A recente escolha de Robert F. Kennedy Jr. para liderar o Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos EUA provocou um sentimento de apreensão na comunidade global de saúde. Caso sua confirmação se concretize, Kennedy exercerá um poder considerável sobre as políticas de saúde dos EUA, tendo um impacto que transcende as fronteiras do país. Enquanto a sua agenda inclui uma série de questões de saúde pública e regulamentação, como fornecimento de alimentos, uso de flúor, leite cru e a regulamentação de substâncias psicodélicas, suas opiniões sobre vacinas e a saúde global têm gerado grande preocupação entre especialistas.
Experiência e responsabilidades representam um fardo significativo para um futuro secretário da saúde, principalmente num momento em que o mundo lida com a recuperação de pandemias passadas e a prevenção de futuras crises. Com os Estados Unidos sendo o maior financiador de programas de saúde globais, os especialistas temem que Kennedy possa comprometer as décadas de trabalho desenvolvidas para controlar a disseminação de doenças infecciosas, tais como sarampo, poliomielite e HIV. Além disso, sua perspectiva pode prejudicar colaborações de pesquisa internacional e ameaçar iniciativas que visam aumentar a coordenação e cooperação globais diante de emergências de saúde pública.
Kennedy é um advogado ambiental e um notório cético em relação à medicina e vacinação, tendo fundado a organização sem fins lucrativos Children’s Health Defense, que promove materiais anti-vacinação. Sua crença de que vacinas podem causar mais danos do que benefícios se alinha com tópicos da exaustiva desinformação que circula e que, quando emanam de figuras de autoridade, podem ter consequências devastadoras. Alguns especialistas denunciam que, embora tenha moderado seu discurso na corrida presidencial, não há sinais de que Kennedy tenha mudado suas crenças fundamentais sobre vacinas. Dr. Peter Hotez, professor na Baylor College of Medicine, descreve Kennedy como “provavelmente a pessoa mais anti-vacinação com quem já conversei”. Essa postura não apenas levanta dúvidas sobre futuras campanhas de vacinação nos EUA, mas também sobre como isso pode impactar a saúde global.
A resistência a vacinas, especialmente em tempos modernos, dimana o progresso realizado na luta contra doenças infecciosas. Em um cenário preocupante, a crescente desconfiança pública está ameaçando recuperar doenças que já estavam controladas. As taxas de vacinação, que caíram drasticamente durante a pandemia de Covid-19, estão ligadas diretamente ao aumento de casos de sarampo ao redor do mundo, com um aumento de 20% de 2022 a 2023, conforme dados da Organização Mundial da Saúde. Kennedy é conhecido por se opor ativamente à vacinação contra o Covid-19, rotulando as vacinas como “um crime contra a humanidade”. Essa retórica não é apenas extemporânea, mas também perigosa.
A magnitude do impacto potencial da confirmação de Kennedy é alarmante e gera preocupações sobre a reinterpretação das prioridades do Departamento de Saúde dos EUA. Henry s. e, na verdade, o que vamos esperar na administração ‘Kennedy’, será um retrocesso nas medidas de prevenção que foram moldadas por profissionais de saúde em resposta a crises de saúde pública? Além do mais, a probabilidade de que financiamentos cruciais, parte do investimento dos EUA em saúde global, sejam cortados por Kennedy, coloca um pano de fundo ainda mais sombrio sobre as aspirações da saúde mundial, especialmente em países em desenvolvimento.
As ligações entre as políticas de saúde nos EUA e a saúde global são inegáveis, e a confirmação de Kennedy preocupa muitos líderes de saúde, que veem a administração de saúde americana dirigida por um cético em relação à vacina como um indicador de uma nova era de negligência na responsabilidade de ajudar outros países a combater doenças infecciosas e a necessidade de cooperação internacional. A ênfase geral em priorizar doenças crônicas, enquanto relegam as doenças infecciosas ao fundo, levanta questões de quem realmente terá a palavra final na saúde global.
Mary Holland, CEO da Children’s Health Defense, sugere que Kennedy, em sua função como secretário, poderá estender seu foco nas doenças crônicas também para a saúde global, desconsiderando as realidades e ameaças que as doenças infecciosas coloca, que continua a ser um desafio crescente em vários setores. A visão estratégica do novo secretário pode, portanto, estar mais voltada para as condições crônicas que atormentam a população dos EUA, em vez de preparar o país e o mundo para novas pandemias.
A preocupação com as implicações da confirmação de Kennedy se intensifica à medida que os especialistas solidificam suas opiniões de que sua liderança não só potencialmente comprometerá os esforços de controle sobre doenças infecciosas, mas também mine a capacidade dos EUA de se posicionar como uma força estabilizadora na saúde pública global. A perda de compromisso dos EUA com organizações como a Organização Mundial da Saúde (OMS) ou financiamento de iniciativas de saúde pode levar a instabilidades em resposta a crises internacionais, um cenário que os especialistas temem ser iminente sob a administração de Kennedy.
Em conclusão, a escolha de Robert F. Kennedy Jr. como secretário da saúde dos EUA apresenta um dilema significativo não apenas para a saúde pública nacional, mas também para a saúde mundial de forma mais ampla. As discussões sobre vacinação e apoio a iniciativas que enfrentem epidemias refletem um caminhar em terrenos potencialmente perigosos, onde a saúde da população global pode ser colocada em risco por um único indivíduo. Se o mundo está, de fato, enfrentando uma nova era em que a ciência e a saúde pública são ofuscadas por questões políticas, o futuro da saúde global poderá depender da resiliência e da determinação da comunidade de saúde em se unir, novamente, em torno de uma causa comum e vital.