Walmart, a maior empregadora privada dos Estados Unidos, anunciou a decisão de reduzir suas iniciativas voltadas para diversidade, equidade e inclusão (DEI). Esta mudança é vista como uma adaptação à crescente pressão de grupos conservadores e representa um retrocesso significativo em um contexto corporativo que, há apenas alguns anos, parecia cada vez mais comprometido com a promoção de ambientes de trabalho diversificados. O impacto dessa decisão não se restringe apenas à empresa, mas tem potencial para ressoar por todo o setor corporativo americano, que vem enfrentando um debate intensificado sobre a importância das políticas de inclusão e diversidade.
No início desta semana, a Walmart declarou que encerrará seus programas de treinamento focados na equidade racial, além de reavaliar outras iniciativas voltadas para aumentar a diversidade entre seus fornecedores. Nos últimos anos, a companhia havia se empenhado em ampliar o número de fornecedores que são, no mínimo, 51% geridos ou de propriedade de mulheres, minorias, veteranos ou pessoas LGBTQ+. No entanto, neste novo cenário, a empresa parece estar reavaliando suas prioridades.
Walmart também está revisando seu financiamento para eventos como o Orgulho e outros que promovem a diversidade, ao mesmo tempo em que monitora seu mercado online em busca de produtos voltados a crianças que abordem temas relacionados à sexualidade ou identidade de gênero. Além disso, a empresa anunciou que não irá prorrogar seu Centro de Equidade Racial, um compromisso filantrópico de cinco anos no valor de US$ 100 milhões, que foi estabelecido em 2020 com o objetivo de abordar as causas das disparidades enfrentadas por americanos afrodescendentes em áreas como educação, saúde e justiça criminal.
As iniciativas de DEI geralmente incluem um conjunto de treinamentos para funcionários, redes de apoio e práticas de recrutamento que buscam fomentar a representação de pessoas de diversas raças, gêneros e origens. Contudo, a decisão da Walmart revela um descompasso em relação a essa tendência em busca de uma maior inclusão, trazendo à tona questionamentos sobre o futuro de tais políticas corporativas.
Ainda não está claro qual será o impacto das mudanças na gigantesca força de trabalho da empresa, que conta com 1,6 milhão de empregados nos Estados Unidos. Segundo os dados mais recentes da companhia, mais de 50% dos colaboradores horistas e 42% da equipe de gestão são pessoas de cor. Esse cenário levanta questões cruciais sobre como a redução dos programas de diversidade poderá afetar a inclusividade e a moral do ambiente de trabalho.
Em um comunicado, a Walmart afirmou: “Estamos dispostos a mudar junto com nossos associados e clientes que representam toda a América. Temos estado em uma jornada e sabemos que não somos perfeitos, mas cada decisão é feita com a intenção de promover um senso de pertencimento.” Essa declaração destaca a complexidade da situação, uma vez que a empresa parece reconhecer a necessidade de adaptação em tempos de polarização.
Ativistas, como Robby Starbuck, que lideraram campanhas de pressão contra as empresas em relação às suas políticas de diversidade, aplaudiram a decisão da Walmart como uma grande vitória. Starbuck, conhecido por sua mobilização online contra iniciativas progressistas, afirmou nas redes sociais que considera essa ação um marco para o movimento que busca reverter o que consideram excessos das políticas de diversidade corporativa. Essa reação indica que a Walmart não está sozinha em sua postura e que outras empresas também podem estar se preparando para seguir um caminho semelhante.
Recuo geral das iniciativas de diversidade nas corporações
Nos últimos dois anos, diversas empresas têm se afastado de suas iniciativas de DEI. Em 2020, um grande aumento nos investimentos em tais programas ocorreu em resposta a protestos por justiça racial, desencadeados pela morte de George Floyd, levando as empresas a gastar aproximadamente US$ 7,5 bilhões com iniciativas relacionadas à diversidade, de acordo com um estudo da McKinsey. No entanto, as pressões legais e políticas, além de reações desfavoráveis do público, têm levado muitas organizações a reavaliar suas abordagens.
Casos recentes, como a parceria da Bud Light com a influenciadora trans Dylan Mulvaney, que resultou em uma atmosfera de protesto e boicote à marca, culminaram em perdas significativas para a empresa, estimadas em até US$ 1,4 bilhão. Essa situação demonstra o quanto as marcas podem estar vulneráveis à resposta pública quando tentam se alinhar a novas demandas sociais e políticas.
Em 2023, uma decisão da Suprema Corte dos EUA definiu que instituições de ensino superior não podem mais considerar a raça ao conceder admissões, o que representa um retrocesso de velhas práticas que beneficiaram estudantes negros e latinos. Desde então, grupos legais conservadores têm apresentado ações contra as iniciativas de diversidade nas empresas, resultando em uma onda de modificações e reavaliações.
A vitória de Donald Trump nas eleições contribuiu para uma aceleração dessa tendência de abandono das políticas de DEI, refletindo uma postura mais conservadora no ambiente corporativo. Especialistas afirmam que o desejo de mudar ou desistir das iniciativas de diversidade já era forte, mas ganhou força com a mudança no cenário político, oferecendo espaço para que empresas que nunca foram realmente comprometidas com a diversidade agora façam uma retirada fácil.
Entretanto, o movimento em direção ao abandono das iniciativas de diversidade pode ter custos a longo prazo para as empresas. Estudos sugerem que iniciativas de DEI podem ser eficazes na redução do atrito entre os funcionários e na melhora do engajamento no ambiente de trabalho. De acordo com uma pesquisa do Boston Consulting Group, com dados que abrangem mais de 27 mil empregados em 16 países, políticas direcionadas à diversidade e inclusão são essenciais para o bem-estar no local de trabalho.
Conforme a situação evolui, ficará evidente que os empregados exigirão cada vez mais que os empregadores sigam comprometidos com esses princípios. Quando a realidade do emprego se transformar e as expectativas dos funcionários se alterarem, as empresas que não se prepararem para essa nova demanda poderão enfrentar desafios significativos na atração e retenção de talentos. Esse é um dilema que as empresas precisarão encarar à medida que o debate sobre diversidade, equidade e inclusão continua a se desenvolver no cenário corporativo.