A cena de criptomoedas e blockchain na África está recebendo um impulso significativo em meio a um período desafiador para startups no continente. Muitas delas enfrentam o desafio do ambiente regulatório severo, evoluções macroeconômicas e problemas de gestão, levando algumas empresas a se retirarem de mercados específicos ou, em casos extremos, a fecharem suas portas. Nesse contexto, a plataforma de criptomoeda Yellow Card, fundada nos Estados Unidos e lançada na Nigéria em 2019, se destacou como a exchange de criptomoedas mais financiada da África. Recentemente, a empresa confirmou à publicação TechCrunch que levantou uma impressionante quantia de US$ 33 milhões em um investimento da Série C, liderado pela firma de capital de risco Blockchain Capital, que possui um histórico notável de apostas em empresas de destaque como Coinbase, Kraken e OpenSea. Com esse novo aporte, o financiamento total da Yellow Card chega a pelo menos US$ 88 milhões, consolidando sua posição de destaque no mercado africano de criptomoedas.

Transformação Estratégica em Busca de Novas Oportunidades

O apoio financeiro da Blockchain Capital para a Yellow Card é particularmente relevante, já que a plataforma de criptomoeda, que inicialmente oferecia acesso a ativos digitais como USDT, USDC e PYUSD a consumidores de varejo em 20 países africanos, está agora intensificando seu foco no atendimento a clientes empresariais. Esta mudança estratégica começou a ser implementada durante a arrecadação da Série B, onde a empresa captou US$ 40 milhões, e se torna cada vez mais evidente nas operações diárias da Yellow Card. De acordo com Chris Maurice, CEO e co-fundador da Yellow Card, a decisão de mudar o foco para empresas se deu após a realização de um diagnóstico sobre o perfil dos usuários que realmente se beneficiavam da tecnologia de criptomoeda. “Quando começamos, o nosso foco era o mercado B2C, atendendo o consumidor final. Contudo, percebemos que os reais beneficiários dessa tecnologia eram as empresas”, declarou Maurice.

Nos primeiros anos de operação, a Yellow Card atende a clientes de varejo. No entanto, a alta demanda e os custos associados à gestão desses usuários menores afetaram a sustentabilidade do negócio. Novamente, conforme Maurice expõe, a empresa começou a observar que as pequenas e grandes empresas movimentavam volumes significativos e pagavam taxas superiores para transações em criptomoedas, o que se revelou um modelo mais viável. Desse modo, a Yellow Card ajustou seus valores mínimos de transação, como uma medida deliberada para reduzir a base variada de clientes de varejo, ao mesmo tempo que ampliava sua atratividade junto a empresas que buscavam utilizar a plataforma para a gestão de tesouraria e acesso a stablecoins.

Stablecoins como Instrumentos de Utilidade Crucial no Mercado Africano

É importante observar que a transição da Yellow Card para um modelo focado em negócios não significa um desvio dos seus objetivos iniciais de tornar as criptomoedas acessíveis a uma audiência ampla. Para Maurice, isso reflete uma adaptação à dinâmica única do mercado africano, onde a demarcação entre uso pessoal e comercial não é sempre clara. Um pequeno comerciante que vende produtos em uma banca de frutas, por exemplo, pode ser tanto um consumidor individual quanto um representante de uma pequena empresa. Portanto, a experiência da Yellow Card se estende desde pequenos comerciantes a grandes corporações, atingindo um espectro abrangente de clientes.

Outro ponto vital abordado pelo CEO é que a operação voltada para empresas permite que os indivíduos colham benefícios indiretos da tecnologia, por meio da redução de preços de produtos essenciais, como alimentos e produtos farmacêuticos. Esses benefícios ocorrem à medida que as empresas oferecem preços mais acessíveis ao utilizar a Yellow Card para gerenciar suas transações em stablecoins. Em um horizonte mais amplo, isso se traduz em um impacto positivo na economia local, conforme os produtos se tornam financeiramente viáveis para uma maior parte da população.

Apesar de que a região da África Subsaariana representa menos de 3% do volume global de transações de criptomoedas entre julho de 2023 e 2024, os casos práticos de utilização de criptomoedas se mostram mais convincentes em comparação a outras partes do mundo. A Nigéria, por exemplo, ocupa a segunda posição global em termos de adoção de criptomoedas, enquanto países como Etiópia, Quênia e África do Sul figuram entre os trinta primeiros, conforme um relatório recente da Chainalysis. As stablecoins são particularmente relevantes na economia de criptomoedas africana, já que esses ativos digitais, atrelados ao dólar, oferecem aos usuários uma forma de proteger seus ativos contra a volatilidade cambial e facilitar transações internacionais.

Projeções Futuras e Regulações: Um Desafio Necessário

A crescente utilidade das stablecoins e a demanda por tecnologias que facilitam transações de volumes maiores contribuíram para um aumento significativo nas operações da Yellow Card, que passaram de US$ 1,7 bilhão no início do ano passado para mais de US$ 3 bilhões atualmente. Consequentemente, a receita da empresa experimentou um crescimento de sete vezes desde janeiro de 2023, alcançando números que já superam a faixa de oito dígitos. Em contraste com o crescimento desmesurado que a moeda digital pode experimentar em outros contextos, Maurice argumenta que os usuários estão adotando essa tecnologia por uma necessidade real e urgente, não em busca de investimentos especulativos. “Estamos vendo uma verdadeira demanda por utilidade. As stablecoins são essenciais, e as pessoas precisam delas”, afirmou o CEO.

Além disso, a Yellow Card oferece um conjunto de produtos principais, que incluem seu sistema básico de entrada e saída de criptomoedas, assim como a suite de API. Essa suite facilita a integração da infraestrutura bancária e de dinheiro móvel da África, permitindo que empresas globais, como Coinbase e Block, operacionalizem suas operações no continente utilizando as tecnologias da Yellow Card. Este novo aporte financeiro irá permitir melhorias nessas ofertas e novas inovações, além de fortalecer a equipe e os sistemas da empresa, assim como fomentar um engajamento com os reguladores em diversas partes do continente.

As regulações ainda representam um desafio significativo para plataformas de criptomoedas em escala глобал, e a Yellow Card, não está imune a estas dificuldades. A empresa procura dialogar com reguladores para garantir um ambiente favorável ao desenvolvimento de suas operações, destacando que a África possui, em muitos casos, uma compreensão mais aprofundada da tecnologia criptográfica em comparação a outras regiões. Seguindo essa linha, Maurice menciona as novas diretrizes de licenciamento na Nigéria e as estruturas regulatórias que estão surgindo em países como África do Sul, Botsuana, Tanzânia e Zâmbia, como sinais de inovação que podem proporcionar um futuro mais promissor para as criptomoedas na África. Para ele, o ambiente do continente é, na verdade, mais favorável para o crescimento dessas tecnologias quando comparado ao dos Estados Unidos. É importante continuar promovendo um diálogo construtivo entre os diversos stakeholders para garantir que esse potencial seja devidamente aproveitado.

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