O cenário político da Romênia vive um momento de grande turbulência e repercussão após a surpreendente vitória do candidato pouco conhecido, Calin Georgescu, que se destacou ao vencer a primeira rodada das eleições presidenciais. Esse resultado, revelado nesta segunda-feira através de dados eleitorais, não só surpreendeu a nação, como também deixou os analistas políticos tentando entender a magnitude da reviravolta em um país historicamente dominado por partidos tradicionais.
Calin Georgescu, que se apresentou como candidato independente, ascendeu do anonimato para se destacar como o principal concorrente à presidência, enfrentando a reformista Elena Lasconi em um segundo turno marcado para daqui a duas semanas. Georgescu, aos 62 anos, liderou a contagem dos votos com aproximadamente 22,95%, seguido de perto por Lasconi, do partido União Salvar a Romênia (USR), que obteve 19,17%. O atual primeiro-ministro, Marcel Ciolacu, do Partido Social Democrata (PSD), ficou com apenas 19,15% dos votos, enquanto George Simion, do partido de extrema direita Aliança pela Unidade dos Romanos (AUR), recebeu 13,87%.
Esse resultado é histórico e marca a primeira vez em 35 anos de história pós-comunista da Romênia que o PSD não estará presente no segundo turno de uma eleição presidencial, o que representa um enorme golpe para o partido mais poderoso do país e um forte indicativo do sentimento anti-establishment dos eleitores. A alta taxa de rejeição ao status quo, reafirmada pelas preferências eleitorais, demonstra um eleitorado cada vez mais disposto a buscar novas alternativas fora do sistema tradicional.
Após encerramento das votações no último domingo, cerca de 9,4 milhões de pessoas, o que corresponde a aproximadamente 52,5% dos eleitores aptos, participaram da votação, conforme informado pelo Central Election Bureau. O segundo turno está marcado para o dia 8 de dezembro, criando um clima de expectativa em torno do desfecho eleitoral. Vale mencionar que Georgescu teve um desempenho muito forte entre os eleitores da diáspora romena, conseguindo 43,3% dos votos, em comparação com os 26,8% obtidos por Lasconi.
Expectativas sobre o desempenho de Georgescu eram pouco otimistas; a maioria das pesquisas locais previu que ele receberia menos de 10% dos votos, mostrando o quanto seus apoiadores podem ter superado as previsões, refletindo um desejo por mudanças. O novo presidente da Romênia terá um mandato de cinco anos e, como membro da União Europeia e da OTAN, terá influência significativa em áreas cruciais, como segurança nacional, política externa e nomeações judiciárias.
Após votar no domingo, Georgescu expressou seu comprometimento com a causa daqueles que se sentem negligenciados e injustiçados, afirmando em uma postagem no Facebook: “Votei pelos injustiçados, pelos humilhados, por aqueles que sentem que não importam, mas que, na verdade, são os que mais importam… o voto é uma oração pela nação”. Este apelo tocou o coração de muitos eleitores que sentem uma conexão com sua mensagem.
Georgescu possui um doutorado em pedologia, uma área da ciência do solo, e atuou em várias posições no ministério do meio ambiente da Romênia durante os anos 90. Entre 1999 e 2012, representou o país no comitê nacional do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente. Embora não tenha um programa político claro, seu carisma e popularidade nas redes sociais, especialmente com seus vídeos no TikTok, que conquistaram 1,7 milhões de curtidas, demonstram um apelo que pode ser decisivo nas próximas semanas.
Por outro lado, Elena Lasconi, uma ex-jornalista e atual líder do USR, tem se articulado em torno de uma agenda reformista anti-corrupção. Antes da votação, ela ressaltou a corrupção como um dos maiores desafios da Romênia e se posicionou a favor do aumento das despesas com defesa e do contínuo apoio à Ucrânia. Caso vença o próximo turno, Lasconi se tornará a primeira mulher a assumir a presidência romena, um feito marcante na história do país e na luta pela igualdade de gênero em cargos de liderança.
Adicionalmente, o cenário político romeno vai se intensificar ainda mais com as eleições parlamentares previstas para o dia 1º de dezembro, que determinarão o próximo governo e o novo primeiro-ministro da nação. Portanto, o ambiente é de expectativa e incerteza, com a participação cidadã moldando novos caminhos para a política romena.