Na mais recente escalada do conflito sírio, rebeldes armados proclamaram que conseguiram entrar em Aleppo, a segunda maior cidade da Síria, ignorando a estabilidade imposta pelo governo desde a recaptura da cidade em 2016. Essa afirmação marca um ponto de virada significativo na dinâmica do conflito, que, nos últimos anos, viu o controle das forças do governo se solidificando, enquanto os confrontos em outras partes do país se tornavam cada vez mais reduzidos. Os eventos recentes ressaltam as complexidades políticas e sociais na Síria, um país devastado por uma guerra civil que já dura mais de uma década.

A invasão rebelde começou com um ataque surpresa ocorrido esta semana, onde as forças opositoras conseguiram capturar diversas aldeias em um movimento que reacendeu um conflito que, até então, parecia ter entrado em um período de estagnação. A recém-formada coalizão rebelde, conhecida como Comando de Operações Militares, anunciou: “Nossas forças começaram a entrar na cidade de Aleppo.” Contudo, a CNN não pôde confirmar de forma independente essa declaração e procurou comentários do governo sírio, que não se manifestou imediatamente sobre o ocorrido.

Em resposta, o Exército sírio declarou que estava enfrentando um “grande ataque” lançado por “organizações terroristas” que estavam armadas com pesados armamentos e drones. O governo sírio costuma caracterizar os grupos rebeldes como terroristas, um rótulo que tem sido uma constante na retórica do regime de Bashar al-Assad. De fato, o Comando de Operações Militares dos rebeldes afirmou ter tomado o controle do Centro de Pesquisa Científica Militar do governo localizado nos arredores da cidade de Aleppo, após intensos combates com as forças do regime e milícias iranianas.

O dia da ofensiva também foi marcado por tragédias. Uma bomba de artilharia atingiu o alojamento estudantil da Universidade de Aleppo, resultando na morte de quatro pessoas, segundo a agência de notícias estatal síria, SANA. Esta mesma agência atribuiu a responsabilidade pelo ataque a facções opositoras, provocando uma rápida desaprovação por parte dos porta-vozes dos grupos rebeldes. Hassan Abdulghani, um representante rebelde, classificou as alegações da mídia governamental como “mentiras sem fundamento.”

De acordo com um funcionário da Universidade de Aleppo, que preferiu permanecer anônimo por razões de segurança, um projétil atingiu o segundo andar de um dormitório onde estudantes se encontravam no momento do ataque. Vídeos que circulam nas redes sociais, verificados pela CNN, mostram jovens correndo para fora do dormitório e carregando um ferido. Essas imagens trágicas ilustram a crescente escalada da violência e o impacto que isso tem sobre os civis, um aspecto frequentemente esquecido em meio aos conflitos armados.

Na quinta-feira, os ataques aéreos e bombardeios em áreas controladas por rebeldes em Aleppo e nos arredores de Idlib resultaram na morte de pelo menos 15 civis, incluindo seis crianças e duas mulheres, conforme relatórios do grupo de resgate White Helmets. As bombas, além de atingir civis, também mataram o general da Guarda Revolucionária Islâmica do Irã, Kioumars Pourhashemi, segundo relatos da mídia estatal iraniana. Esse evento adiciona uma nova dimensão ao conflito, uma vez que as milícias iranianas têm sido insistentemente denunciadas por seu papel no apoio ao regime de Assad.

Enquanto o conflito se intensifica, novas cifras começaram a circular. No entanto, a resposta internacional permanece tímida. Durante uma conversa com seu colega sírio sobre a escalada, o ministro das Relações Exteriores do Irã, Abbas Araghchi, acusou os Estados Unidos e Israel de “reativar” os rebeldes, além de enfatizar o contínuo apoio de Teerã ao governo e exército sírios. Essa dinâmica reflete o papel multifacetado que potências estrangeiras desempenham no conflito, frequentemente complicando as resolução de problemas.

Por outro lado, a Rússia, uma aliada significativa de Assad, também se manifestou. O porta-voz do Kremlin, Dmitry Peskov, fez um apelo às autoridades sírias para que “restaurassem rapidamente a ordem nesta área e restabelecessem a ordem constitucional.” Esse pedido sinaliza o desejo da Rússia de manter a estabilidade na região e evitar mais desestabilizações que poderiam afetar seus interesses estratégicos na Síria e no Oriente Médio como um todo.

Com o clima de tensão crescente e uma nova fase de hostilidades à vista, a situação em Aleppo exige atenção internacional e uma resposta adequada dos atores envolvidos. À medida que os conflitos se intensificam, civis permanecem no centro do tormento, enfrentando os horrores da guerra que parece não ter fim. Neste cenário, é imperativo que as vozes de paz e diplomacia se elevem acima do estrondo dos armamentos e dos gritos de guerra. O mundo observa, e a história da Síria continua a ser escrita nas páginas mais sombrias de sua longa e dolorosa jornada.

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