Em ‘Spellbound’, os desafios de pais monstruosos ganham uma nova dimensão em uma animação emocionante e, em certa medida, familiar, da Skydance Animation. A protagonista Ellian, interpretada por Rachel Zegler, não está apenas dramatizando a velha história sobre pais difíceis; ela está lidando com a realidade de que seus pais foram transformados em monstros de verdade após um incidente em uma floresta próxima, o que adiciona uma camada de magia e mistério a sua vida cotidiana.
Num reino chamado Lumbria, Ellian, com a ajuda de seus conselheiros reais, Bolinar (John Lithgow) e Nazara (Jenifer Lewis), esconde a verdade sobre a transformação de seus pais. Em uma sequência encantadora, Ellian menciona o desejo juvenil de passar tempo com seus pais, e por isso, não pode sair com seus amigos. Entretanto, essa farsa não pode durar para sempre. Quando seu 15º aniversário se aproxima, ela dá um passo significativo na busca pela quebra da maldição que aflige sua família.
Dirigido por Vicky Jenson, co-diretor de ‘Shrek’, ‘Spellbound’ leva os espectadores em uma jornada através da Terra de Lumbria, onde Ellian tenta salvar seus pais enquanto enfrenta desafios que a fazem refletir sobre o amor, a responsabilidade e o que significa ser uma líder na ausência de seus verdadeiros pais. O filme não só apresenta uma animação vibrante e momentos impactantes, mas também evoca uma sensação de déjà vu ao resgatar elementos de histórias conhecidas como ‘Valente’ e ‘A Viagem de Chihiro’, aproveitando o tema recorrente da relação entre filhos e pais.
O roteiro de Lauren Hynek, Elizabeth Martin e Julia Miranda esconde o motivo da transformação dos pais de Ellian até a parte final do filme, uma escolha inteligente que mantém os espectadores em suspense desde a primeira canção, na qual Zegler brilha com seu talento vocal. A música, assinada por Alan Menken e Glenn Slater, imediatamente estabelece o cenário, revelando que o Rei Solon (Javier Bardem) e a Rainha Ellsmere (Nicole Kidman) não estão apenas em uma fase difícil, mas sofreram uma metamorfose completa.
Nesse contexto, o filme aborda as emoções da solidão que Ellian enfrenta, as dificuldades que surgem em sua vida e como ela deve manter a esperança em meio ao desespero. O fato de que ninguém em Lumbria questione o súbito afastamento dos monarcas adiciona camadas de tensão e necessidade de suspensão da crença por parte do público.
Enquanto a história se desenrola, encontramos o humor e a curiosidade de Ellian, que conta com os Oráculos (dublados por Nathan Lane e Tituss Burgess) como seus possíveis salvadores, embora esses personagens não sejam tão úteis quanto esperado. À medida que a verdade sobre os pais se torna uma questão de domínio público, o pânico se instala, e a jovem é coroada como a nova governante, enquanto seus pais são levados para longe para evitar mais confusão.
Ainda assim, movida pela urgência de proteger sua família, Ellian retorna à busca pelos Oráculos, o que leva a uma narrativa cheia de reviravoltas que, embora algumas vezes confusa, evolui para uma direção mais clara. Esse segundo ato do filme, com a jovem e seus pais monstruosos partindo em uma jornada, coloca a animação nos trilhos de um típico filme de aventura, onde as paisagens deslumbrantes da Lumbria são retratadas em detalhes vívidos, equilibrando o humor com momentos profundos.
Dentre os momentos memoráveis, destaca-se a cena onde Ellian e seus pais se encontram em uma caverna, cujos ecos se transformam em orbes radiantes; um momento que não só marca a primeira interação musical entre os personagens, mas também simboliza sua reconexão emocional, que estava esquecida ao longo do tempo.
À medida que a narrativa avança, a pressão aumenta e a familiaridade do enredo começa a se tornar evidente, fazendo a história escorregar para um território menos emocionante. No entanto, à medida que se desenrolam os mistérios da história passada da família, especialmente em relação à transformação, a conexão emocional é novamente incentivada, culminando em um terceiro ato que verdadeiramente ressoa com os espectadores. Este desfecho é uma que traz lições profundas sobre a relação entre pais e filhos, a incompreensão e a busca pela reconciliação que tanto se faz necessária.
No fim, ‘Spellbound’ nos oferece uma reflexão significativa, empoderando o entendimento de que mesmo em situações de transformação e desespero, o amor familiar e a compreensão podem prevalecer. A animação, acompanhada de uma trilha sonora encantadora, nos convida a sonhar, a rir e, acima de tudo, a sentir.