A obra Wicked, uma adaptação cinematográfica do renomado musical da Broadway, promete ser um marco no universo das histórias mágicas, reimaginando o cenário já conhecido de O Mágico de Oz. Enquanto a narrativa de 1939 centra-se predominantemente em Dorothy e suas aventuras, Wicked se desvia para explorar a complexidade do mundo das bruxas do oeste e suas relações intrincadas, trazendo à tona figuras que, embora fundamentais para a construção do enredo, não aparecem no clássico filme. Este artigo se debruçará sobre algumas dessas personagens que moldam a jornada de Elphaba, a Bruxa Má, e Glinda, a Bruxa Boa, mostrando como suas histórias e interações formam um pano de fundo rico e significativo.
A narrativa de Wicked, ambientada durante os dias universitários de Glinda e Elphaba, nos dá acesso a personagens originais que são cruciais para o desenvolvimento da história. Por exemplo, Madame Morrible, interpretada por Michelle Yeoh, não só é uma professora influente na Universidade Shiz, mas também serve como mentora para Elphaba. Desde o início, a relação entre as duas parece promissora, mas à medida que a trama avança, descobrimos que Madame Morrible tem uma agenda oculta, trabalhando em conjunto com o Mágico de Oz para explorar o verdadeiro potencial mágico de Elphaba, revelando assim as intrigas de poder e controle que permeiam a história.
Adicionalmente, encontramos a figura de Doctor Dillamond, interpretada por Peter Dinklage. Ele é um professor de História cuja amizade proporciona um abrigo emocional para Elphaba em um mundo que a marginaliza. Através de suas lições, assistimos a uma profunda crítica social em relação ao tratamento dos animais falantes em Oz, que anteriormente gozavam de status igualitário, mas que agora enfrentam discriminação e opressão. A ligação entre Elphaba e Dillamond é significativa para entender as motivações dela ao seguir o caminho de se tornar a ‘Bruxa Má’, ao passo que suas experiências de vida fazem ecoar questões de inclusão e defesa dos direitos dos oprimidos.
Entre as amizades de Glinda na Universidade Shiz, estão Pfannee e ShenShen, personagens que, apesar de sua natureza cômica, também revelam as tensões e rivalidades que permeiam a juventude. A popularidade de Glinda na universidade contrasta com seu relacionamento inicial com Elphaba, refletindo dilemas de amizade e pressão social. A transição de Glinda de uma jovem insegura para uma figura que busca genuinamente a amizade com Elphaba marca um ponto de virada na trama, enfatizando a evolução das suas personalidades e seus desafios pessoais.
A personagem Dulcibear, uma babá que nutre carinho e proteção por Elphaba e sua irmã Nessarose, também se destaca por sua ausência em O Mágico de Oz. Seu papel na infância de Elphaba é simbólico, evidenciando a luta pela aceitação e amor em um ambiente hostil. Dulcibear não é apenas uma cuidadora; ela representa um refúgio em um mundo repleto de preconceitos. Ao longo do musical, compreendemos que a bondade que Elphaba recebe do mundo animal ainda persiste, mesmo quando são alvo de opressão.
Por fim, o papel do Governador Thropp e sua complexa relação com Elphaba, que começa com rejeição e culmina em desamparo, gera uma reflexão profunda sobre a dinâmica familiar e aceitação. O Governador não apenas se distancia de Elphaba devido à sua aparência, mas também por razões que se ligam diretamente a fraquezas de caráter e medo. A narrativa revela que essa relação disfuncional é um dos responsáveis pela transformação de Elphaba na figura que conhecemos de Wicked, apresentando questões de traição e a busca por poder que permeiam a narrativa da obra.
Concluindo, Wicked: Part I não é apenas uma reprise de O Mágico de Oz; é uma reinterpretação profunda que traz à tona vozes que antes estavam silenciadas. Com personagens como Madame Morrible, Doctor Dillamond, Dulcibear e o Governador Thropp, somos convidados a repensar as narrativas de bem e mal, além de explorar as complexidades que definem cada indivíduo. Esse novo olhar sobre um conto familiar promete encantar e, ao mesmo tempo, desafiar os espectadores ao confrontar preconceitos que ressoam muito além da ficção.