A recente passagem do furacão Milton pela costa oeste da Flórida voltou a evidenciar a proliferação de vídeos enganosos que circulam nas redes sociais, com muitos deles sendo fabricados por inteligência artificial. Um fenômeno recorrente após desastres naturais, esse tipo de desinformação não apenas confunde a população, mas também pode resultar em prejuízos significativos para os esforços de recuperação das áreas afetadas. O furacão Milton gerou uma onda de visualizações nas plataformas digitais, onde vídeos que alegavam mostrar cenas do fenômeno viralizaram rapidamente, acumulando milhões de acessos. Um dos vídeos mais enganosos, que supostamente mostrava os efeitos de Milton, na verdade, trazia imagens capturadas durante um nor’easter em Massachusetts, em 2021. Outro vídeo, que atraiu 1,5 milhão de visualizações na plataforma X, continha imagens criadas artificialmente. Tal situação alerta para a importância de distinguir conteúdos autênticos de falsidades, especialmente em tempos de crise.
Os profissionais da área de comunicação e especialistas em desinformação apontam que, após desastres naturais, as redes sociais se tornam terreno fértil para a disseminação de informações incorretas. O Serviço Nacional de Meteorologia já havia emitido alertas sobre “relatórios de clima severo falsos ou deliberadamente imprecisos” que circulam nas plataformas sociais, frequentemente utilizando fotos ou vídeos de eventos que ocorreram meses ou até anos atrás. Cayce Myers, professor de relações públicas na Virginia Tech, ressaltou que imagens geradas por inteligência artificial durante o furacão Helene exemplificam as dificuldades trazidas pela tecnologia, indicando que “a tecnologia de IA oferece uma capacidade maior para criar imagens realistas que são enganosas”. Segundo ele, o impacto negativo dessas imagens é acentuado pelo papel que as redes sociais desempenham na rápida disseminação de desinformação.
Para ajudar o público a identificar vídeos enganosos que frequentemente surgem após catástrofes naturais, a equipe de verificação da CBS News compilou uma série de dicas valiosas. Primeiramente, é crucial analisar o conteúdo audiovisual: verificar se as filmagens coincidem com outras fotos e vídeos da localização em questão e atentar para elementos que possam indicar que o vídeo foi fabricado, como ondas com aparência irreal. Além disso, recomenda-se buscar outras imagens ou vídeos do mesmo local; caso esses conteúdos não coincidam, pode-se suspeitar que o material é de um evento climático anterior ou potencialmente gerado por inteligência artificial. Julia Feerrar, professora associada na mesma universidade, sugere que motores de busca são aliados valiosos neste contexto, recomendando que adicionar “verificação de fatos” à pesquisa costuma ser uma maneira rápida de obter informações e desmentir conteúdos enganosos.
Na tentativa de conter a propagação de informações falsas, os membros do Congresso dos Estados Unidos, especialmente os democratas de estados afetados pelos furacões Helene e Milton, enviaram uma carta a empresas de tecnologia, incluindo Facebook, TikTok e X, alertando sobre o aumento de desinformação que prejudica os esforços de recuperação e explora a vulnerabilidade das famílias em situações de calamidade. Ao serem contatadas, as plataformas Meta e TikTok afirmaram que estão ativamente empenhadas em remover conteúdos que violem suas diretrizes. O porta-voz do TikTok explicou que a empresa tem direcionado usuários que buscam conteúdos relacionados a Milton ou Helene para vídeos oficiais da FEMA, além de colaborar com 19 organizações independentes de verificação de fatos ao redor do mundo. A Meta, por sua vez, informou que remove o conteúdo contrário às suas políticas de padrões comunitários e colabora com 10 organizações de verificação de fatos em solo americano para desmentir alegações falsas ou restringir a visibilidade de conteúdos identificados como inverídicos.
Além das dicas fornecidas pela equipe de verificação, o think tank RAND elaborou uma lista de 17 pontos que serve como guia adicional sobre como evitar a disseminação de informações incorretas ou mídias enganosas durante desastres naturais. Este esforço coletivo evidencia a necessidade premente de um combate mais eficaz à desinformação, especialmente em momentos críticos, onde a veracidade da informação é vital para a segurança e recuperação das comunidades afetadas. O comprometimento das plataformas de redes sociais em garantir a integridade das informações que circulam nestes momentos de crise mostra um passo na direção correta, mas é inegável que a conscientização do público e a educação sobre como verificar conteúdos online devem ser reforçadas continuamente.