A capital paquistanesa, Islamabad, tornou-se o epicentro de um confronto intenso entre as forças policiais e milhares de apoiadores do ex-primeiro-ministro Imran Khan, neste início de semana. A manifestação, que visava exigir a libertação de Khan, que se encontra preso, foi marcada pela utilização de gás lacrimogêneo por parte da polícia para dispersar a multidão que se aglomerava nas proximidades da cidade, desafiando as severas medidas de segurança e restrições impostas pelo governo.
Os manifestantes, que se deslocaram em uma jornada de 150 quilômetros (aproximadamente 93 milhas) desde a região noroeste do país, conseguiram reunir-se próximo a Islamabad, apesar de uma proibição explícita de reuniões públicas na capital. As autoridades relataram que, em meio a um clima de tensão, um policial foi morto e vários oficiais, assim como manifestantes, ficaram feridos em uma série de confrontos.
O tumulto começou logo após a chegada dos primeiros grupos de apoiadores. Demostradores portando máscaras de gás e óculos de proteção foram filmados enquanto tentavam penetrar nas barreiras policiais. Em resposta, o ministro do interior, Mohsin Naqvi, declarou que o governo estaria disposto a permitir que os manifestantes realizassem sua reunião nas periferias de Islamabad, mas advertiu sobre possíveis medidas extremas se tentassem entrar na cidade.
As tensões que culminaram nesse confronto não surgiram do nada. Elas emergiram em um cenário político marcado por turbulências e descontentamento popular, com a liderança do partido de Khan, o Pakistan Tehreek-e-Insaf (PTI), decidindo seguir adiante com a, já planejada, “long march”. Essa decisão foi tomada mesmo com a visita do presidente da Bielorrússia, Alexander Lukashenko, que chegou ao país em um momento delicado para o governo atual.
As chamas da desobediência civil se acenderam quando o convívio entre a polícia e os protestantes se tornou inevitável. Não obstante a presença de forças de segurança em grande número, a resistência dos marchadores se destacou, já que muitos deles se mostraram resolutos em alcançar seu destino, mesmo diante da violência e dos choques que se seguiram. O impacto da situação já se fazia sentir em diversas esferas, com a vida cotidiana nos arredores de Islamabad sendo severamente afetada devido às barricadas e ao lockdown imposto.
Durante o fim de semana, a cidade passava por um fechamento intenso, onde os serviços de internet e telefonia foram suspensos para restringir a comunicação entre os apoiadores de Khan. As autoridades já haviam efetuado mais de 4.000 detenções de apoiadores do ex-primeiro-ministro desde a última sexta-feira, ressaltando a determinação do governo em conter a revolta popular. Economistas locais preveem que esses protestos podem trazer consigo danos econômicos que chegam a bilhões de rúpias, e as tensões políticas só aumentam a ansiedade entre a população.
No turbilhão dessa situação, um fator peculiar emerge: a popularidade de Imran Khan. Apesar das acusações contra ele – que incluem mais de 150 processos criminais – muitos continuam a vê-lo como uma figura de mudança e resistência. Os líderes do PTI afirmam em peso que os processos são, na verdade, politicamente motivados, e essa justificativa é um dos pilares que sustentam a mobilização de suas bases.
Em um ato simbólico de força e unidade, a esposa de Khan, Bushra Bibi, recentemente liberada de um caso de corrupção, também se juntou à marcha, manifestando o apoio a sua causa e fazendo discursos inflamados entre os apoiadores. Em suas aparições, ela encorajou os manifestantes a permanecerem firmes em seu objetivo de libertar Khan, entoando slogans e palavras de ordem que reverberam profundamente na multidão.
No entanto, o governo, liderado pelo primeiro-ministro Shehbaz Sharif, se mostra firme em sua postura, com seu porta-voz esclarecendo que as ações de Khan e seu partido tendem a prejudicar a economia, especialmente durante visitas de delegações estrangeiras ao país. Enquanto isso, a desobediência civil continua, contribuindo para um ciclo de confrontos que não parece ter um desfecho à vista. Os protestos persistem, e a despeito das ações policiais, os manifestantes estão determinados a seguir em frente, confiantes em seu objetivo.
À medida que a situação se desdobra, muitos se perguntam: até onde irão os apoiadores de Imran Khan em sua luta por liberdade política, e o que isso significa para o futuro político do Paquistão? Com tensões sociais elevadas e uma economia já fragilizada, os próximos passos são de fato incertos, mas a determinação dos protestantes é inegável e, em última análise, será o comportamento da população e do governo que moldará os rumos seguintes dessa história tumultuada.