O clima político em Washington está em ebulição, especialmente para os senadores republicanos que se preparam para enfrentar um processo de confirmação que promete ser difícil para as escolhas de gabinete do presidente-eleito Donald Trump. Após a retirada do ex-representante Matt Gaetz da disputa para o cargo de procurador-geral, muitos legisladores se veem diante da crescente preocupação sobre como apoiar as indicações do presidente, que têm sido marcadas por um toque de polêmica.
Entre as nomeações que estão gerando um intenso debate está a de Pete Hegseth para o cargo de Secretário de Defesa, que já enfrenta controvérsias relacionadas a suas declarações passadas e seu histórico. Os senadores transmitem a Hegseth a mensagem de que o processo de confirmação é longo e intrusivo, exigindo que ele se submeta a uma série de reuniões com membros do Senado, que, na maioria das vezes, são céticos em relação à sua capacidade de liderar o Pentágono.
As preocupações sobre a qualificação de Hegseth, apresentador da Fox News, têm se intensificado mesmo entre seus aliados próximos. A senadora Marsha Blackburn, do Tennessee, relatou que as reuniões com Hegseth foram produtivas, e seu colega de partido de Oklahoma, Markwayne Mullin, elogiou a sua qualificação para o cargo. No entanto, uma investigação policial de 2017, na qual uma mulher o acusou de sexo não consensual, veio à tona, ofuscando essa aparente unidade dentro do partido.
As alegações de assédio sexual, que Hegseth nega, têm gerado desconforto entre os membros do Senado. Apesar de a polícia não ter apresentado acusações, o caso não deve ser ignorado durante o processo de vetting. Hegseth defende que o encontro foi consensual, mas o seu advogado flertou com a ideia de que ele se sentiu pressionado a resolver a situação devido ao clima do movimento #MeToo.
A confirmação de Hegseth e de outros indicados, como Tulsi Gabbard para a Direção da Inteligência Nacional e Robert F. Kennedy Jr. para a Secretaria de Saúde, revela as fissuras que começam a aparecer no partido. Senadores estão cientes de que, embora a maioria do Senado seja republicana, somente um número reduzido de votos pode ser perdido. A situação gera um dilema para muitos: alinhar-se com Trump ou proteger a integridade do partido e suas reputações.
O senador Kevin Cramer expressou sua preocupação com as acusações contra Hegseth, mas sublinhou que não pretenderia julgar a situação antes de um escrutínio adequado. De fato, as delicadas alegações não são inócuas, principalmente em uma era onde os casos de assédio sexual estão sob o olhar atento da sociedade. Um número crescente de senadores, cuja experiência se baseia tanto em lealdades pessoais quanto nas expectativas do eleitorado, começa a ponderar as complexidades que esse processo de confirmação acarreta.
desafios no processo de confirmação após a desistência de gaetz
A rápida decisão de Gaetz de não prosseguir com a candidatura para procurador-geral ressaltou que, mesmo com os republicanos controlando a Casa Branca e o Congresso, obstáculos significativos ainda estão à frente. Gaetz, que viajou a Capitol Hill para se encontrar com senadores do partido e tentar conquistar apoio, foi informado por Trump de que os votos necessários para sua confirmação não estavam disponíveis, forçando-o a se retirar.
Os senadores que estavam cientes de que Gaetz teria dificuldade em ser confirmado perceberam um alívio quando souberam de sua decisão. “Seria extremamente desafiador. O mais desafiador dos indicados,” comentou um senador republicano em uma conversa informal. Isso levanta questões sobre o quão criterioso foi o processo de seleção das indicações de Trump, especialmente quando se considera que as alegações contra Hegseth surgiram enquanto a equipe de transição do presidente estava em meio às nomeações.
A falta de escrutínio em torno das escolhas de Trump pode ser vista como uma questão preocupante por muitos no partido, que se destacam por suas tentativas de aparar as arestas para evitar dificuldades políticas. Quando questionado sobre a possibilidade de que esse processo de indicada poderá gerar mais problemas no futuro, Cramer indicou que as recentes alegações não devem ser desprezadas, especialmente quando se trata de uma questão tão delicada como assédio sexual dentro do Exército. “É por isso que existem verificações de antecedentes e audiências. Isso é o que nos mantém alerta,” concluiu Cramer, já prevendo o que estava por vir.
Em meio a essa tempestade política, a resistência da equipe de transição de Trump pode ser testada. O suporte de alguns senadores para Hegseth e outros indicados se baseia em um desejo mais amplo de evitar dissensões no partido, mas também coloca em risco a credibilidade dos republicanos perante um eleitorado cada vez mais exigente e criterioso. À medida que a confirmação avança, o escrutínio das escolhas de Trump apenas se intensificará e a dinâmica política em torno deles pode revelar-se mais complicada do que muitos esperavam.