Desdobramentos no Oriente Médio Colocam Relações EUA-Israel em Ponto de Controvérsia
O Impacto das Ações de Israel nas Eleições Americanas e na Política Global
Washington, CNN – Fontes governamentais norte-americanas indicam que Israel deverá retaliar contra o Irã em resposta ao ataque sofrido no início deste mês, e essa ação pode ocorrer antes do dia 5 de novembro, data da eleição presidencial nos Estados Unidos. A possibilidade de uma escalada no conflito no Oriente Médio, que poderia impactar diretamente o cenário político americano e sua percepção pública, se torna uma preocupação crescente para as autoridades tanto em Israel quanto nos Estados Unidos. O debate sobre o momento e os parâmetros dessa retaliação tem sido intenso dentro do governo israelense, mas, conforme afirmam as fontes, essa situação não está diretamente ligada ao calendário eleitoral dos Estados Unidos.
O primeiro-ministro Benjamin Netanyahu, frequentemente descrito como um político astuto e atento às dinâmicas da política americana, demonstra estar ciente das possíveis repercussões políticas que uma ação militar contra o Irã poderia ter nos Estados Unidos. O crescimento e a complexidade do conflito no Oriente Médio emergem como questões centrais durante a campanha eleitoral norte-americana, refletindo a pressão sobre o presidente Joe Biden e sua vice-presidente, Kamala Harris, oriunda dos setores progressistas que questionam a abordagem do governo em relação à crise humanitária em Gaza e a própria segurança da região. Ao mesmo tempo, as vozes republicanas, incluindo a do ex-presidente Donald Trump, criticam a administração atual por considerar que sua resposta ao desafio geopolítico atual gera caos e instabilidade na região.
À medida que as eleições se aproximam, o governo Biden parece ter adotado uma postura de crescente pressão sobre Israel para que melhore as condições humanitárias em Gaza. Recentemente, uma correspondência reveladora foi enviada pelo secretário de Estado, Antony Blinken, e pelo secretário da Defesa, Lloyd Austin, advertindo que a falha em aumentar a ajuda humanitária a Gaza poderia resultar em uma interrupção da assistência militar dos Estados Unidos a Israel. Contudo, essa carta não foi assinada pelo presidente ou pela vice-presidente, sugerindo uma cautela nas ameaças de corte de ajuda a Israel, mesmo diante das demandas da ala progressista. O prazo para que Israel permita uma maior entrada de ajuda humanitária em Gaza ocorre após as eleições, dando a Netanyahu um espaço para manobras até essa data crítica. Em meio a esse cenário, recursos de defesa aérea americanos avançados chegaram a Israel, o que torna a situação ainda mais delicada em termos de gestão da crise.
A maneira como o conflito se desenrolará nas semanas que antecedem o dia da eleição representa uma das maiores incertezas enfrentadas pelas campanhas presidenciais atuais. Embora a questão do Oriente Médio não seja uma das principais preocupações para grande parte dos eleitores americanos, a crise tem adicionado complexidade à campanha de Harris em Michigan, um estado com uma significativa população de norte-americanos árabes, onde ela se apresentará em busca de fortalecer sua imagem e apoio local. Um ataque militar por parte de Israel poderia desestabilizar ainda mais a corrida eleitoral e complicaria a situação política de Biden e Harris, que já enfrentam dificuldades em diferentes frentes.
Desde o ataque com mísseis por parte do Irã, a administração Biden optou por não desestimular Netanyahu de uma resposta vigorosa, mas, por outro lado, está atenta às potenciais consequências de um conflito regional mais amplo e ao impacto que isso poderia ter nas eleições. Ao mesmo tempo, tanto Biden quanto sua equipe têm trabalhado para promover uma resposta equilibrada e contida a qualquer nova ameaça. Os funcionários do governo têm se mostrado discretos em relação ao cronograma e aos alvos da retaliação israelense, desde que o Irã disparou cerca de 200 mísseis balísticos contra o Estado israelense. Informações de que Netanyahu teria informado Biden sobre a intenção de não atacar locais nucleares ou instalações de petróleo iranianas durante a retaliação despertou alívio no gabinete da Casa Branca, já que esta é uma estratégia que Biden havia defendido publicamente.
A definição de como a resposta israelense se manifestará – se limitada a alvos físicos ou se também envolva guerra cibernética – continua um mistério, mas os Estados Unidos estão monitorando de perto não apenas a contraofensiva de Israel, mas igualmente a reação esperada do Irã, a fim de evitar que um conflito em larga escala irrompa no Oriente Médio. Durante uma coletiva de imprensa, o porta-voz da Casa Branca, John Kirby, expressou que não há dúvida de que os iranianos compreendem a seriedade do compromisso dos Estados Unidos em relação ao direito de Israel à autodefesa. Contudo, ele se absteve de entrar em detalhes sobre a diplomacia envolvida nas tentativas de moldar a resposta israelense ao Irã.
Até o momento, as tentativas da administração Biden de incentivar uma resposta medida têm sido manifestadas publicamente, com o próprio presidente solicitando uma linha de ação ponderada. Em uma conversa telefônica na semana passada, Biden e Netanyahu discutiram de forma direta os planos de resposta ao Irã, com Harris participando da chamada, que foi considerada uma “discussão importante”. Contudo, o sigilo em torno da conversa revelou tensões pré-existentes, uma vez que Biden aparentemente ficou frustrado com a falta de colaboração de Netanyahu para buscar um cessar-fogo no conflito. Este cenário levanta preocupações sobre como as decisões relacionadas à segurança nacional de Israel podem ser influenciadas, especialmente considerando a conivência de Netanyahu com a onda de apoio a Trump, que pode estar buscando capitalizar sobre a instabilidade atual nas semanas que antecedem a eleição.
Por fim, apesar de até此 momento o presidente Biden não ter ameaçado condicionar a assistência americana a Israel em relação às condições humanitárias, a carta enviada por Blinken e Austin representa um ponto de virada, em que a atenção dos Estados Unidos à situação humanitária em Gaza é claramente enfatizada. A correspondência, que busca urgência e ações sustentadas por parte do governo israelense, delineia diversos critérios que precisam ser atendidos para reverter a trajetória negativa, incluindo a entrada de pelo menos 350 caminhões de ajuda diariamente em Gaza. Embora não tenha sido assinada por Biden, a mensagem reflete o envolvimento do presidente e sua preocupação com as condições humanitárias na região, conforme expresso por auxiliares da Casa Branca.