Em meio a um cenário político repleto de polarizações e debates acalorados sobre saúde pública, o presidente eleito Donald Trump fez uma escolha que promete gerar repercussões significativas. Em uma recente declaração, Trump anunciou a nomeação de Dr. Jay Bhattacharya, um renomado economista da saúde e crítico das medidas rigorosas adotadas durante a pandemia de COVID-19, como o novo diretor da National Institutes of Health (NIH), uma das principais agências de pesquisa médica do país. Com 56 anos e professor na Stanford University School of Medicine, Bhattacharya é amplamente reconhecido por suas posturas controversas e suas contribuições ao debate sobre saúde pública durante os anos críticos da pandemia.
Trump, em sua declaração feita na noite de terça-feira, enfatizou a colaboração de Bhattacharya com Robert F. Kennedy Jr., escolhido por ele para liderar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos. Segundo Trump, a dupla trabalhará em conjunto para “conduzir a pesquisa médica da nação e realizar descobertas importantes que poderão melhorar a saúde e salvar vidas”. Essa escolha, que acaba de ser feita, já levanta questionamentos sobre a direção da política pública em saúde, especialmente em relação à abordagem em saúde preventiva e o tratamento de doenças crônicas.
“Juntos, Jay e RFK Jr. restaurarão o NIH como um padrão de excelência em pesquisa médica, enquanto examinam as causas subjacentes e as soluções para os maiores desafios de saúde enfrentados pelos americanos, incluindo a crise de doenças crônicas”, afirmou Trump durante o anúncio, que parece não apenas refletir sua visão sobre a saúde pública, mas também o impacto duradouro que a COVID-19 teve sobre a política de saúde nos Estados Unidos.
Os desafios enfrentados pelo NIH são vastos e de grande importância. Nos últimos anos, a pandemia expôs lacunas significativas no sistema de saúde americano, levando muitos especialistas a questionar as decisões políticas que limitavam a liberdade individual em nome da saúde pública. Bhattacharya foi um dos três autores da Declaração de Great Barrington, uma carta aberta divulgada em outubro de 2020 que defendia a ideia de que os lockdowns estavam causando danos irreparáveis à sociedade. Essa declaração, lançada em um período anterior à disponibilidade das vacinas contra a COVID-19, ajustou o foco da proteção de saúde para as pessoas em maior risco ao sugerir que aqueles com menor risco deveriam retornar às suas vidas normais para desenvolver imunidade ao vírus.
Em uma discussão realizada em março de 2021, Bhattacharya expressou sua convicção de que os lockdowns representaram “o maior erro em saúde pública”. Embora a Declaração de Great Barrington tenha sido aceita por alguns membros da administração Trump, também teve sua ampla condenação por especialistas em doenças infecciosas. O então diretor do NIH, Dr. Francis Collins, a considerou perigosa e “não representativa da ciência convencional”. É relevante observar que a nomeação de Bhattacharya agora dependerá da aprovação do Senado, enquanto Trump também anunciou a nomeação de Jim O’Neill para o cargo de secretário adjunto da agência, uma figura com experiência anterior em cargos federais.
O’Neill, segundo a declaração de Trump, supervisionará todas as operações da agência e melhorará a gestão, a transparência e a responsabilidade, com o objetivo de “fazer a América saudável novamente”. Ele se destaca entre os escolhidos por Trump, já que até agora seus candidatos são formados principalmente por pessoas que não têm experiência na burocracia governamental, incluindo o próprio Kennedy e outras figuras como Dr. Mehmet Oz e Dr. Marty Makary, escolhidos para liderar agências públicas anteriormente.
Bhattacharya enfrentou, nos últimos anos, restrições em diversas plataformas de mídia social devido às suas opiniões. Adicionalmente, foi um dos autores que processou a administração Biden no caso Murthy v. Missouri, alegando que autoridades federais estavam suprimindo indevidamente opiniões conservadoras nas mídias sociais como parte dos esforços para combater a desinformação. O Supremo Tribunal decidiu a favor da administração Biden nesse caso.
Com essa nova nomeação, as expectativas em torno dos Institutos Nacionais de Saúde são altas, embora, evidentemente, haverá controvérsias e debates calorosos sobre as diretrizes de saúde a serem implementadas. O NIH, que atualmente possui um orçamento de aproximadamente 48 bilhões de dólares, financia pesquisas médicas em vacinas, câncer e outras doenças, através de concessões competitivas para pesquisadores em instituições de todo o país. A agência também realiza suas próprias investigações, contando com milhares de cientistas trabalhando em seus laboratórios em Bethesda, Maryland. Entre os desenvolvimentos recentes favorecidos pelo financiamento do NIH estão medicamentos para dependência de opioides, uma vacina para prevenir o câncer cervical, novas drogas para o tratamento de câncer e a rápida evolução de vacinas mRNA para COVID-19.
À medida que o cenário de saúde pública nos Estados Unidos continua a se desdobrar, a gestão de Bhattacharya no NIH pode se mostrar um divisor de águas em um momento em que a confiança na ciência e nas instituições médicas precisa ser restaurada. Sem dúvida, a escolha do presidente Trump reflete seus esforços em redefinir a abordagem americana em relação à política de saúde e ao potencial papel do governo neste campo crucial.