O presidente da Ucrânia, Volodymyr Zelensky, fez a apresentação oficial de seu amplamente aguardado “Plano de Vitória” diante do parlamento ucraniano na última quarta-feira, em um contexto de crescente frustração pela falta de apoio concreto de aliados europeus durante encontros recentes. O plano, que contempla cinco pontos principais e três outros “secretos”, discutidos apenas com alguns parceiros, visa estabelecer um caminho para futuras negociações de paz com a Rússia. Zelensky enfatizou que o objetivo é fortalecer a posição da Ucrânia o suficiente para buscar um término das hostilidades que assolam a nação desde 2022.
No centro da proposta de Zelensky está o desejo expresso pela inclusão da Ucrânia na Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), um passo que antecederia a adesão plena ao bloco. Essa ambição encontra resistência, uma vez que os aliados têm demonstrado cautela em relação a um convite formal, considerando que a Ucrânia continua em estado de guerra com a Rússia. Além disso, o plano aponta a necessidade de reforçar a defesa do país, implementar um pacote de dissuasão não nuclear e promover o crescimento econômico da nação, que tem enfrentado desafios significativos em suas infraestruturas e na vida cotidiana de seus cidadãos devido ao conflito em curso.
“Se começarmos a implementar este Plano de Vitória agora, poderemos encerrar a guerra o mais tardar no próximo ano,” declarou Zelensky, em uma súplica tanto para seus legisladores quanto para os apoiadores internacionais da Ucrânia. Contudo, muitos dos elementos presentes no plano já haviam sido discutidos anteriormente por Kiev. O próprio presidente ucraniano apresentou a proposta ao presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, durante uma visita à Casa Branca em setembro, ocasião em que o governo dos EUA anunciou um aumento significativo de assistência à Ucrânia, com um pacote de ajuda de US$ 375 milhões. No entanto, o pedido de Kiev para obter autorização de atacar alvos mais profundos na Rússia não foi atendido, questão que continua a gerar debate intenso.
A preparação do anúncio de Zelensky foi acompanhada por diálogos com líderes de nações como Reino Unido, França, Itália, Alemanha e o secretário geral da OTAN. No entanto, a turnê não conseguiu garantir apoio público para o plano, evidenciando a dificuldade em conseguir unidade entre os parceiros. Por sua vez, o porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, comentou sobre a proposta, afirmando que um verdadeiro plano de paz exigiria que Kiev “se conscientizasse” e percebesse “a futilidade da política que está perseguindo”.
O primeiro ponto do plano de cinco partes refere-se à solicitação de adesão da Ucrânia à OTAN e à União Europeia, alianças que Kiev tem buscado um ingresso há muito tempo. O segundo ponto destaca a necessidade de fortalecer a defesa nacional, ao sugerir melhorias nos sistemas de defesa aérea e reiterar o pedido para que aliados flexibilizem as restrições ao uso de mísseis de longo alcance. O contexto que envolve esses pedidos é a contínua ofensiva russa, com alegações de avanços incrementais na região de Donetsk e ataques frequentes a cidades ucranianas usando drones e mísseis.
Além disso, Zelensky ressaltou a importância de operações de defesa conjunta com países vizinhos da Europa para interceptar mísseis e drones russos que entram nos limites da proteção aérea fornecida por esses parceiros. No entanto, o ex-secretário-geral da OTAN, Jens Stoltenberg, já havia se mostrado contrário a essa ideia, afirmando que a aliança não participaria do conflito armado. A proposta do plano também abrange a manutenção das operações da Ucrânia na região de Kursk, na Rússia, que analistas apontam como um importante ativo nas negociações de Kiev, já que a Ucrânia rejeita qualquer sugestão de ceder seu território.
O presidente Zelensky reiterou que a Ucrânia não aceitará um “congelamento” do conflito nem concessões que envolvam “trocas de território ou soberania”. O Kremlin continua a buscar a captura da região de Donetsk, o que intensifica ainda mais as tensões. Em sua apresentação, Zelensky sublinhou que a palavra “negociações” é frequentemente mencionada por seus parceiros, enquanto o termo “justiça” é considerado muito menos utilizado. “Estamos abertos à diplomacia, mas à diplomacia honesta,” afirmou o líder, argumentando que a fórmula de paz proposta representa uma garantia de negociações que não forçam a Ucrânia a aceitar injustiças.
O plano também inclui uma proposta inovadora para a implementação de um “pacote de dissuasão estratégica não nuclear em seu território”, que o presidente considera essencial para proteger a Ucrânia de qualquer ameaça militar da Rússia. Esta abordagem revela a intenção de que a Ucrânia possua uma capacidade de defesa robusta, que obrigue a Rússia a “ingressar em um processo diplomático honesto para colocar fim à guerra de maneira justa”, caso contrário, a nação invasora estaria condenada a perder o conflito. Embora Zelensky não tenha fornecido muitos detalhes sobre como funcionaria, na prática, um sistema de dissuasão não nuclear, a intenção de proporcionar segurança e autonomia à Ucrânia foi claramente expressa.
Os últimos pilares do plano de Zelensky visam expandir o potencial econômico da Ucrânia e construir um plano para o pós-guerra. O presidente argumentou que a força e a experiência das forças armadas ucranianas poderiam ser utilizadas para fortalecer a defesa europeia após o conflito, eventualmente substituindo certas tropas dos EUA no continente europeu. O “Plano de Vitória” de Zelensky, apesar dos desafios e da falta de garantias concretas, simboliza a determinação da Ucrânia em buscar um futuro mais seguro e próspero, enquanto continua a enfrentar um dos conflitos mais desafiadores da era contemporânea.