O filme “Rust”, que se tornou emblemático devido à fatalidade trágica que aconteceu durante suas filmagens, foi finalmente exibido no Festival Camerimage, na Polônia, em 19 de novembro. Essa estreia ocorreu mais de três anos após a morte trágica da diretora de fotografia Halyna Hutchins, que perdeu a vida em um acidente envolvendo uma arma de fogo não municiada em 21 de outubro de 2021, enquanto se preparava para uma cena. A produção enfrentou um complexo panorama de dor, reflexão e, acima de tudo, o desafio de honrar o legado de Hutchins, uma profissional admirada na indústria cinematográfica.
Joel Souza, o diretor do filme, que também foi ferido no mesmo incidente, compartilhou seus pensamentos em uma entrevista ao Hollywood Reporter, revelando que a decisão de Alec Baldwin, ator e produtor do filme, de retornar à produção em 2023 foi “uma coisa angustiante” para ele. Souza, de 51 anos, passou por um processo emocional desafiador, tanto pessoal quanto profissional, devido aos acontecimentos que cercaram a trajetória do filme. O diretor refletiu sobre as conversas que teve com Baldwin, observando que, embora não conseguisse lembrar os detalhes dessas discussões, tinha plena consciência de que foi um momento marcante e difícil para o ator de 66 anos voltar a interpretar um personagem que lida com armas em um contexto tão sensível.
A morte de Hutchins impactou profundamente não apenas colaboradores do filme, mas a própria indústria cinematográfica. Baldwin, que estava manuseando a arma que disparou acidentalmente, afirmou que não puxou o gatilho e ficou chocado com a presença de munição real na arma. Embora tenha enfrentado acusações de homicídio involuntário, o caso criminal contra ele foi encerrado em 12 de julho, após a defesa argumentar que os promotores não apresentaram evidências relevantes durante o processo. No entanto, o impacto emocional e psicológico sobre Baldwin e todos os envolvidos permaneceu palpável, tornando a filmagem um desafio repleto de dificuldades emocionais e tensões.
Souza comentou sobre a vibe que pairava sobre o set durante a retomada das filmagens, afirmando que todos passaram por momentos difíceis. Ele pontuou: “Era complicado para ele, sabe? Acho que ele estava lidando com todas as suas próprias questões o tempo todo. Posso apenas imaginar o quão difícil isso foi. Mas conseguimos superar”. Esses sentimentos indicam que, apesar de tudo, o desejo de seguir em frente e finalizar o projeto em homenagem a Hutchins foi um motor impulsionador para a equipe.
Por outro lado, a estreia de “Rust” na Polônia não ocorreu sem controvérsias. A mãe de Hutchins, Olga Solovey, expressou sua dor e frustração em um comunicado, afirmando que não compareceria à exibição do filme, acusando Baldwin de nunca ter entrado em contato para se desculpar pela morte de sua filha. É difícil para muitos entenderem como um projeto cinematográfico pode prosseguir após uma tragédia de tal magnitude, e as vozes dos que foram afetados diretamente por essa perda permanecem ecoando na discussão atual sobre a produção.
Neste contexto de emoções conflitantes, é necessário destacar o trabalho de Halyna Hutchins. Souza, em sua entrevista, expressou sua esperança de que aqueles que assistem ao filme reconheçam o esforço dela e atentem para a cinematografia que representa uma parte essencial do que “Rust” é. “É uma oportunidade única de olhar através dos olhos de Halyna e ver como ela via o mundo”, disse o diretor, ressaltando que sua perda é sentida não apenas no contexto do filme, mas de uma maneira mais ampla dentro da indústria de cinema. A vida e obra de Hutchins viverão através de seus trabalhos, incluindo o que foi capturado em “Rust”. Afinal, um grande número de profissionais retornou para finalizar o projeto em sua homenagem, provando que o legado de Halyna não é apenas um nome, mas um ícone que merece ser lembrado por suas contribuições ao cinema.
Enquanto isso, o filme ainda não tem data de lançamento prevista nos Estados Unidos, e a expectativa gira em torno de como ele será recebido pelo público, considerando os desafios éticos e emocionais envolvidos na produção. Com todo o histórico que cerca “Rust”, é evidente que a trajetória dessa obra vai muito além do que se vê na tela; é um testemunho das complexidades que definem a vida e a morte de um profissional apaixonado pelo cinema.