A ascensão de influenciadores digitais que buscam atenção a qualquer custo tem levantado questões sobre os limites do comportamento online. Recentemente, um caso que exemplifica essa preocupação emergiu envolvendo Ramsey Khalid Ismael, um live-streamer americano de 24 anos, conhecido pela alcunha “Johnny Somali”. O caso ressalta os desafios das autoridades sul-coreanas ao lidarem com comportamentos ofensivos que, aparentemente, buscam apenas clicks, mas que, na verdade, podem resultar em sérias consequências legais.
Ismael foi indiciado por causar uma “comoção” em uma loja de conveniência, conforme relatado por promotores de Seul. Se for condenado, ele poderá enfrentar até cinco anos de prisão. Além disso, uma proibição de saída do país foi imposta, impossibilitando que o influenciador deixe a Coreia do Sul enquanto as investigações prosseguem, uma informação que foi revelada pela afiliada da CNN, a MBC News.
Tentativas de contato por parte da CNN com Ismael para obter comentários não resultaram em respostas, e sua situação legal permanece incerta, já que não está claro se ele possui um advogado. O live-streamer, que já foi banido de várias plataformas de mídia social devido ao seu conteúdo provocativo e conotações ofensivas, tem decidido rechaçar críticas, perpetuando uma imagem negativa que reflete um comportamento antissocial em sua busca por visualizações e likes.
A reputação de Ismael como provocador não é recente. O influenciador já havia se envolvido em diversas polêmicas, sendo acusado de assediar moradores em diferentes países asiáticos, tudo em uma aparente tentativa de aumentar sua audiência. Atualmente, ele possui um número irrisório de seguidores nas redes sociais, somando algumas dezenas de milhares nas plataformas Instagram, TikTok e Rumble. A busca por buzz a qualquer custo gerou um efeito adverso, com uma onda de rejeição pela população local à sua presença.
Recentemente, no início do mês, Ismael emitiu um pedido de desculpas online após ser acusado de desrespeitar um monumento sul-coreano dedicado a mulheres que sofreram com a escravidão sexual durante a Segunda Guerra Mundial, o que gerou uma onda de indignação por parte dos sul-coreanos. A reação da população foi feroz; muitos internautas ameaçaram a segurança de Ismael, e vídeos mostraram grupos de pessoas o seguindo enquanto ele era agredido. Além disso, um homem foi detido em Seul no mês passado por agredir Ismael fisicamente.
A resposta violenta da população sul-coreana a Ismael representa uma frustração geral com estrangeiros que se aproveitam das tradições locais em nome da promoção pessoal. Esse fenômeno não é exclusivo da Coreia do Sul, pois outros relatos de influenciadores estrangeiros geraram revolta no Japão, onde em várias ocasiões criadores de conteúdo foram alvo de críticas públicas por comportamentos considerados inadequados, como evitar tarifas de transporte e realizar danças incômodas em trens de Tóquio.
Esse descontentamento com o turismo em massa coincide com um aumento significativo no número de visitantes estrangeiros, culminando em relatos de comportamentos inadequados por turistas. Um caso emblemático ocorreu no início deste mês, quando um turista americano de 65 anos foi detido em Tóquio por supostamente esculpir letras em um portão de santuário. Este é apenas um exemplo de uma série de incidentes que envolvem turistas desrespeitando a cultura local, acentuando a tensão entre visitantes e residentes.
No que diz respeito a Ismael, sua viagem ao Japão já foi cheia de controvérsias – no ano passado, ele foi detido em Osaka por suspeita de invasão a um local de construção e, em outra situação, filmou vídeos zombando de passageiros sobre os bombardeios atômicos de Hiroshima e Nagasaki.
John Lie, professor de sociologia na Universidade da Califórnia, Berkeley, pontuou que a polêmica em torno de Ismael serve como um aviso sobre os riscos de desconsiderar as fronteiras culturais em um mundo cada vez mais interconectado. “É possível que haja uma motivação mais profunda, mas o comportamento do provocador parece primariamente focado em atrair atenção em sua ‘busca para se tornar uma celebridade nas redes sociais’”, comentou Lie.
Ele adicionou que “não há nada de significativo ali, a não ser a persona provocadora: um personagem comum no atual cenário das redes sociais”.
Reportagem adicional de Ava Ko, CNN.