“`html



CNN
 — 

A Irlanda está prestes a passar por um teste eleitoral significativo, com Simon Harris, primeiramente considerado um promissor taoiseach, emergindo como uma figura central neste processo. O que pode ter parecido um caminho tranquilo para a vitória na eleição geral, marcada para a próxima sexta-feira, agora é envelopado por incertezas e controvérsias inesperadas.

Harris, que tem apenas 38 anos e é o mais jovem primeiro-ministro da Irlanda, foi apelidado de “TikTok taoiseach” devido ao seu uso enfático das redes sociais, em especial entre os jovens. Nos últimos sete meses de seu governo, ele se empenhou em mudar a percepção da juventude sobre as dificuldades enfrentadas pelo país, como a crise habitacional que assola a nação. Uma questão que afeta não apenas a acessibilidade à moradia, mas também se torna um reflexo das crescentes preocupações sociais e econômicas.

Apesar de seus esforços, um momento controverso na campanha surgiu quando uma gravação viralizou, mostrando Harris se afastando de Charlotte Fallon, uma trabalhadora de cuidado visivelmente abalada que tentava fazer perguntas ao primeiro-ministro durante um evento de campanha. O episódio rapidamente se intensificou, levantando um grande questionamento sobre a autenticidade de Harris como líder. Mesmo após uma tentativa de conciliação e um pedido público de desculpas, o jornalista Jennifer Bray, do Irish Times, apontou que esse incidente se tornou o “momento definidor” da campanha eleitoral de 2024, deixando a equipe de Harris em estado de alerta com o receio de que ele pudesse alienar eleitores indecisos.

A situação se complica ainda mais para o partido de Harris, Fine Gael, que já enfrenta um ambiente incerto nas eleições. Desde 2010, quando o partido assumiu pela primeira vez o governo, ele se viu refém de complexas alianças políticas para manter seu status. David Farrell, professor de Política da University College Dublin, mencionou que se o partido conseguir se estabelecer com vitória na eleição, terá alcançado um “novo recorde na política irlandesa”.

No entanto, observadores políticos estão alertas para a “maldição da incumbência”, um fenômeno global que tem prejudicado partidos que estão há longos períodos no poder, refletindo uma tendência de insatisfação do eleitorado em relação aos governos estabelecidos. A percepção de que o partido Fine Gael poderá não apenas perder votos, mas também sua posição, é uma preocupação crescente no cenário atual.

Cartazes de campanha do Fine Gael em Dublin, Irlanda, em 27 de novembro de 2024.

Grandes oscilações entre os eleitores

Na próxima sexta-feira, a Irlanda irá eleger 174 membros do parlamento (TDs) através do sistema de representação proporcional com um único voto. Uma pesquisa publicada pelo Irish Times na última segunda-feira registrou uma queda de 6 pontos de apoio para o partido de Harris, Fine Gael, apenas cinco dias antes da eleição, onde as três principais forças estão disputando votos acirradamente: Fianna Fáil com 21%, Fine Gael com 19% e Sinn Féin com 20%. O restante, que totaliza 40%, contém partidos menores e independentes.

Historicamente, o governo irlandês tem sido conduzido por esses dois partidos centristas, Fine Gael e Fianna Fáil, que até 2020 compartilharam um conceito de coalizão que incluiu o Partido Verde. Vale ressaltar que as duas formações, herdadas dos lados opostos da guerra civil irlandesa que terminou em 1923, agora apresentam muitas semelhanças em suas políticas. Ambas adotaram uma postura amplamente centrista ao longo dos anos, mas com margens variáveis em suas abordagens econômicas.

Durante seu mandato, Fine Gael implementou políticas de liberalização econômica, enquanto Fianna Fáil geralmente se inclinou para uma posição mais conservadora. A partir da análise de Farrell, é evidente que essa situação é peculiar, pois na maioria das democracias europeias os partidos centristas costumam ter um apoio bastante limitado, fato que não se verifica na dinâmica irlandesa.

Nas últimas eleições de 2020, a oposição do Sinn Féin surpreendeu ao ganhar a votação popular, porém, foi impedida de governar, pois as principais forças políticas se negaram a formar qualquer aliança com eles. Este episódio é um forte reflexo do conservadorismo enraizado nos partidos centristas, que por muitas vezes preferem continuar a governar em coalizão a partilhar o poder com a oposição.

Um trabalhador das eleições verifica o selo em urnas vazias que serão usadas nas próximas eleições em Dublin, Irlanda, na quinta-feira.

À medida que a data da votação se aproxima, Mike Miley, chefe de Assuntos Públicos da Teneo em Irlanda e ex-assessor de imprensa do Fine Gael, descreveu as possibilidades de coalizão como “vastas e amplas”, afirmando que “com exceção de um governo de extrema esquerda liderado pelo Sinn Féin”, qualquer coalizão terá que incluir duas das três principais forças.

A questão principal, neste momento, é quem estará disposto a se unir nessa nova aliança.

O clima da campanha eleitoral revelou uma “enorme volatilidade entre o público irlandês”, conforme observou Bray, que enfatizou que os eleitores buscam ações sustentáveis em relação à crise de habitação e aos problemas de sem-teto, mas permanecem inseguros sobre qual partido pode oferecer um caminho viável para a mudança.

A luta pela influência nas mídias sociais

Um dos campos em que os políticos irlandeses têm disputado votos é nas mídias sociais. Simon Harris se orgulha de seu uso prolífico de plataformas como TikTok e Instagram. No entanto, especialistas em mídias sociais apontam que alguns de seus opositores políticos, como a líder dos Social Democrats, Holly Cairns, de 35 anos, e a líder do Sinn Féin, Mary Lou McDonald, têm níveis de engajamento muito mais altos.

A presidente do Sinn Féin, Mary Lou McDonald, fala à imprensa em sua circunscrição em Dublin, em 25 de novembro de 2024.

“Cairns possui números que gerariam a inveja de qualquer marca ou criador de conteúdo em termos de engajamento,” diz Donagh Humphreys, chefe de Inovação Social e Digital na agência de marketing para jovens Thinkhouse. É através da interação com esses dados que se observa a crescente necessidade de os partidos atraírem o voto jovem, especialmente aqueles que estiveram na linha de frente de mudanças sociais significativas na Irlanda, como a legalização do casamento entre pessoas do mesmo sexo.

A nova geração de eleitores não apenas defendeu essas mudanças, mas também será determinante nas eleições que se aproximam. De acordo com Farrell, qualquer novo governo herdará um país que, embora tenha avançado em diversas questões sociais, agora se vê diante de uma nova dinâmica política. Uma situação que poderá ser agrava pelo impacto potencial de uma presidência de Donald Trump nos Estados Unidos, que pode reverter algumas das condições favoráveis que a Irlanda desfrutou nas últimas décadas.

Com uma sensação crescente de ansiedade entre os eleitores sobre o futuro e uma infinidade de questões em aberto em relação à visão de longo prazo para o país, o cenário irlandês permanece em constante evolução. A balança da política irlandesa pende para a interação das redes sociais e o papel ativo dos eleitores jovens, demonstrando que, independentemente do resultado das eleições, os desafios à frente exigirão uma nova abordagem para uma sociedade em transição.

“`

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *