A trama do renomado livro “A Court of Thorns and Roses”, escrito por Sarah J. Maas, envolve um universo rico em detalhes que misturam fantasia e romance, muitas vezes referenciado como “romantasy”. Mas, como em qualquer narrativa que se preze, é essencial que as regras que governam esse mundo sejam respeitadas, garantindo a coesão da história e a credibilidade dos personagens. Embora a série tenha conquistado grande popularidade na última década, existe uma crítica recorrente com relação à lore que cerca a raridade das crianças fae, o que levanta questões intrigantes sobre a consistência dessa premissa ao longo da narrativa.
A história gira em torno de Feyre Archeron, uma caçadora humana que, após matar uma faerie, é levada para o país fae de Prythian. Ao longo da série, acompanhamos sua evolução, desde o cativeiro até sua união com Rhysand, o Alto Lorde da corte noturna, e o nascimento de seu filho, Nyx. Um fato notável no primeiro livro é a escassez de worldbuilding, mas a série se esforça para expandir as habilidades dos personagens e o sistema mágico que rege seu universo com cada nova edição. Contudo, um detalhe da lore apresentado desde o início permanece inconsistente: a suposta raridade das crianças fae.
a corte de espinhos e rosas e a contradição da raridade das crianças fae
Na narrativa, é destacado que as crianças fae são raras, mas muitos dos personagens principais parecem ter famílias numerosas. Se a cultura fae é marcada pela preocupação com a escassez de descendentes, as relações familiares dos protagonistas, como Lucien, que possui seis irmãos, e Rhysand, que teve uma irmã, parecem contradizer essa afirmação. Tais incoerências na representação da família fae levam à reflexão sobre a verdadeira natureza da procriação nesse universo que, apesar de jogos de poder e batalhas épicas, também apresenta uma vivência diária marcada por questões familiares.
Além disso, se as crianças fae são tão incomuns, seria lógico supor que a população fae estaria em alerta constante sobre sua preservação, especialmente considerando os repetidos conflitos militares que ecoam pela história. No entanto, a abundância de faes em cada corte, mesmo após guerras devastadoras, contrasta com a noção de que a procriação é escassa, suscitando uma série de questionamentos. Este paradoxo entra em choque com a ideia de que os faes vivenciam uma realidade de crescimento populacional no meio de constantes conflitos.
<h3=o papel="" da="" gravidez="" de="" feyre="" e="" as="" oportunidades="" perdidas="" para="" explorar="" essa="" lore
Quando Feyre engravida, supõe-se que essa seja a primeira ocasião em que a série abordará de forma mais direta a questão da gravidez fae. Essa oportunidade poderia ter sido explorada de maneira inovadora, permitindo que a protagonista comentasse sobre a raridade de sua condição ou as implicações dela dentro do contexto da lore fae. Ao invés disso, a narrativa apressadamente ignora tais questões, o que levanta mais dúvidas sobre a construção desse universo. Mesmo a forma como os personagens reagem à gravidez de Feyre revela a falta de uma continuidade lógica em relação à raridade das crianças fae, especialmente em um mundo onde o conceito de fertilidade entre as raças remete a profundas tradições e expectativas.
Mais adiante na narrativa, durante os eventos de “A Court of Silver Flames”, seria compreensível que Feyre ou qualquer membro do seu círculo interno pudesse discutir a ocorrência de irmãos entre os fae. A rapidez com que a gravidez dela acontece, logo após o encontro com Rhysand, poderia ter sido uma chance perfeita para esclarecer tais questões. No entanto, a repetição do mantra sobre a raridade das crianças fae por parte de personagens que, ironicamente, provêm de famílias grandes permanece sem resposta, criando uma lacuna interpretativa.
possíveis explicações para a presença de tantos irmãos fae
Uma possível explicação é que, embora as crianças fae possam ser consideradas raras, elas trazem em sua essência a característica de viverem muito mais tempo que os humanos, resultando em frequentes intervalos de nascimento entre irmãos. As dinâmicas familiares que permeiam a história, por exemplo, os irmãos de Lucien, podem ter sido influenciadas por longas vidas, o que logo explicaria a presença de um número significativo de crianças nas famílias fae. Outra suposição interessante se relaciona aos laços de acasalamento, que entre os fae, são considerados fundamentais para a força das proles, indicando que informações sobre a dormência desses laços poderiam ter ampliado a discussão sobre a procriação fae e a relevância de suas consequências.
De qualquer modo, a falta de exploração detalhada sobre a temática das crianças e famílias fae dentro da obra de Maas resulta em uma sensação de descuido no que tange às regras essenciais que regem seu universo, culminando em inconsistências que não passam despercebidas pelos leitores e críticos. Em um mundo tão rico e complexo, a elaboração de lore mais coesa e integrada se torna crucial para aprofundar a conexão dos fãs com a história e entender o verdadeiro significado por trás da raridade das crianças fae.
conclusão: a oportunidade de aprofundar a lore na história de a court of thorns and roses
A série “A Court of Thorns and Roses” promete histórias envolventes que misturam romance e magia. No entanto, as incongruências presentes na narrativa, especialmente em relação às crianças fae e suas famílias, sugerem que a autora poderia ter explorado mais profundamente essas questões. Esses gaps na construção do enredo não apenas ofuscam a riqueza da trama, mas também criam uma necessidade urgente de revisitar e expandir a lore além das premissas já estabelecidas. Afinal, para que um universo fantástico funcione, a lógica interna deve ser respeitada, permitindo que os leitores experimentem uma imersão completa nas realidades que a autora apresenta.