A ressurreição da Victoria’s Secret Fashion Show, após um hiato de seis anos, ocorreu em Brooklyn e trouxe uma mensagem poderosa e clara: o futuro da marca de lingerie será moldado por perspectivas femininas. A troca de protagonistas na narrativa da beleza e da moda foi um tema central durante a apresentação, apresentando um elenco de modelos que não apenas rompem com os estereótipos tradicionais, mas também personificam a diversidade e a inclusão. O evento, que se destacou pelo protagonismo feminino, foi pontuado por uma produção que contou com um line-up musical inteiramente formado por mulheres e apresentou modelos vestindo peças que refletiam tanto sofisticação quanto conforto, com itens que incluíam leggings e sobreposições transparentes.

Uma Nova Era: Composição e Estilo da Apresentação

O evento teve início com uma performance vibrante de Lisa, do supergrupo de K-pop Blackpink, seguida pela ascensão de Gigi Hadid a partir do chão do palco, que evocava uma estética que mesclava o set do filme “Barbie” com elementos de videogames dos anos 80. Hadid e outros modelos desfilaram com as tradicionais asas de anjo da marca, que, neste ano, eram versões de penas sintéticas aprovadas pela PETA. Esta escolha reflete uma crescente preocupação da marca em alinhar-se às expectativas éticas e ambientais contemporâneas. Um dos aspectos mais notáveis desta edição foi a notável diversidade racial e de corpos no desfile, que incorporou mais rostos não brancos do que em qualquer outro momento na história da marca, além de apresentar modelos de tamanhos variados e idades diferentes.

Adriana Lima, uma das primeiras “Angels” da Victoria’s Secret, fez uma aparição marcante ao lado de algumas das modelos mais cobiçadas de hoje, como Bella Hadid e Paloma Elsesser. Neste contexto, a icônica Kate Moss, ao fazer sua estreia na Victoria’s Secret Fashion Show aos 50 anos, fez com que o evento se tornasse ainda mais memorável, principalmente com sua filha, Lila, também desfilando. O momento que roubou a cena foi a performance de Cher, que fez história ao cantar seus sucessos “Believe” e “Strong Enough”, deixando a plateia extasiada. A presença de Cher foi tão impactante que, segundo a jornalista de moda Roxanne Robinson, “os modelos poderiam estar nus, e ninguém teria notado”. Essa afirmação encapsula a força da performance e a celebração do empoderamento feminino em um ambiente que já foi criticado por sua superficialidade.

A Reinvenção da Marca: Da Superexposição à Inclusão

Por muitas décadas, a Victoria’s Secret se autoproclamou como a guardiã da sensualidade, tornando-se um ícone cultural americano nos anos 90. Com produtos como o “Milagre” pushup bra, a marca definiu um padrão de feminilidade que era fundamentalmente ligado à imagem de supermodelos quase desnudas em catálogos e campanhas publicitárias, culminando em um espetáculo de lingerie que, na sua apogeu, atraía milhões de espectadores em todo o mundo. Contudo, essa fórmula clássica começou a perder seu apelo a partir do final da década de 2010, quando a marca se viu cercada por acusações de sexismo, ageísmo e falta de inclusão. A controversa declaração de um executivo de marketing, em 2018, que desdenhou das modelos trans e plus-size, selou o destino de um formato que já não atendia mais à evolução do gosto popular.

Em 2019, a Victoria’s Secret cancelou o desfile indefinidamente, mas no ano anterior à retomada, a marca lançou um documentário intitulado “Victoria’s Secret: The Tour”. Essa produção destacou quatro coleções de designers independentes de diversas partes do mundo, tentando assim voltar aos holofotes, embora tenha falhado em reconquistar o público no formato tradicional. A resposta do público ao rebranding da marca tem sido misturada, com alguns críticos alegando que os esforços pela inclusão parecem superficiais. O diretor criativo, Janie Schaffer, reconheceu que a apresentação estava, de fato, buscando remediar a percepção negativa que tem cercado a marca desde 2019.

A Nova Federação Na Passarela e a Descida do Precipício Nas Vendas

A introdução de um elenco multiétnico e de tamanhos variados na passarela, junto com a performance de celebridades respeitadas, representa um esforço rigoroso da marca para mudar a narrativa preponderante de anos anteriores. Ashley Graham, uma modelo plus-size que é um defensor de positividade corporal, fez sua estreia no evento e expressou entusiasmo pela “total representação” que observou. Em contrapartida, a história da empresa não é destituída de polêmicas, pois suas imagens frequentemente refletiam padrões de beleza que não mais ressoam com as novas gerações. Desde a sua fundação, a marca, que hoje fiscaliza uma imagem muito mais crítica sobre a sensualidade e o que significa ser uma “Angel”, enfrenta o contínuo desafio de reconquistar a relevância em um mercado que se diversificou de maneira explosiva.

A história da Victoria’s Secret, que gerou $1 bilhão em receitas anuais na década de 90, está marcada por uma ascensão meteórica que se transformou em uma queda acentuada, culminando em um descolamento do seu valor de mercado de $28 bilhões para apenas $1,1 bilhão em um período de apenas cinco anos. O desejo de resgatar a marca e torná-la relevante novamente no imaginário coletivo é um desafio colossal, uma vez que a individualidade e a diversidade cultural tornaram-se valores centrais no panorama da moda contemporânea. Olhando para frente, a indagação que paira no ar é se a Victoria’s Secret conseguirá se reinventar a ponto de retornar ao ápice de sua popularidade ou se continuará a ser um espectador no panorama da moda global cada vez mais segmentado.

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