Ex-presidente reafirma medidas tarifárias em meio à corrida eleitoral de 2024
No contexto da corrida eleitoral de 2024, o ex-presidente Donald Trump foi entrevistado na última terça-feira pela Bloomberg, durante um evento no Economic Club de Chicago. Nesta ocasião, ele reiterou a proposta de implementar tarifas históricas como um método para impulsionar o setor de manufatura nos Estados Unidos, argumentando que os países estrangeiros arcarão com esses custos. Essa reivindicação, no entanto, ignora um conceito fundamental de economia: tarifas são, na essência, impostos pagos pelos próprios americanos. Tal afirmação torna-se ainda mais relevante na medida em que a economia assume um papel central na disputa eleitoral atual, lembrando aos eleitores que o peso financeiro recai sobre os consumidores e não sobre os países exportadores, como frequentemente insinuado por Trump.
Tarifas como uma estratégia de aumento de impostos com consequências diretas para os consumidores
Em uma análise simplista, quando o governo dos EUA opta por impor uma tarifa sobre produtos chineses, os custos resultantes dessa taxação não são absorvidos pelos exportadores, mas sim pelas empresas americanas que realizam a importação. Para que essas empresas mantenham sua viabilidade econômica, o custo adicional geralmente é transferido para os consumidores na forma de aumento de preços. Um exemplo claro disso pode ser observado na contínua discussão sobre as tarifas impostas por Trump, que, segundo relatórios e estudos, já onera significativamente os consumidores americanos. Após a imposição de tarifas sobre produtos chineses, famílias de classe média enfrentaram uma alta nos preços, estimada pela Peterson Institute for International Economics em mais de R$ 13 mil por ano.
A situação se torna ainda mais confusa para muitos, como demonstrado em um vídeo recentemente viralizado no TikTok. Nele, o podcaster Sean Kelly expressou sua perplexidade ao descobrir que as tarifas não eram pagas por países como a China, mas sim pelos consumidores americanos. Essa confusão não é um caso isolado, visto que economistas de diversas correntes políticas questionam o impacto prático das tarifas sobre a economia americana. A situação se complica ainda mais com a insistência de Trump em que suas políticas tarifárias protegeriam as empresas americanas existentes ao mesmo tempo em que estimulavam a criação de novas empresas no país.
Propostas de novas tarifas e seus potenciais efeitos sobre a economia
Durante sua apresentação no Economic Club, Trump expressou um otimismo impressionante em relação às tarifas, descrevendo-as como a “palavra mais bonita” do dicionário. No entanto, essa visão é questionada por especialistas que argumentam que a matemática é simples: os EUA importam anualmente cerca de R$ 15 trilhões em bens, e o acesso a preços relativamente baixos é possível graças ao comércio livre. A introdução de tarifas em grande escala, prevista nas propostas de Trump, poderia acentuar a inflação, elevando os preços e reduzindo o poder de compra da população. Vale lembrar que, ao longo dos últimos anos, tanto o governo Trump quanto o atual governo Biden mantiveram e até expandiram tarifas em determinados setores, exacerbando o fardo sobre os consumidores.
Se Trump voltar a assumir a presidência, suas intenções de aplicar tarifas que podem ultrapassar os 20% para produtos importados de forma geral e até 60% para importações específicas da China podem ter um efeito devastador sobre a estrutura econômica dos EUA. Economistas, como Scott Lincicome do Cato Institute, ressaltam que embora haja contextos legítimos para tarifas, como segurança nacional, elas geralmente são ineficientes e impactam de maneira desproporcional os grupos de menor renda. Considerando que famílias de classe média poderiam perder uma parte significativa de sua renda devido a essa políticas, a urgência em debater esses conceitos se torna evidente.
A resposta política e as implicações para o futuro econômico dos Estados Unidos
Enquanto isso, Kamala Harris, vice-presidente, descreveu as tarifas como um “imposto sobre as vendas para o povo americano”, embora não tenha se posicionado de forma clara sobre a continuidade das restrições comerciais implementadas anteriormente. O entendimento comum entre os economistas é que, independentemente da intenção de Trump, as tarifas resultam em um aumento de preços e respostas retaliatórias por parte dos parceiros comerciais dos EUA. Barrett Kelly, estrategista da JPMorgan, ilustra essa dicotomia com uma analogia contundente, afirmando que a mentalidade associada às tarifas se assemelha ao comportamento de uma criança que provoca outra e espera não ser revida.
Assim, a narrativa de Trump em torno das tarifas não apenas falha em refletir a realidade econômica, mas também levanta questões sérias sobre a estabilidade e o crescimento econômico a longo prazo dos Estados Unidos. Com a competição global acirrada e a necessidade de construir uma base econômica sólida, o debate sobre as tarifas e sua implementação precisa ser abordado com seriedade, considerando não apenas as palavras, mas as consequências diretas que tais políticas podem ter sobre os cidadãos americanos.