Três anos após a trágica morte da diretora de fotografia Halyna Hutchins, causada por um disparo acidental no set, o filme independente Rust de Alec Baldwin foi finalmente apresentado ao público em uma emocionante estreia no Festival de Cinema Camerimage, realizado na Polônia. O evento é notório por destacar a arte da cinematografia e, neste ano, acolheu uma plateia calorosa que demonstrou seu apoio, evidenciando a resiliência da equipe envolvida na produção.

Antes da apresentação, Joel Souza, diretor de Rust, e Bianca Cline, a nova diretora de fotografia que assumiu após a resolução das questões judiciais, concederam uma entrevista aprofundada ao The Hollywood Reporter. Nesta conversa, eles compartilharam os desafios de retornar ao set um ano e meio após a tragédia, numa tentativa de concretizar um projeto que se tornou muito maior do que eles inicialmente imaginaram. Souza, Cline e amigos de Hutchins deram verdadeiros discursos emocionados durante o evento, ressaltando a importância de finalizar o projeto, não só por uma questão profissional, mas também para assegurar que os benefícios financeiros obtidos com a exibição do filme ajudariam o viúvo e o filho de Halyna.

O enredo de Rust gira em torno de um garoto de 13 anos, interpretado por Patrick Scott McDermott, que, acidentalmente, mata um fazendeiro em Wyoming durante a década de 1880 e, em seguida, foge com seu avô, que é interpretado por Baldwin, dando vida ao personagem titular Harland Rust. O que se desenrola a partir daí é uma narrativa de desafios e superação, refletindo não apenas sobre a vida no Velho Oeste, mas também sobre as relações familiares e o peso das escolhas.

Durante uma conversa em Toruń, Polônia, Souza discorreu sobre suas impressões iniciais ao ver Rust em uma tela grande. “Sinto um alívio, pois foi um caminho longo. Havia um sentimento de que era hora de a obra respirar por conta própria, afastada de tudo o que houve”, afirmou.

Ele também comentou sobre a cinematografia composta por Hutchins, evidenciando sua estética rica e envolvente. Segundo ele, tanto ele quanto Halyna estavam interessados na composição, utilizando luzes, sombras, e locais deslumbrantes para contar a história. “A proposta era retratar as figuras pequenas diante da grandiosidade da natureza”, explicou ele, fazendo referências a ícones do gênero Western, como Days of Heaven e There Will Be Blood. O resultado é um trabalho visualmente rico, que busca captar a essência inigualável da narrativa ocidental.

Bianca, que veio a substituir Halyna, teve a responsabilidade de dar continuidade a esta visão. “A consistência visual entre o que Halyna e eu desenvolvemos foi impressionante. Ambas compartilhávamos sensibilidade semelhantes que foram fundamentais para o resultado final do filme”, disse ela.

Um dos aspectos que mais intrigou Souza foi a sensação perturbadora ao filmar cenas que envolviam armas, especialmente dado o peso emocional carregado por toda a equipe após a tragédia. Ele se lembrou de como foi desafiador pedir aos atores que pegassem armas, mesmo que fossem de brinquedo, em um ambiente que havia testemunhado tanta dor. “Entendo que é uma situação estranha, mas tentou fazer deste filme uma reflexão sobre o impacto da violência e suas repercussões ao longo do tempo”, disse ele, revelando sua aversão pessoal a armas e seu desejo de construir uma narrativa que não glorifica a violência, mas sim a examina criticamente.

Essa tensão foi palpável, porém, uma vez que a filmagem recomeçou, Souza notou uma transição, onde os atores começaram a se adaptar novamente ao ambiente cinematográfico. “Houve um momento significativo para todos os envolvidos, mas à medida que entramos no ritmo do filme, isso se tornou mais natural”, comentou.

A equipe estava unida em atenção ao legado de Hutchins, com Souza enfatizando que o desejo dela de concluir a obra foi um poderoso motivador para todos. Ele frisa: “O que espero é que, ao assistirem ao filme, as pessoas possam ver através dos olhos de Halyna e entender um pouco mais sobre a artista que ela era. Sua presença é sentida em cada frame do que fizemos.”

O resultado de Rust é mais do que apenas um filme sobre o Velho Oeste; é um tributo ao espírito criativo e à memória de Halyna Hutchins, encapsulando não apenas uma história, mas uma lição poderosa sobre dor, resiliência e a força da comunidade pela qual aquele filme foi realizado.

“Se as pessoas não quiserem assistir a este filme, não há problema algum, mas espero que, se decidirem dar uma chance, observem como cada aspecto visual foi cuidadosamente criado. O esforço da equipe, que trabalhou incansavelmente, foi em homenagem a Halyna e, em última análise, é um reflexo de um trabalho que, apesar das intempéries, mostrou-se resiliente e significativo”, concluiu Souza.

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