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O renomado cineasta Luca Guadagnino dedicou praticamente sua vida adulta à realização de seu mais novo projeto, chamado Queer. Conhecido por suas obras de cinema românticas e pouco convencionais, como Call Me by Your Name e Challengers, Guadagnino se mantém fiel a esse gênero, adaptando a aclamada novela do escritor beat William S. Burroughs, que explora solidão e anseios, além de vivências inusitadas com a ayahuasca, enquanto segue o autor em sua busca por um jovem americano misterioso na Cidade do México dos anos 50.

A primeira vez que Guadagnino teve contato com uma cópia de Queer foi em uma livraria em Palermo, na Itália, durante sua adolescência. Instantaneamente, ele sentiu uma forte conexão com o que leu, algo que ele detalhou durante uma sessão de perguntas e respostas após a estreia do filme no Festival de Cinema de Nova York, ao lado dos protagonistas Daniel Craig e Drew Starkey, e do roteirista Justin Kuritzkes.

“Na loja, imediatamente, fui exposto à linguagem desigual desse escritor incrível que eu não conhecia”, comentou Guadagnino sobre o livro semi-autobiográfico de Burroughs. “E ao mesmo tempo, o livro revelou algo sobre mim, que sempre senti: desejo, conexão—de forma muito profunda.”

Essa descoberta ocorreu em 1988, e desde então, Guadagnino tem tentado fazer uma adaptação cinematográfica de Queer, chegando a escrever um “roteiro terrível” em um ponto, segundo ele próprio. A dificuldade em adquirir os direitos do livro por anos fez com que o projeto parecesse fadado ao fracasso, mas, felizmente, o produtor Lorenzo Mieli chegou com boas notícias quando a carreira de Guadagnino finalmente começou a decolar. A sequência de sucessos do diretor começou em 2017 com Call Me by Your Name, seguido por uma mistura eclética de filmes, frequentemente com os mesmos atores, trazendo seu aclamado remake de Suspiria, o romântico horror Bones and All com Timothée Chalamet, e Challengers, que arrecadou $96 milhões mundialmente.

Durante as gravações de Challengers, Guadagnino entregou uma cópia de Queer a Kuritzkes, sugerindo que ele o lesse naquela noite. Pouco tempo depois, a dupla começou a planejar sua segunda colaboração, enfrentando o grande desafio de adaptar o escritor da Geração Beat para as telas—algo feito poucas vezes anteriormente.

Numa abordagem que evoca a luta interna e a dor, Queer é quase uma sequência abreviada de Junkie, onde o personagem William Lee, uma representação de Burroughs, lida com adições a heroína e morfina. Ele acaba por se estabelecer na Cidade do México, fugindo de problemas legais relacionados ao seu vício, levando à separação de sua mulher, que volta para os Estados Unidos com suas crianças. O personagem acaba descobrindo uma droga encontrada no Equador chamada yage, que promete telepatia. No entanto, o filme de Guadagnino começa a partir do momento em que Lee encontra Eugene Allerton, um jovem ex-integrante da Marinha que também passa pela Cidade do México.

O enredo se complica à medida que os dois personagens circulam um ao outro durante a primeira metade do filme, e são cercados por uma elenco de apoio de expatriados bêbados, incluindo Jason Schwartzman e Henry Zaga. Uma cena que vem recebendo muitos comentários é a interação única e intensa entre Lee e Allerton, que finalmente culmina numa relação sexual crua e realista, uma referência ao estilo provocativo de Guadagnino quando se fala em cena de sexo, uma abordagem que foi cuidadosamente discutida em suas sessões de ensaio. Recentemente, Andrew Garfield comentou sobre uma das cenas de sexo do filme, descrevendo-a como “genuinamente bela” e “tão ternurenta e repleta de anseios.”

Após essa libertadora descoberta, Lee propõe que Allerton o acompanhe ao Equador em busca do ayahuasca, o que dá início a uma nova e aventureira jornada. O roteirista Justin Kuritzkes destacou a importância de serem fiéis ao espírito do livro, dizendo que um dos principais pontos de partida para suas discussões foi entender o que aconteceria se os personagens realmente encontrassem o ayahuasca, algo que no livro não acontece.

Em suas reflexões, Kuritzkes disse que a nova adaptação deveria “abrir a porta fechada” que Burroughs apresenta, levando o enredo em uma direção inesperada durante o ato final do filme, que resulta numa jornada única de ayahuasca e uma homenagem complexa ao autor da novela. “Buscamos pistas no livro e uma delas foi manter o tom de Burroughs, o humor dessa forma picaresca”, afirmou Guadagnino. “Simultaneamente, percebemos que se tratava de uma história de amor real e profunda entre duas pessoas que não estão em sintonia mais frequentemente do que estão.”

A colaboração na construção do roteiro foi tão envolvente que levou Craig a se interessar pela obra assim que leu o roteiro, marcando sua volta aos filmes após interpretar James Bond ou seu papel no filme Knives Out nos últimos sete anos. Sua interpretação como Lee, o romântico trágico, está sendo elogiada como uma das grandes performances da temporada de premiações.

“A razão pela qual eu quis entrar na indústria cinematográfica foi por causa de filmes como este… Roteiros assim não aparecem com frequência,” comentou Craig após a exibição de Queer em Nova York. “Diretores assim são raros. Não sabia qual seria o resultado final, mas tinha certeza de que a jornada seria algo extraordinário. E foi isso que me atraiu, trabalhar com pessoas criativas e incríveis. Dissemos um ao outro: ‘Independente do que fizermos, devemos criar algo memorável e belo e que seja sobre o amor.'”

Queer teve sua estreia mundial no Festival de Cinema de Veneza, onde recebeu uma respeitável ovação de pé de nove minutos. Starkey, que interpreta Allerton, também recebeu excelentes críticas por seu papel de destaque na produção. Juntos, Craig e Starkey trazem uma tensão sexual impressionante às telonas, cativando o público e trazendo à vida os desejos mais profundos de seus personagens.

Starkey refletiu sobre o seu trabalho e o processo que o levou a se aprofundar na mente de Burroughs, reconhecendo a riqueza de cada momento que tiveram para se preparar. “Foi um processo de osmose, de certa forma”, comentou ele sobre como interpretou seu personagem, e como se preparou durante meses antes de iniciar as filmagens. “Ele só se revela quando está em sintonia com Lee, e isso me levou a entender a verdadeira essência do personagem.”

Para Guadagnino, Queer representa tudo que ele tem tentado transmitir em suas obras ao longo dos anos. “Essa não era uma história sobre amor não correspondido. Não se tratava de convencer outra pessoa,” explicou. “[É sobre] a possibilidade de encontrar troca, algo que tenho explorado em muitos trabalhos. Mas nunca vi isso como o verdadeiro tema profundo.” Com essa visão, o filme embarca em uma narrativa cheia de nuances, emoções, e uma busca intensa pela conexão humana.

O filme Queer está atualmente em exibição em cinemas selecionados, convidando o público a mergulhar nessa narrativa envolvente e complexa que une amor, desejo e autodescoberta.

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