Uma galáxia distante com características surpreendentes semelhante à Via Láctea é identificada
A comunidade científica foi recentemente surpreendida por uma descoberta que pode reverberar no campo da astrofísica e na nossa compreensão sobre a formação de galáxias. Um grupo de pesquisadores da Universidade de Leiden, na Holanda, identificou uma galáxia em disco distante, chamada REBELS-25, que apresenta características extraordinariamente semelhantes à Via Láctea, desafiando as teorias consolidadas sobre a evolução das galáxias ao longo do tempo. Publicada em um estudo de 7 de outubro, a pesquisa lança uma nova luz sobre como as galáxias são formadas e como se desenvolvem a partir de suas fases iniciais. O que torna essa descoberta particularmente intrigante é que a galáxia é muito mais jovem que a nossa, possuindo cerca de 700 milhões de anos, um período que, em termos cosmológicos, é considerado pouco tempo para o desenvolvimento de uma estrutura tão ordenada.
Características e implicações da galáxia REBELS-25
A pesquisa revelou que a REBELS-25 exibe uma rotação e estrutura que são bastante semelhantes às da Via Láctea, contrastando com a aparência desordenada e caótica de outras galáxias mais antigas. De acordo com Jacqueline Hodge, uma das astrônomas envolvidas na pesquisa, a expectativa inicial dos cientistas era que a maioria das galáxias jovens apresentasse uma aparência mais “bagunçada”. O conceito tradicional sugere que as galáxias emergem inicialmente de forma irregular e que, ao longo de bilhões de anos, elas se unem e se tornam mais ordenadas. Hodge enfatizou que a observação de uma galáxia desta magnitude e com tal grau de organização altera fundamentalmente a nossa compreensão sobre a rapidez com que as galáxias evoluem desde suas formações iniciais até se tornarem as galáxias ordenadas que observamos atualmente.
A luz emitida pela REBELS-25 alcançou a Terra apenas cerca de 700 milhões de anos após o Big Bang, ocorrido há aproximadamente 13,8 bilhões de anos. A possibilidade de uma galáxia ter atingido um estado tão ordenado em um período tão curto intriga os pesquisadores, levando a questionamentos sobre a rapidez e os métodos de formação das galáxias no universo primitivo. A utilização do Atacama Large Millimeter/submillimeter Array (ALMA), um observatório localizado no norte do Chile, foi fundamental para a identificação da rotação e estrutura da REBELS-25. Observações adicionais estão sendo planejadas para investigar a presença de características ainda mais desenvolvidas, como braços espirais, que poderiam confirmar a complexidade da galáxia.
Desafios e incertezas na pesquisa
Apesar das suas semelhanças com a Via Láctea, a REBELS-25 é considerada uma “galáxia incomum”, segundo Andrew Blain, professor de astrofísica da Universidade de Leicester, que não participou do estudo. Ele argumenta que, embora a descoberta seja intrigante, não representa uma revolução nas nossas teorias. Blain ressaltou a importância do ALMA nessa pesquisa, afirmando que, sem a utilização dessa tecnologia, seria quase impossível identificar uma galáxia como a REBELS-25, devido à sua luminosidade reduzida e à falta de um conjunto de candidatos de tamanho suficiente para serem analisados. Por isso, afirma que mais estudos são necessários para que a comunidade científica possa rever suas teorias sobre a formação de galáxias.
Dave Clements, especialista em astrofísica do Imperial College London, também expressou surpresa ao encontrar uma galáxia como a REBELS-25. Segundo ele, a teoria atual sugere que o universo naquela época era significativamente mais caótico, com interações de galáxias e fusões que certamente afetariam as estruturas frágeis de discos galácticos. A aparência ordenada da REBELS-25 levanta questões sobre se esta galáxia teve uma “vida pacífica” até os nossos dias ou se as nossas pressuposições sobre o desenvolvimento inicial das galáxias precisam ser revistas. Os pesquisadores ainda não têm respostas definitivas sobre esses questionamentos complexos.
Por fim, os resultados da pesquisa já foram aceitos para publicação na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, embora ainda estejam disponíveis como um preprint, um tipo de artigo científico que não passou pelo processo formal de revisão por pares. Essa nova descoberta nos convida a refletir e reavaliar não apenas o que sabemos sobre a Via Láctea, mas também sobre a complexidade e a variedade das galáxias que compõem o nosso cosmos, instigando um debate sobre como e quando as galáxias se tornam tão organizadas e o que isso implica para nossa compreensão do universo em sua totalidade.