Em um mundo onde os super-heróis são frequentemente retratados como inabaláveis e heroicos, a série The Boys, criada por Garth Ennis e Darick Robertson, se destaca por sua abordagem satírica e sombrinha. No entanto, os fãs da série devem se preparar para uma notícia que pode ser tanto um alívio quanto uma decepção: Garth Ennis, em uma recente entrevista, deixou claro que não pretende mais expandir a franquia. O motivo? Ele deseja encerrar o sofrimento de um de seus personagens centrais. Prepare-se para conhecer os detalhes dessa declaração que promete fazer ecoar as emoções dos leitores ao longo dos anos.
Durante uma conversa a respeito de seu novo trabalho, a série de horror Freddie the Fix, Ennis foi questionado sobre a possibilidade de voltar à sua obra mais icônica, The Boys. O renomado escritor, que já foi responsável por obras como Preacher e Crossed, afirmou que, atualmente, não planeja um retorno à franquia, mesmo que tenha prazer em escrever sobre Butcher e sua esposa, Becky. O autor enfatizou que não deseja colocar os personagens em mais situações adversas, o que soa como uma proposta de um conto alternativo onde eles não enfrentam as atrocidades que marcaram suas histórias e, ao invés disso, desfrutam de um final feliz.
A primeira edição de The Boys foi lançada em 2006, e a série principal, acompanhada por uma variedade de histórias auxiliares centradas em personagens, permaneceu ativa até 2012. Em 2020, a série retornou brevemente com a história epílogo The Boys: Dear Becky, que explorou os primeiros dias de Butcher na direção da equipe de vigilantes apoiada pela CIA, focada em desmantelar os heróis corrompidos conhecidos como Supes.
Ao longo dos anos, a meticulosidade de Ennis não poupou Butcher e Becky de seus traumas. Os quadrinhos originais foram ainda mais severos, apresentando a história da morte de Becky que, em contraste com a adaptação televisiva da Amazon, começa com ela já falecida. Sua história é revelada em flashbacks ao longo da série principal e, particularmente, na história ligada The Boys: Butcher, Baker, Candlestickmaker. Essa narrativa desnuda a tragédia da vida de Becky, que foi forçada a enfrentar atrocidades, inclusive sendo estuprada por Black Noir, que se disfarçou como Homelander. O horror culmina com sua gravidez não desejada, levando-a à morte, após a descontrolada liberação de poderes do feto super-humano.
O baque emocional para Butcher é devastador, e ele descobre essa terrível verdade ao acordar em meio à cena horrenda, seu luto feito ainda mais profundo ao matar o jovem Supe que foi a causa da tragédia. A busca por vingança intensifica-se quando Butcher descobre o diário de Becky, o que o leva a enfrentar Homelander e seus semelhantes, apesar de estar consciente de que suas ações estão manchando a memória da amada. A história Dear Becky reafirma que a memória dela nunca foi completamente apagada da mente de Butcher e que, possivelmente, foi sua influência que o impediu de seguir com um genocídio completo contra todos que possuíssem o composto V.
Essa nova ideia de Ennis de um universo alternativo poderia ser viável, especialmente se explorasse se Butcher realmente teria conseguido se desvencilhar da violência a longo prazo. A história sempre tratou o amor entre Butcher e Becky com a seriedade que ela merece, tornando-se o cerne da narrativa. Essa visão de amor como a fonte última de significado oferece um toque humano em um personagem cuja natureza é predominantemente malévola. O autor, portanto, pode encontrar dificuldades ao tentar revisitar a franquia que tanto marcou sua carreira sem esse elemento amoroso.
Embora o universo sombrio de The Boys seja irreverente até a medula, a história subjacente se empodera com a complexidade do amor entre Butcher e Becky. Em um mundo onde as linhas entre alternativa e realidade estão constantemente borradas, a ideia de um minissérie que explore a vida feliz desses personagens não parece tão maluca, especialmente se incluir questionamentos sobre a possibilidade de Butcher realmente escapar dos seus impulsos violentos no decorrer de sua jornada.
Em resumo, a recusa de Garth Ennis em prolongar os horrores enfrentados pelos personagens nos lembram que, às vezes, os melhores finais são aqueles que não incluem dores e sofrimentos irreparáveis. A nostalgia provocada por Butcher e Becky pode muito bem ser o que os fãs necessitam para reviver a série sem reviver as tristezas do passado. Assim, o legado de The Boys em sua essência continuará a viver, mesmo que seus criadores decidam colocá-la numa pausa momentânea, permitindo que os corações dos leitores se curem de suas feridas.