Se você planeja viajar neste período de festas e já está sentindo que os aviões estão mais lotados, enquanto seu orçamento fica cada vez mais apertado, saiba que existe uma razão para isso. As companhias aéreas estão operando com um nível de ocupação recorde, o que tem gerado um reflexo natural nas tarifas, promovendo um cenário que muitos viajantes não esperavam.
Com uma previsão de que cerca de 31 milhões de passageiros utilizem as companhias aéreas dos Estados Unidos na próxima semana, segundo o grupo de comércio Airlines for America, fica evidente que o aumento na demanda não está sendo acompanhado de um crescimento correspondente na oferta de voos e assentos disponíveis. Portanto, o que temos é uma combinação de alta demanda e uma oferta limitada, resultando em preços mais altos para os passageiros. Esse problema não é novo, mas sim uma tendência que se estende por décadas: a capacidade disponível para os voos não tem acompanhado o aumento da demanda, dada a necessidade de mais assentos para um número crescente de passageiros.
Para se ter uma ideia, no ano de 2003, a taxa de ocupação média dos assentos nos aviões era de 74%. Hoje, esse número subiu para impressionantes 84% apenas nos primeiros dez meses de 2023. E com meses tipicamente movimentados se aproximando, é bem possível que um novo recorde de ocupação seja atingido. Os feriados como a semana de Ação de Graças, por exemplo, sempre marcam um dos períodos mais movimentados do ano, e a cheia notável de passageiros não surpreende. Contudo, até os períodos de férias mais lentos apresentam uma taxa de ocupação maior do que no passado. Em janeiro deste ano, um dos meses mais tranquilos para as companhias aéreas, 79% dos assentos estavam ocupados, comparado a apenas 69% em janeiro de 2004. Essa tendência continua a pressionar os preços para cima.
O Índice de Preços ao Consumidor, que mede a inflação, aponta que as tarifas aéreas subiram mais de 10% entre julho e outubro, considerando fatores sazonais. Embora as companhias aéreas estejam sinalizando que os preços devem continuar a aumentar, principalmente à luz das dificuldades financeiras enfrentadas por algumas companhias aéreas de baixo custo, a redução de suas operações acaba pressionando ainda mais a situação. Historicamente, essas empresas mais baratas têm o efeito de manter as tarifas sob controle, mas agora, com cortes em suas capacidades, menos opções estão disponíveis para os consumidores.
O impacto da redução das operadoras de baixo custo
Recentemente, a Spirit Airlines anunciou sua falência e, como parte de suas medidas de contenção de custos, cortou quase 10% de seus voos em comparação ao mesmo período do ano anterior. Essa redução não só impactou sua capacidade total, que caiu 16%, mas também o preço das passagens. O preço médio de uma passagem de ida e volta na Spirit é de $136, o que é 61% inferior à média da indústria nos Estados Unidos. Este é um dado interessante: ao oferecer tarifas básicas, sem frufrus, a empresa gerou uma resposta do mercado, fazendo com que grandes companhias aéreas reservassem assentos para um equivalente de “economia básica” em seus voos. Com menos voos da Spirit, as grandes operadores também estão reduzindo suas opções de assentos mais baratos.
A Southwest Airlines, conhecida por sua vasta malha aérea, também anunciou uma diminuição de 4% em seus voos durante o período de férias. Além disso, a companhia está introduzindo novas opções de assentos com mais espaço para as pernas, que chegam a custar mais. Por sua vez, a JetBlue Airways, que enfrentou dificuldades após a rejeição da fusão com a Spirit, também cortou 4% de seus voos neste feriado. Ao longo do ano, a JetBlue viu uma diminuição de 10% na sua capacidade total. A diminuição das operações de companhias aéreas de baixo custo provoca um aumento significativo nas tarifas, como destaca Scott Keyes, fundador do site deixado em tons de cinza Going.com, ressaltando que quando essas companhias reduzem suas operações, o impacto é bastante significativo.
As grandes companhias aéreas têm se mostrado bastante hábeis na cobrança de tarifas extras, como por exemplo, por assentos preferenciais. Recentemente, um relatório do Senado revelou que companhias como a American, Delta, United, Spirit, e Frontier arrecadaram impressionantes $12 bilhões entre 2018 e 2023 em tarifas adicionais, apenas relacionadas a assentos preferenciais. Com a redução na concorrência proporcionada pela retirada de companhias aéreas de baixo custo no mercado, as grandes operadoras estão aumentando suas tarifas e, consequentemente, seus lucros.
Embora executivos de empresas como a United Airlines compartilhem otimismo com a redução da competição, isto é visto como uma faca de dois gumes. Alguns críticos defendem que os maiores culpados pelas altas tarifas não são os cortes de assentos por companhias de baixo custo, mas sim a consolidação excessiva da indústria que leva a um aperto na capacidade de oferta e demanda. Nos últimos 25 anos, 11 companhias aéreas se fundiram em quatro grandes operadoras que agora controlam cerca de 80% do tráfego aéreo dos Estados Unidos, o que tem contribuído significativamente para essa disparidade.
Para finalizar, especialistas apontam que quando a capacidade é escassa, a oferta de assentos diminui e as tarifas aumentam. William McGee, especialista em economia de transporte, explica que “tarifas e capacidade andam lado a lado” e que as altas tarifas são um reflexo direto da capacidade apertada no mercado. Mesmo que os consumidores percebam a falta de opções, as companhias aéreas continuam a buscar maneiras de maximizar seus lucros, ajustando seus preços e estratégias de venda conforme necessário.
Portanto, em tempos como este, não é apenas a sua imaginação que faz com que os aviões pareçam mais cheios: eles estão, de fato, mais lotados, e cada vez mais caros. O que resta é ajustar o cinto ao lado da aeronave e torcer para que a sua viagem faça valer cada centavo.