A recente transformação de Hong Kong em um centro de lavagem de dinheiro e evasão de sanções é o tema de preocupação crescente entre legisladores dos Estados Unidos. De acordo com um grupo bipartidário de líderes da Câmara, a intensidade com que Pequim controla a região levantou sérias questões sobre a continuidade do relacionamento econômico que os Estados Unidos mantêm com essa importante praça financeira asiática. A avaliação desses legisladores é baseada em um contexto que se agravou desde a imposição, em 2020, de uma rígida lei de segurança nacional que alterou significativamente o panorama econômico e político da cidade, transformando-a de um respeitado centro financeiro global para um ator crucial nas operações ilícitas de regimes autoritários.
No início da semana, esses líderes enviaram uma carta à secretária do Tesouro dos Estados Unidos, Janet Yellen, solicitando um exame mais rigoroso da vital indústria financeira de Hong Kong. Este setor é responsável por uma parte considerável da economia da região e possui uma presença significativa de grandes bancos americanos. A situação se torna ainda mais alarmante quando se considera que a contribuição do setor financeiro para o PIB da cidade supera um quinto do total, conforme indicam dados do comércio e da economia local.
Hong Kong, segundo os legisladores, emergiu como um “líder global” em práticas ilícitas. Entre as atividades englobadas, destaca-se a exportação de tecnologia controlada para a Rússia, a formação de empresas de fachada para aquisição de petróleo iraniano e a gestão de “navios fantasma” que operam no comércio ilegal com a Coreia do Norte. A gravidade desta questão se torna evidente à medida que os analistas notam que as operações ilícitas da cidade servem não apenas a interesses locais, mas também se conectam com redes globais que ameaçam a segurança internacional.
Desde a implementação da lei de segurança nacional pela China, Hong Kong passou a ser visto como um aliado crítico do eixo autoritário composto pela China, Rússia, Irã e Coreia do Norte. Diante desse cenário, os legisladores americanos estão questionando a eficácia das políticas históricas dos Estados Unidos em relação a Hong Kong, especialmente no tocante a seu setor financeiro e bancário, o que implica em um potencial desvio das relações desta antiga colônia britânica com os valores ocidentais.
A nova postura dos Estados Unidos não é mera retórica. Ela se traduz em ações concretas, como a anulação em 2020 pelo então presidente Donald Trump do tratamento especial que Hong Kong gozava sob a legislação americana. Essa revogação foi uma reação direta àquelas que foram vistas como medidas repressivas implementadas por Pequim, resultando em uma crescente pressão sobre empresas baseadas na cidade que foram alvos de sanções por suposta violação das normas internacionais, especialmente as que dizem respeito a medidas contra a Rússia ligadas à invasão da Ucrânia.
As estatísticas revelam que, entre agosto e dezembro de 2023, uma quantidade alarmante de cerca de 40% dos produtos enviados de Hong Kong para a Rússia foram identificados como itens de alta prioridade, possivelmente contribuindo para o fortalecimento do arsenal militar russo, incluindo foguetes e aeronaves. Essa revelação lança novos desafios na avaliação do impacto que as decisões políticas de Hong Kong têm nas relações comerciais globais.
Os legisladores também expressam a necessidade de uma atualização na abordagem americana em relação ao sistema bancário de Hong Kong. O comitê que enviou a carta solicitou uma atualização sobre como as políticas foram adaptadas em resposta às mudanças no status da cidade e quais medidas o Tesouro planeja implementar para mitigar os riscos associados a esse novo cenário. Este apelo é um claro sinal da crescente pressão por uma resposta mais assertiva contra o que está sendo considerado uma deterioração da integridade financeira de um dos principais centros financeiros do mundo.
A assembleia dos legisladores destaca a crescente vigilância sobre Hong Kong no contexto da rivalidade entre as grandes potências. Essa preocupação se intensifica com a possibilidade de retorno de Trump à presidência, que traria consigo uma equipe repleta de críticos da China, com propostas que ameaçam endurecer ainda mais a posição dos Estados Unidos em relação a Hong Kong e suas operações financeiras.
Por fim, a mensagem que os legisladores transmitem é clara: a visão de Hong Kong como um espaço autônomo em relação à China está se tornando uma ilusão, e as empresas dos Estados Unidos devem estar cientes de que suas operações na cidade provavelmente estarão sob um exame rigoroso e constante. Esta mudança de paradigma não apenas altera a dinâmica de negócios, mas também reflete um novo e complexo cenário geopolítico que desafia a noção de regiões seguras para investimentos em um mundo cada vez mais interconectado.