A União Europeia enfrenta um desafio significativo no que diz respeito ao fortalecimento de suas startups. Com Ursula von der Leyen prestes a iniciar seu segundo mandato de cinco anos, o destaque de sua liderança será a necessidade urgente de impulsionar o crescimento dessas empresas inovadoras. Em um discurso recente ao Parlamento Europeu, von der Leyen delineou suas principais estratégias que visam transformar a narrativa europeia sobre inovação e competitividade, colocando as startups no centro de sua agenda política. A partir de 1º de dezembro, as diretrizes que ela estabeleceu podem influenciar diretamente o futuro tecnológico da Europa.

A presidente da Comissão Europeia enfatizou que a competitividade do bloco não poderá ser alcançada sem o fechamento daquilo que ela chamou de “lacuna de inovação”. Essa lacuna diz respeito à necessidade de aumentar o apoio às startups para que possam escalar e superar os obstáculos que a burocracia impõe, impedindo-as de tirar pleno proveito do acesso ao vasto mercado único da UE, que inclui 27 Estados-Membros. Vale destacar que, apesar de a Europa registrar um número de inscrições de patentes equivalente ao dos Estados Unidos e da China, von der Leyen apontou que apenas um terço dessas patentes são explorações comerciais, o que representa um desperdício do potencial inovador do continente.

Um dos pilares centrais do próximo mandato de von der Leyen será a criação, pela primeira vez, de um comissário destacado para startups, que assumirá a responsabilidade por acelerar o crescimento desse setor crítico. Ekaterina Zaharieva será a incumbida dessa função, refletindo a determinação da Comissão em colocar a inovação em primeiro plano. Durante seu discurso, von der Leyen não apenas destacou o cenário atual das startups na Europa, mas também pediu uma reflexão sobre as razões pelas quais a Europa, embora equivalente na criação de novas empresas, não consegue acompanhá-las em termos de crescimento. O apelo à ação foi claro: “Precisamos fechar essa lacuna,” avisou, trazendo à luz a necessidade de um foco renovado em investimentos e melhorias nas infraestruturas de apoio ao empreendedorismo.

O chamado para “investir mais e focar melhor” ressoou como uma mensagem forte entre as autoridades europeias. Parte da estratégia inclui a designação de Henna Virkkunen, que terá um portfólio voltado para tecnologias de ponta, para estimular as inovações necessárias que colocarão a Europa na vanguarda da próxima onda tecnológica. “Para sermos competitivos, a Europa deve ser a casa da próxima onda de tecnologias de ponta”, reiterou von der Leyen, sublinhando a urgência desta missão. Além disso, ela enfatizou a importância de aumentar os investimentos privados, pois a injeção de capital no setor de pesquisa e desenvolvimento é um forte indicador da capacidade de inovação de uma região. Atualmente, o investimento da Europa em pesquisa e desenvolvimento representa apenas 1,3% do PIB, em comparação com 1,9% da China e 2,4% dos EUA. Essa disparidade no capital privado é uma das principais razões que explicam por que o continente não consegue se destacar em inovação e desenvolvimento tecnológico, de acordo com von der Leyen.

Adicionalmente, a presidente propôs a criação de uma União Europeia de Poupanças e Investimentos, um esforço em que Maria Luís Albuquerque, comissária para Serviços Financeiros e a União de Poupanças e Investimentos, estará incumbida de garantir que as empresas europeias tenham acesso ao capital necessário dentro da própria Europa. A presidente da Comissão também atacou a burocracia que emperra o crescimento das startups, reconhecendo que os empreendedores enfrentam um fardo regulatório pesado. “Os empresários estão nos dizendo que o fardo regulatório pesa muito sobre eles: relatórios excessivos, muitas sobreposições e a complexidade que encarece a conformidade”, explicou, reiterando a necessidade de simplificar as regras para facilitar os negócios.

Para alcançar esses objetivos, Valdis Dombrovskis, escolhido por von der Leyen para supervisionar a economia e a produtividade, será responsável por criar uma nova legislação omnibus. Este empreendimento será fundamental para a revisão e simplificação das normas legais que regem diferentes setores, com o intuito de facilitar o ambiente de negócios na Europa. Von der Leyen ressaltou que a verdadeira força do mercado único é sua capacidade de substituir uma seleção de normas nacionais por um conjunto simples de regras universais que promovem a alfabetização econômica e o crescimento em toda a região.

A ênfase em apoiar a inovação e o empreendedorismo provavelmente será bem recebida por um ecossistema de startups que há muito espera por mais atenção e apoio. Entretanto, alguns podem se questionar se a ideia de simplificar a vasta constelação de regulamentos da União Europeia não seja, na verdade, uma contradição, dada a notoriedade histórica de Bruxelas como um bastião da regulação. Contudo, as mudanças políticas na direção mais conservadora da UE indicam um claro sinal de transição que pode abrir as portas para novas oportunidades de crescimento no setor tecnológico.

Por fim, para que von der Leyen consiga concretizar sua visão de uma Europa mais inovadora, será necessário um verdadeiro ponto de virada cultural no continente. Isso exige uma mudança na mentalidade dos investidores regionais, levando-os a adotar um comportamento mais arrojado e voltado para o risco, ao invés da busca por retornos estáveis e previsíveis. A jornada para transformar a Europa em um verdadeiro polo de inovação não será fácil, mas pode ser ação em favor de todos os cidadãos, promovendo um clima de negócios que favoreça o empreendedorismo e a inovação.

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