A confirmação de Scott Turner como secretário do Departamento de Habitação e Desenvolvimento Urbano (HUD) poderá ter implicações significativas para a política habitacional americana em um contexto em que a acessibilidade à moradia se tornou um tema central. Se o Senado ratificar sua nomeação, ele assumirá o controle da maior agência habitacional do país em um momento crítico, uma vez que as necessidades de moradia acessível dos cidadãos estão em destaque total. A crise de moradia nos Estados Unidos exige não apenas atenção, mas ações efetivas, e é exatamente neste cenário desafiador que Turner precisará se posicionar ao lado das demandas crescentes por moradia acessível.
A administração de Donald Trump, conhecida por suas promessas de cortes severos no orçamento governamental, levanta preocupações sobre a possibilidade de que o financiamento destinado ao HUD possa ser afetado. A agência é responsável por fornecer assistência a inquilinos de baixa renda, administrar seguros hipotecários para novos proprietários e aplicar leis de habitação justa, funções fundamentais que afetam diretamente milhões de cidadãos. Com a crescente pressão para reduzir gastos públicos, muitos especialistas da indústria compartilham a apreensão de que as verbas alocadas para a habitação e o desenvolvimento urbano podem ser drasticamente reduzidas, comprometendo a missão do HUD em promover um acesso equitativo à moradia.
Bob Greenstein, um pesquisador visitante em estudos econômicos no Brookings Institution, expressou sua preocupação sobre a escassez de habitação acessível e o aumento do aluguel, que afetam principalmente as famílias de baixa renda que vivem com um orçamento apertado. Ele destaca que, em meio a pressões orçamentárias e a intenção de realizar cortes significativos, as consequências de tais decisões recairão sobre os mais vulneráveis, exacerbando a crise habitacional no país.
As principais associações da indústria habitacional dos Estados Unidos se mostraram esperançosas quanto à nomeação de Turner. Turner, um ex-jogador da NFL que colaborou estreitamente com o ex-secretário do HUD, Ben Carson, durante o primeiro mandato de Trump, é visto como alguém que pode potencialmente trabalhar em parceria com o setor para melhorar a acessibilidade da habitação. Carl Harris, presidente da National Association of Home Builders, afirmou que a organização está pronta para colaborar com Turner na redução de regulamentações que possam estar dificultando o acesso à habitação.
A disposição dos construtores de casas em colaborar foi reiterada por Harris, que destacou que a indústria está pronta para unir esforços junto ao HUD para reverter regulamentações onerosas e implementar políticas que garantam oportunidades de posse de casa e aluguel acessíveis para todos os americanos. O presidente e CEO da Mortgage Bankers Association, Bob Broeksmit, ecoou essas preocupações, enfatizando que é crucial que a liderança do HUD priorize iniciativas que abordem a crise da acessibilidade habitacional, em um momento que poderia definir a vida de muitos cidadãos americanos.
Desafios de um novo mandato e potenciais cortes no orçamento do HUD
A iminente confirmação de Turner ocorre em um panorama no qual os aluguéis e as compras de imóveis estão se tornando cada vez mais inatingíveis para muitos americanos. Como resultado, uma parcela crescente da população poderá depender dos serviços de habitação acessível oferecidos pelo HUD. Durante o primeiro mandato de Trump, tentativas de implementar cortes significativos no orçamento do HUD foram constantemente apresentadas, embora nenhuma tenha avançado no Congresso. A atual administração reafirma o compromisso com a redução de gastos governamentais, conforme demonstrado pela nomeação de figuras proeminentes, como Elon Musk e Vivek Ramaswamy, para liderar um novo Departamento de Eficiência Governamental, com foco em cortar custos e regulamentações.
Howard Husock, um pesquisador sênior do American Enterprise Institute, sugere que é provável que a pressão sobre o HUD para implementar cortes orçamentários se intensifique no segundo mandato de Trump. Ele alerta que os vouchers de escolha de habitação, conhecidos como vouchers de Seção 8, que ajudam famílias de baixa renda a alugar imóveis privados acessíveis, podem estar entre os principais alvos dessa pressão, visto que constituem a maior parte do orçamento do HUD.
A expansão substancial dos vouchers sob a administração de Biden coloca Turner em uma posição delicada, onde precisará decidir como gerenciar essas mudanças e se será necessário alterar as regras dos vouchers habitacionais. Husock observa que, caso Trump consiga implementar cortes orçamentários significativos, filas de espera mais longas para os vouchers se tornarão inevitáveis.
Contudo, Liz Osborn, vice-presidente de políticas da Enterprise Community Partners, uma organização sem fins lucrativos voltada para o acesso e a acessibilidade da habitação, ressalta que cortes no orçamento do HUD durante o segundo mandato de Trump não são uma certeza definitiva. Ela expressou esperança de que, considerando a necessidade percebida por constituentes em todo o país, haja continuidade no financiamento robusto para programas essenciais no HUD. Enquanto os pedidos de orçamento presidencial sugerem cortes para o departamento, houve, no entanto, aumentos nas apropriações durante o primeiro mandato de Trump.
Turner e o histórico de iniciativas em zonas de oportunidade
Turner atuou como diretor executivo do Conselho de Oportunidade e Revitalização da Casa Branca durante o primeiro mandato de Trump, uma iniciativa que visava revitalizar comunidades em dificuldades dirigindo bilhões de dólares de investimento privado para as chamadas “Zonas de Oportunidade”, como parte da Lei de Cortes de Impostos e Empregos de 2017. A contribuição de Turner foi destacada por Trump, que afirmou que sob sua supervisão, as Zonas de Oportunidade obtiveram mais de 50 bilhões de dólares em investimentos privados.
Com a expiração da legislação de cortes de impostos de 2017 durante o segundo mandato de Trump, se o programa das Zonas de Oportunidade for renovado, é provável que Turner desempenhe um papel crucial em sua implementação. Contudo, uma análise realizada pelo Urban Institute em 2020, financiada pelo JPMorgan Chase, revelou que o programa não estava atingindo plenamente seus objetivos de eficácia. Apesar de algumas evidências de benefícios comunitários, os autores do estudo observaram que a estrutura do incentivo dificulta o desenvolvimento de projetos que atendam às necessidades mais urgentes das comunidades.