão tenha ocorrido, o estrago já havia sido feito, com a ação legal atrasando os planos da AT&T no cenário midiático em constante transformação. O impacto desse embate judicial permanece até hoje, evidenciado pelo que se seguiu nos desdobramentos seguintes.
Agora, o retorno de Trump à presidência ocorre em um momento em que a indústria de mídia, atingida por enormes desafios, está à beira de uma nova onda de transações. Recentemente, a Comcast anunciou planos de desmembrar a MSNBC e outras redes a cabo em uma nova entidade que não incluirá a emissora de televisão NBC, um movimento que se esperava emitir sinais claros ao mercado. Esse desmembramento não requerá aprovação do Departamento de Justiça ou da Comissão Federal de Comunicações, mas os especialistas acreditam que a nova empresa resultante precisará de uma parceria para enfrentar o desmantelamento das redes de TV tradicionais em um ambiente competitivo.
Os reguladores, escolhidos por Trump, terão a possibilidade de afetar negativamente a nova entidade e a posição da MSNBC. Craig Moffett, um veterano da mídia, comentou que existem apenas duas entidades que Trump nutre um desagrado maior do que a CNN: uma delas é a MSNBC e a outra é a NBC. Esta insatisfação poderá se manifestar nos processos regulatórios que atrapalham ou até mesmo inviabilizam futuros acordos, potencialmente colocando em risco a sustentabilidade da nova empresa em meio a um setor que já sofre por conta da concorrência e da perda de audiência.
A recente nomeação de Brendan Carr, um aliado de Trump para liderar a FCC, também aumentou a preocupação entre as emissoras de notícias, pois Carr vinculou a revisão de um acordo entre a Skydance e a Paramount a uma entrevista com a Vice-presidente Kamala Harris. Isso levanta questões sobre a imparcialidade e a realidade em que os veículos de comunicação que tradicionalmente são vistos como progressistas podem enfrentar desafios adicionais em futuras negociações de fusão, um fato que Moffett considera indício claro de um ambiente hostil para essas emissoras.
Jeffrey Sonnenfeld, associado à Yale Chief Executive Leadership Institute, observou que a possibilidade de um “brilhante reacoplamento” das empresas de mídia está sendo obscurecida pela nova administração de Trump, que poderia puxar os freios em acordos que, mesmo se forem finalizados no campo legal, poderiam sofrer com atrasos estratégicos provocados por um desejo de retaliação. Isso, segundo Sonnenfeld, se assemelha ao que ocorreu com o acordo da AT&T e Time Warner, onde o que deveria ser um sucesso acaba se transformando em um “viver de aparências” ao custo de um resultado favorável.
Por outro lado, sob a administração Trump, muitos no mercado financeiro celebraram uma diminuição da vigilância antitruste que caracterizou os primeiros mandatos de Joe Biden, despertando uma nova esperança para muitos investidores e executivos do setor. Estima-se que a administração Trump adotará um stand mais favorável às fusões, especialmente quando comparadas às rígidas barreiras que existiram anteriormente.
Estando neste novo cenário, a Comcast está convicta de que a nova empresa, atualmente chamada “SpinCo”, precisa se fortalecer financeiramente, especialmente considerando os desafios que enfrentará na busca por novos acordos de distribuição sem a proteção da NBC. Isso se torna ainda mais complicado em um momento em que o número de pessoas que assinam TV a cabo vai diminuindo. A capacidade de sobrevivência de SpinCo dependerá de sua agilidade em fazer negociações vantajosas e de garantir a confiança de investidores e parceiros enquanto navega por um mercado em rápida evolução.
Os analistas do setor expressam que o sucesso a longo prazo da nova entidade pode não ser tão simples. Para Louthan, da Raymond James, os desafios logísticos e financeiros serão enormes, e qualquer acordo futuro terá que passar pelos escrutínios do DOJ sob os novos reguladores. Isso poderá levar a uma situação em que as redes atingidas enfrentem dificuldades para se estabelecerem e sustentarem em um novo ambiente, colocando em dúvida se essa mudança estratégica era realmente a alternativa mais viável.
Como uma última reflexão, o desdobramento do desmembramento da Comcast levanta a questão sobre o que está por vir no futuro da mídia. Resta saber se a nova administração de Trump fará mais do que meramente observar e reagir. As especulações sobre como eles podem moldar o futuro da indústria continuam, mas só o tempo dirá se a MSNBC e outras redes conseguirão navegar por essas turbulentas águas com sucesso.