A perspectiva de uma nova era de políticas comerciais agressivas nos Estados Unidos já começou a se delinear com a postura do presidente eleito Donald Trump, que mesmo antes de assumir oficialmente o cargo já demonstra firmeza em suas intenções de provocar uma revisão das relações comerciais do país com seus vizinhos e adversários históricos. O redirecionamento do foco de sua administração em relação à imigração e ao comércio, sob a promessa de taxas de importação elevadas, foi apresentado como um método para coagir outros países a se sentarem à mesa de negociações.
Numa declaração emblemática, Trump, ao que parece, pretende implementar uma série de aumentos nas tarifas que as empresas americanas devem pagar sobre produtos importados de países como México, Canadá e China a partir do seu primeiro dia de governo, caso esses países não acatem suas exigências para reprimir a migração e a entrada de drogas nos Estados Unidos. Essa estratégia de utilização de tarifas como uma ferramenta de negociação não é novidade para o ex-presidente, que acredita que um tratamento semelhante fez parte do seu sucesso durante seu primeiro mandato na presidência.
De acordo com um oficial de transição, a intenção é clara: “Por que não? Sem surpresas. Sabemos que isso funciona.” Essa afirmação evoca os métodos utilizados durante os primeiros quatro anos de Trump, quando uma abordagem agressiva e muitas vezes dispersa em relação à América Latina resultou em consequências tangíveis, incluindo sanções e ameaças de tarifas. A administração anterior do presidente também experimentou uma série de tensões comerciais que culminaram em um cenário de transações turbulentas, levando a negociações fortuitas.
No entanto, apesar da assertividade da estratégia, especialista em economia indicam que as propostas de Trump podem levar a um aumento da inflação nos Estados Unidos. Uma análise do Goldman Sachs sugere que os aumentos tarifários propostos por Trump poderiam elevar o índice de gastos com consumo pessoal em até 0,9%, impactando diretamente o cotidiano dos consumidores e os preços de produtos essenciais como sapatos, alerta Matt Priest, presidente de uma associação do setor de calçados.
É interessante observar que a lógica de ameaça tarifária se baseia na premissa de que ações semelhantes foram eficazes anteriormente. Na realidade, em 2019, o uso de tarifas como instrumento de coerção resultou na mudança das políticas de imigração do México, que se comprometeu a expandir as disposições do programa “Permanecer no México”, tecnologias de controle de imigração que exigem que os migrantes permaneçam no México enquanto aguardam seus processos imigratórios nos Estados Unidos. Essa manobra foi facilitada pela rápida resposta de um grupo de oficiais mexicanos que se dirigiu a Washington para discutir urgentemente termos que resultassem no recuo das tarifas anteriormente propostas.
A constante vibração sobre o comércio internacional se intensifica à medida que despachos comerciais de longa data e acordos preexistentes se tornam pontos de tensão. O recente anúncio de Trump se assemelha a medidas adotadas durante sua presidência, onde frequentemente as tarifas serviram como uma tática inicial nas conversações de negócios e acordos com países vizinhos. Se as conversações sobre comércio não forem satisfatórias, há uma notável possibilidade de ações legais serem levadas à frente por associações empresariais que alegam que as tarifas não são uma resposta viável para problemas não comerciais.
As reações de líderes de outros países foram bastante diretas e contundentes. A presidente do México, Claudia Sheinbaum, enfatizou em uma recente coletiva de imprensa a ineficácia das ameaças tarifárias como solução para as questões migratórias e de consumo de drogas, alertando que “impor uma tarifa significaria outra em resposta, o que poderia colocar empresas em risco”. O apelo de Sheinbaum destaca as interconexões profundas entre as economias dos Estados Unidos e México, onde empresas como General Motors e Ford estão intimamente ligadas às exportações mexicanas, sendo inadmissível colocar tais relações em perigo visando um cenário inflacionário que afetaria ambos os lados da fronteira.
Perspectivas de renegociação de acordos existentes
Embora o conteúdo das comunicações de Trump não tenha causado surpresa, a maneira como foram expulsos nos círculos de mídia levanta questões sobre a eficácia e o momento adequado das táticas de negociação. Durante sua campanha, Trump repetidamente defendeu o uso de tarifas como uma Ferramenta para moldar políticas comerciais das nações com as quais os Estados Unidos negociam, levando a uma expectativa de que, se reeleito, ele agiria rapidamente para renegociar acordos existentes como o US-Mexico-Canada Agreement (USMCA).
Dentro desse contexto, sua administração poderá se voltar contra a cláusula de renegociação contida no acordo, e as tensões entre os países certamente reaparecerão à medida que subterfúgios são planejados. Assim como em sua primeira gestão, os assessores de Trump indicaram que a implementação de tarifas seriam iniciadas contra países que implementaram políticas que consideram discriminatórias, trazendo à tona novamente as complexidades e os desafios da política comercial contemporânea.
Por fim, Trump deseja estabelecer negociações com o Canadá o mais rápido possível após a tomada de posse, visando uma alavancagem em relação a um ambiente comercial já desgastado e deteriorado, mas a retórica inicial das tarifas revela um caminho potencialmente doloroso para empresas e consumidores nas três nações, deixando um legado de incertezas que pode moldar as economias no futuro próximo.