Jenny Fielding, cofundadora da Everywhere Ventures e ex-diretora da Techstars, gerou uma intensa discussão na rede social X ao provocar a comunidade sobre o uso de assistentes executivos por fundadores em fase pré-seed. Em seu post, Fielding questionou se as pessoas realmente acreditavam que era necessário um assistente humano para ajudar na programação desses fundadores que enfrentam os desafios de iniciar um negócio. Com um tom um pouco irônico, ela estava disposta a ouvir as diversas opiniões e, sem dúvida, trouxe à tona um assunto de relevante importância para o ecossistema de start-ups.
A participação de Fielding nesse debate se mostra fundamental, especialmente considerando sua própria trajetória como fundadora e investidora. Ela destaca que, embora a flexibilidade na utilização de recursos seja uma prática comum entre investidores de seed, a maneira como os fundadores gerenciam o capital levantado ainda levanta muitos questionamentos. Durante os anos de apogeu do financiamento excessivo, entre 2020 e 2021, muitos fundadores adotaram certas crenças quanto à gestão financeira que podem não ser mais adequadas frente às realidades atuais do mercado. Na visão dela, é essencial que os novos empreendedores se concentrem na construção de um produto que seja realmente desejado pelos consumidores.
Fielding, que já iniciou duas empresas antes de se tornar uma referência no investimento em start-ups, enfatiza que a gestão prudente de recursos é crucial para a sobrevivência e crescimento de uma start-up em seus primeiros anos, quando o fluxo de caixa é frequentemente limitado. Ela defende que, além de assistentes executivos, é necessário criar um alinhamento claro entre os objetivos da empresa e a estrutura de sua equipe. Afinal, é durante esse período que se deve priorizar as contratações que possam impactar diretamente na entrega de um produto viável, ao invés de focar em cargos que podem gerar custos desnecessários.
Embora os investidores em seed, incluindo Fielding, acreditem que os fundadores devem ter liberdade para gastar o capital levantado da forma que considerarem apropriada, é inegável que existem expectativas por parte dos investidores quanto à eficiência dessa gestão. Segundo Fielding, mesmo sendo em sua maioria parceiros silenciosos, os VCs realizam análises sobre como os fundadores estão utilizando os recursos, o que pode influenciar significativamente a capacidade da start-up de atrair novos investimentos mais tarde.
A introdução de cargos como COO e CFO em empresas em estágio inicial também pode ser vista como um sinal de alerta para os investidores. Muitas vezes, essas posições são ocupadas por cofundadores que ainda estão tentando encontrar seu espaço dentro da estrutura organizacional, o que pode se tornar uma fonte de despesas excessivas. Fielding menciona que, em vez de focar em um organograma mais complexo, um fundadora deve se concentrar em desenvolver seu produto e conquistar clientes. O advento de um CFO ou COO no início da jornada de uma start-up pode ser visto como um sinal de que os fundadores ainda não estão completamente alinhados com as necessidades reais do negócio.
Em relação aos salários, esse é um aspecto que, embora os investidores mantenham em silêncio, eles observam atentamente. Fielding compartilhou a experiência de ter encerrado um acordo após descobrir que um fundador estava se pagando $300,000, valor que embora possa refletir salários de grandes empresas como Google ou Microsoft, é considerado excessivo em uma empresa em fase pré-seed. Durante essa fase, salários razoáveis geralmente variam entre $85,000 e $125,000, dependendo da situação financeira da start-up. Fielding alerta que, mesmo em um cenário em que um fundador tenha levantado uma quantia robusta como $1 milhão, pagar-se $200,000 logo no início representa uma fração significativa do capital, apresentando riscos reais para a continuidade do negócio.
Com todas essas considerações, é evidente que a gestão cuidadosa dos recursos e a estrutura organizacional das start-ups, bem como a forma como os fundadores se remuneram, desempenham um papel crítico na obtenção de um investimento bem-sucedido. As conversas provocadas por Fielding no X não apenas suscitaram reflexões sobre práticas e prioridades no ambiente de start-ups, mas também destacaram a necessidade de um entendimento mais claro por parte dos empreendedores sobre o que realmente importa em cada fase do crescimento de suas empresas. A frase de Fielding diz tudo: inovação e eficiência devem sempre estar em primeiro lugar.