Recentemente, a Zomato, uma popular plataforma indiana de entrega de alimentos, se viu no centro de uma controvérsia ao anunciar a vaga para um cargo de chefe de gabinete. Ao fazer essa oferta, o CEO da empresa, Deepinder Goyal, impôs duas condições incomuns: não haveria salário durante o primeiro ano de trabalho e a pessoa selecionada teria que pagar à empresa a quantia considerável de 2.000.000 de rúpias indianas, o que equivale a aproximadamente 23.670 dólares, para assumir a função. Essa abordagem provocou uma rápida reação negativa nas redes sociais indianas, onde o descontentamento se materializou em uma série de memes e críticas.

Os usuários da internet indiana não hesitaram em expressar sua indignação. Um internauta comentou: “Basicamente, ele está tentando ajudar aqueles que já estão em uma posição privilegiada.” Outro caiu na crítica ao afirmar: “Um emprego deve ajudar a pagar contas e colocar comida na mesa. Não se pode esperar que as pessoas trabalhem de graça.” Durante o anúncio, Goyal se referiu à taxa como uma doação para sua ONG Feeding India, apresentando o cargo como um “programa de aprendizado acelerado” que proporcionaria “10 vezes mais aprendizado” do que um curso de gestão tradicional. Contudo, a percepção generalizada foi de que a oferta era elitista e desconsiderava as realidades econômicas de grande parte da população indiana.

Em uma atualização surpreendente, Goyal mais tarde revelou que a exigência do pagamento era, na verdade, uma jogada para filtrar os candidatos, de modo a identificar aqueles que realmente valorizariam a oportunidade. Ele destacou que o anúncio conseguiu atrair mais de 18.000 candidaturas em apenas 24 horas. Essa aparente eficácia em chamar a atenção, entretanto, trouxe à tona questões sobre a ética e a adequação de criar vagas de trabalho que presumem uma capacidade financeira que muitos não possuem. Segundo a economista indiana Soumya Bhowmick, essa estratégia pode ter excluído candidatos talentosos, uma vez que a perspectiva de demonstrar paixão por uma posição de trabalho frequentemente está condicionada à situação financeira do indivíduo. “Demonstrar paixão por um trabalho é louvável, mas é inegável que o privilégio financeiro geralmente determina se alguém pode se ‘dar ao luxo’ de seguir tais paixões”, destacou. Para muitos indianos, o principal motivador para buscar um emprego é assegurar os meios de subsistência.

Além disso, embora os estágios não remunerados não sejam ilegais na Índia, as leis trabalhistas do país exigem que os empregados recebam pelo menos o salário mínimo. Contudo, um relatório recente do projeto de pesquisa em trabalho Fairwork revelou que, de 11 aplicativos avaliados no setor de economia de gig na Índia, a maioria não implementava uma política de salário mínimo, incluindo a Zomato. Assim, a ideia de um emprego sem remuneração ou, pior ainda, que requeira pagamento à empresa para ser considerado, levanta sérias questões sobre inclusão e sustentabilidade dentro do mercado de trabalho.

Diante do clamor público, Goyal postou que esse tipo de “filtragem” não será repetido e disfarçou a situação ao declarar: “Espero que ‘pagar à empresa para conseguir um emprego’ não se torne uma norma no mundo – isso não é legal.” Ele acrescentou que acredita em “pagar mais do que a taxa de mercado, para que o dinheiro não se interpuser a um grande trabalho.” Apesar do pedido de explicações adicionais por parte dos veículos de imprensa, como a CNN, Goyal enfrentou mais escrutínio nadando em um mar de críticas, que não é desconhecido para ele.

A Zomato já havia sido alvo de críticas anteriormente em relação a outras ações, como a tentativa de introduzir uma seleção de restaurantes que servem apenas comida “vegetariana pura”, que foi amplamente vista como uma iniciativa de caráter “casteista”. A reação negativa a essa estratégia ilustra como as questões sociais profundamente enraizadas na Índia influenciam a percepção pública das empresas e seus responsáveis. O castaísmo, embora oficialmente abolido em 1950, ainda influencia a sociedade indiana de várias maneiras. Com isso em mente, a empresa não apenas tem que lidar com a construção de uma imagem corporativa que não se afaste das massas, mas também enfrenta o desafio de se manter relevante na economia global em rápido desenvolvimento.

Esta situação gera a reflexão sobre o que significa realmente uma oportunidade de emprego. O que parece ser uma chance de aprendizado pode, de fato, tornar-se uma barreira para muitas pessoas que estão em busca de um sustento firme. A Zomato agora precisa urgentemente equacionar sua imagem com a ética e as expectativas de uma força de trabalho crescente e diversificada. Se as empresas que dominam o mercado continuar a ignorar a acessibilidade e inclusão em suas práticas, estarão condenadas a um ciclo de críticas e alucinações públicas que não se extinguirão tão facilmente.

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