Washington — A situação na Ucrânia, diante da conjuntura política em mudança nos Estados Unidos, se torna cada vez mais complexa. O general aposentado H.R. McMaster, que atuou como conselheiro de segurança nacional durante o governo de Donald Trump, expressou a sua visão sobre o que está por vir nos próximos meses em uma entrevista veiculada no programa “Face the Nation”, apresentado por Margaret Brennan. McMaster afirmou que o período que se aproxima é “realmente crítico” para definir a “próxima fase” do conflito ucraniano, visto que um novo governo com Trump estaria se aproximando e, potencialmente, mudaria a dinâmica de apoio à Ucrânia.
O ex-conselheiro observou que tanto a Rússia quanto a Ucrânia estão pressionadas a alcançar o máximo possível de vitórias no campo de batalha antes que a administração Trump assuma novamente o controle. Ele enfatizou que os dois países buscam atualmente estabelecer vantagens em futuras negociações, o que torna a situação instável e imprevisível. A urgência para a Ucrânia, para consolidar suas conquistas antes de qualquer mudança na política americana, é evidente, especialmente quando consideramos que a invasão russa completou mais de 1.000 dias desde seu início em fevereiro de 2022.
Recentemente, em um esforço para reforçar a posição da Ucrânia, a administração Biden tomou medidas significativas. Entre as ações incluem o envio de minas antipessoais para o país e a liberação de restrições que limitavam o uso de mísseis de longo alcance fabricados nos EUA, permitindo que a Ucrânia realize ataques dentro do território russo. Essas decisões são vistas como uma maneira de dar suporte a Kiev em sua luta contínua, ao mesmo tempo em que o novo governo dos Estados Unidos se aproxima. Assim, a oposição bélica e estratégica entre as potências se torna cada vez mais palpável.
Por outro lado, o perfil escolhido por Trump para ocupar posições chave na administração, incluindo Rep. Mike Waltz, Senador Marco Rubio e Senador JD Vance, gera certa preocupação em relação ao futuro da assistência americana à Ucrânia. Muitos desses indivíduos manifestaram uma postura menos receptiva em relação ao suporte contínuo à Ucrânia e alguns defenderam um desfecho negociado para o conflito, o que pode ter uma repercussão direta nas futuras relações entre os EUA e a Ucrânia.
McMaster alertou que tal dinâmica representa um “problema real” e impacta a moral das forças ucranianas, cuja habilidade de gerar o efetivo necessário para sustentar suas operações defensivas está sendo desafiada. Ele destacou que, além do fornecimento de armas e treinamento adequados, a confiança dos ucranianos em sua capacidade de vencer é um fator crítico. Mensagens que indicam uma diminuição do apoio estadounidense podem ser profundamente prejudiciais do ponto de vista moral, afetando não apenas a liderança ucraniana, mas também a moral das tropas em campo.
Apesar das incertezas, McMaster se mostrou esperançoso de que o novo governo, ao concentrar-se nos desafios globais, reconheça a conexão entre a guerra na Ucrânia e uma “aliança de agressores” que busca desestabilizar a ordem internacional. Ele mencionou a participação de soldados norte-coreanos no solo europeu, a assistência da China à Rússia e o fornecimento de drones por Irã como parte de uma visão ampliada do que a guerra representa não apenas para a Ucrânia, mas para a segurança global em geral.
As discussões em torno do novo governo de Trump coincidem com um momento em que a interdependência entre os países e a segurança global se tornaram mais críticas. McMaster sublinhou a importância de o Senado exercer seu papel de consulta para assegurar que as melhores pessoas ocupem esses cargos essenciais na segurança nacional, o que é crucial na formulação de uma política externa coesa e eficaz.
Ele concluiu que Trump, ao longo de sua trajetória, demonstrou ser receptivo a conselhos e aprendizagens, indicando que as questões sobre a reconciliação entre a paz e a força, assim como os entendimentos a respeito das motivações e restrições do presidente russo, Vladimir Putin, devem ser centrais em qualquer discussão futura sobre a segurança nacional. Contudo, a escolha de Trump de nomear figuras polêmicas, como a ex-representante Tulsi Gabbard, para cargos críticos, gerou ceticismo entre especialistas, como McMaster, que expressou preocupação em relação ao entendimento de Gabbard sobre as intenções de Putin.
Enquanto isso, suas avaliações sobre outras escolhas de segurança, como Sebastian Gorka, suscitaram questionamentos sobre a qualidade da orientação que Trump irá buscar para questões de segurança nacional. O futuro do apoio à Ucrânia e da política externa americana nos próximos meses permanecem em uma balança, com muitos olhos voltados para as decisões que serão tomadas por aqueles que ocupam os postos de poder na nova administração.