Em meio a debates acalorados sobre a necessidade de um retorno em massa ao trabalho presencial, Elon Musk e Vivek Ramaswamy, os novos líderes do Departamento de Eficiência do Governo (DOGE), estão pressionando por uma mudança que promete impactar profundamente a dinâmica dos empregos federais. A intenção de forçar os funcionários federais a retornarem aos escritórios foi estabelecida em um artigo de opinião publicado no Wall Street Journal, onde a dupla argumenta que essa medida não apenas economizaria recursos públicos, mas também poderia reduzir o número de funcionários, visto que acredita-se que alguns optariam por se demitir sob as novas diretrizes.
De acordo com um relatório divulgado pelo Escritório de Gestão e Orçamento (OMB) em agosto, a quantidade de tempo que os funcionários federais passam teletrabalhando varia de departamento para departamento. Para a maioria das agências, a mudança radical na política de trabalho deverá gerar um impacto desigual, afetando algumas mais severamente que outras.
Os líderes do DOGE argumentam que a imposição de um retorno total ao escritório, cinco dias por semana, tem o potencial de resultar em um aumento significativo nas demissões voluntárias: “Se os funcionários federais não querem aparecer, os contribuintes americanos não deveriam pagar pelo privilégio de ficar em casa”, afirmaram. Essa abordagem, no entanto, levanta questões sobre a eficácia e viabilidade da medida.
Durante a pandemia, muitos departamentos ampliaram as possibilidades de teletrabalho, mas, assim como as operações presenciais, a transição para o trabalho à distância nunca foi uniforme. O OMB, ao encerrar a emergência de saúde pública no início de 2023, orientou as agências a aumentarem substancialmente o trabalho presencial, estabelecendo que os empregados elegíveis para teletrabalho devem comparecer ao escritório pelo menos metade do tempo. Contudo, o mesmo relatório sugere que políticas de trabalho flexível podem ser ferramentas importantes na atração e retenção de talentos.
Estatísticas sobre o teletrabalho no serviço público
Atualmente, aproximadamente 2,3 milhões de civis são empregados pelo governo federal, segundo o relatório do OMB, que analisou 24 agências que representam cerca de 98% da força de trabalho civil federal. Desde a implementação das novas diretrizes, mais de 1,1 milhão de funcionários se mostram elegíveis para teletrabalho, enquanto 1,2 milhão trabalha em regime totalmente presencial devido à natureza de suas funções. Destes, cerca de 228.000 funcionários possuem contratos totalmente remotos, sem a expectation de comparecimento regular aos escritórios.
A percentagem de horas que os funcionários federais passam trabalhando presenciais é alarmante para alguns, conforme a variação entre as agências. Entre os mais de 800.000 funcionários elegíveis para o teletrabalho, a média de horas trabalhadas presencialmente é superior a 61%. No entanto, departamentos como o de Agricultura tem apresentado números significativamente mais elevados, com 81% dos funcionários teletrabalhando na verdade passando a maior parte do tempo presencialmente no escritório. Em contrapartida, o Departamento do Tesouro tem registrado taxas de trabalho presencial que não ultrapassam 36% do total para seus funcionários elegíveis a teletrabalho.
A resistência às mudanças e implicações
Um desafio à implementação dessas normas é a resistência dos sindicatos, que defendem que quaisquer alterações nas condições de trabalho que possam afetar contratos existentes devem ser negociadas por meio do devido processo de negociação coletiva. A Federação Americana de Funcionários Governamentais (AFGE), que representa uma grande parte dos trabalhadores federais, argumenta que a suposição de que eles não estão trabalhando de forma presencial é distorcida e que, na realidade, cerca de 80% das horas trabalhadas são realizadas com presença física nos escritórios. Além disso, muitos desses trabalhadores, como os da saúde, patrulha de fronteira e segurança de transporte, simplesmente não têm a opção de teletrabalho devido às exigências de seus cargos.
Com o cenário atual, a estratégia de forçar o retorno a uma política estrita de escritório parece suscitar dúvidas sobre sua real eficácia para gerar economia aos cofres públicos. Especialistas, como Brian Riedl do Manhattan Institute, afirmam que mesmo uma redução considerável no quadro de funcionários não irá impactar significativamente o orçamento federal, que desembolsa cerca de 305 bilhões de dólares por ano com a compensação dos servidores civis. A conclusão sugere que, enquanto a governança federal enfrenta um dilema relativo à eficácia do teletrabalho versus os benefícios do trabalho presencial, a busca por políticas abrangentes pode, na verdade, acabar desestabilizando ainda mais a eficiência do governo.
Com toda esta discussão fervorosa e mudanças em curso, cabe a cada funcionário e cidadão vigilante refletir sobre o futuro do trabalho no serviço público e o que isso significa para a prestação de serviços e a utilização de recursos no que promete ser uma nova era de governança federal.