Uma investigação conduzida pelo órgão antitruste do Reino Unido revelou que as políticas da Apple estão, de forma provisional, “segurando a inovação nos navegadores que usamos para acessar a web em dispositivos móveis.” O relatório não apenas aponta os problemas relativos à Apple, mas também destaca um acordo de compartilhamento de receitas com o Google, observando que ambas as empresas “ganham receitas significativas” quando o navegador Google Chrome é utilizado no sistema iOS, o que diminui seus “incentivos financeiros para competir”.
contexto da investigação e suas implicações para o mercado
A divulgação das descobertas ocorre na mesma semana em que o Departamento de Justiça dos Estados Unidos sugeriu que o Google deveria se desfazer do seu navegador Chrome, após um juiz ter decidido, em agosto, que o gigante da internet opera como um monopólio ilegal nas buscas online. As revelações trazidas pela Autoridade de Concorrência e Mercados (CMA) do Reino Unido são resultado de um estudo de mercado iniciado em 2021, que analisou a dominância da Apple e do Google no setor de dispositivos móveis, incluindo suas políticas e práticas relativas às lojas de aplicativos e navegadores.
Em 2022, a CMA anunciou o início de uma investigação formal sobre o “duopólio móvel” formado pela Apple e Google, com foco particular nos navegadores e na nuvem para jogos, uma vez que já haviam surgido preocupações sobre a possibilidade de que tais práticas estivessem restringindo a concorrência e prejudicando os consumidores.
principais achados da CMA sobre as práticas da Apple e seu impacto no mercado
Hoje, os resultados da CMA indicam que a investigação não avançará em relação ao aspecto da nuvem para jogos, já que mudanças realizadas pela Apple parecem ter “implicações positivas para a concorrência nesse mercado”. No entanto, as reclamações sobre a restrição das práticas de navegação permanecem em destaque. A CMA constatou que a Apple impõe que navegadores móveis concorrentes no Reino Unido utilizem o motor de navegação da própria Apple, o WebKit, limitando assim a capacidade desses navegadores de se diferenciarem. Além disso, os navegadores que utilizam o WebKit não possuem o mesmo nível de acesso e funcionalidade que o Safari, aplicativo proprietário da Apple, o que “tem um impacto negativo na concorrência e na inovação”.
Outro ponto crucial diz respeito às limitações enfrentadas por aplicativos de terceiros para que possam explorar a “navegação dentro do aplicativo”, que se refere ao acesso à web a partir de aplicativos nativos do iOS. A CMA apontou que a Apple, de forma provisional, restringe o tráfego disponível para navegadores concorrentes nessa modalidade de navegação, além de limitar a capacidade dos aplicativos de personalizar a experiência de navegação dos usuários. Empresas com milhões de usuários, como a Meta, enfrentam dificuldades nesse sentido.
posicionamento das empresas envolvidas e as próximas etapas na investigação
Um porta-voz da Apple expressou desacordo com as constatações, alertando que qualquer alteração proposta poderia, em última instância, “minar a privacidade e a segurança dos usuários”. Ele reiterou a posição da Apple de que “acredita em mercados dinâmicos e prósperos, onde a inovação pode florescer”, e que enfrentam concorrência em todos os segmentos e jurisdições onde operam. O porta-voz enfatizou que a empresa está comprometida em continuar a se engajar de forma construtiva com a CMA à medida que a investigação avança.
Da mesma maneira, um representante do Google afirmou que “a abertura do Android ajudou a expandir opções, reduzir preços e democratizar o acesso a smartphones e aplicativos”. Ele se comprometeu a continuar colaborando de maneira construtiva com o CMA nos assuntos relacionados nas próximas semanas.
o futuro das práticas de navegação no Reino Unido e as implicações para os usuários
Por enquanto, nada deve mudar plenamente. No entanto, a investigação sugere que as novas regras estabelecidas pela Digital Markets, Competition and Consumers Act, que entram em vigor no próximo ano, devem ser utilizadas pela CMA para abordar estas práticas que limitam a concorrência. A CMA, por sua vez, está aberta a comentários adicionais sobre suas descobertas provisórias e planeja emitir uma decisão final até março de 2025.
Diante de um cenário onde o acesso à informação e ferramentas digitais se tornaram cada vez mais essenciais, as práticas das gigantes tecnológicas, como Apple e Google, são examinadas com lupa, evidenciando a crescente necessidade de um equilíbrio que favoreça tanto os usuários quanto a inovação no mercado. É um momento crucial de redefinição nas práticas de concorrência, e cabe aos consumidores e desenvolvedores segurar as empresas responsáveis por um ambiente digital mais aberto e inovador.