O aumento do consumo de álcool durante a pandemia de Covid-19 nos Estados Unidos não foi apenas uma fase temporária marcada pelo estresse e incertezas: um novo estudo revela que essa tendência se manteve e ainda mostra números preocupantes. O trabalho, liderado pelo Dr. Brian Lee, hepatologista do Keck Medicine da Universidade do Sul da Califórnia, foi publicado no dia 12 de novembro na revista Annals of Internal Medicine, e expõe que os altos índices de consumo de álcool observados em 2020 continuaram em crescimento ligeiro até 2022.

Os dados coletados oferecem um panorama preocupante do impacto contínuo da pandemia na saúde mental e física da população. O Dr. Lee relatou uma preocupação crescente com os pacientes que lidam com falência hepática decorrente do uso excessivo de álcool, indicando uma realidade clínica alarmante. “Eu estava esperançoso de que veríamos uma queda no uso de álcool, mas a realidade é que temos observado um aumento significativo nos casos, especialmente entre aqueles que necessitam de tratamento para problemas relacionados ao fígado”, comentou ele. De acordo com as informações do estudo, quase 25.000 pessoas foram entrevistadas em 2018, enquanto aproximadamente 31.000 foram consultadas em 2020 e cerca de 27.000 em 2022, permitindo uma comparativa rica e abrangente.

O impacto do álcool se fez sentir de forma abrangente, afetando homens e mulheres de todas as etnias. Em 2022, 69,3% dos americanos relataram ter consumido álcool no ano anterior, um leve aumento em relação a 69% em 2020 e 66,34% em 2018. Além disso, a pesquisa constatou que a porcentagem de “bebedores pesados” aumentou para 6,3% dos entrevistados em 2022, comparado a 6,13% em 2020 e 5,1% em 2018. Esses números trazem à tona uma realidade que, embora alarmante, é ecoada pelas opiniões de especialistas na área. O Dr. Jagpreet Chhatwal, diretor do Instituto de Avaliação de Tecnologia do Hospital Geral de Massachusetts, mencionou que o aumento do consumo de álcool já era uma preocupação crescente antes da pandemia e que a situação se agravou com o estresse acumulado e as dificuldades que muitas pessoas enfrentaram durante os períodos mais desafiadores.

Entre os grupos etários, foi notável um aumento na proporção de bebedores pesados entre os brancos, que passou de 5,7% em 2018 para 7,3% em 2022. As mulheres também apresentaram uma prevalência maior nesse contexto, com 6,45% se classificando como bebedores pesados, comparadas a 6,1% dos homens. Importante destacar que, com relação à saúde, Lee enfatizou: “Se você está consumindo mais de uma bebida por dia, como mulher, já pode estar em risco de desenvolver doenças hepáticas”. A definição de “bebedor pesado” é estabelecida pelo Instituto Nacional sobre o Abuso de Álcool e Alcoolismo dos Estados Unidos, considerando como tal quatro ou mais bebidas em um único dia para mulheres e cinco ou mais para homens.

Com o aumento do estresse e da pressão decorrentes da pandemia, muitos tornam-se mais propensos a buscar o álcool como um mecanismo de enfrentamento. O Dr. Lee sugere que alguns dos motivos podem incluir a perda de empregos, o impacto na rotina familiar, entre outras dificuldades. “O consumo de álcool como forma de superar o estresse pode levar à formação de hábitos que se transformam em dependência”, explicou. O Dr. Chhatwal concordou, esclarecendo que fatores como insegurança financeira e outros desafios emocionais se tornaram ainda mais pronunciados, o que contribui para a elevação no consumo alcoólico.

Dados dos Centros de Controle e Prevenção de Doenças (CDC) revelaram que as mortes ligadas ao uso excessivo de álcool aumentaram de forma alarmante durante a pandemia, com mais de 49.000 falecimentos em 2020 devido a essa causa. No auge da crise sanitária, situavam-se em média cerca de 488 mortes por dia relacionadas ao consumo excessivo. De 2016-2017 a 2020-2021, a taxa de mortes relacionadas ao álcool cresceu mais de 29%. Essa realidade impactante e os dados subjacentes reforçam a necessidade urgente de intervenções eficazes e políticas públicas para conter essa onda de consumo abusivo.

Os especialistas, incluindo Lee e Chhatwal, defendem que a conscientização sobre os perigos do consumo excessivo precisa ser ampliada. Sugestões incluem aumentos significativos na tributação de bebidas alcoólicas e restrições quanto aos horários de venda, para diminuir o acesso. “A comunicação sobre os efeitos prejudiciais do álcool deve ser visível e contínua, tanto para médicos quanto para seus pacientes”, sublinhou Lee. Ele argumenta que o álcool é um fator relevante em mais de 200 doenças, incluindo doenças cardíacas e câncer, o que demonstra a complexidade e gravidade da situação.

Assim, o cenário apresentado pelo estudo vai além de números frios e se traduz em histórias reais de vida, perda e a busca por soluções que possam fazer a diferença. É fundamental que a sociedade se mobilize para tratar não somente da questão do consumo, mas também da criação de um ambiente mais saudável, onde as pessoas possam encontrar alternativas viáveis ao uso de álcool e, mesmo em tempos difíceis, cuidar da própria saúde mental e física de maneira efetiva.

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