O mundo dos piratas sempre exerceu uma atração inegável sobre a imaginação popular, com narrativas envolvendo tesouros escondidos, mares tempestuosos e figuras maiores que a vida. Entretanto, um aspecto que frequentemente se destaca nas representações de piratas é o famoso acento “pirata”, repleto de brados como “Aye!” e “Argh!”. Recentemente, o historiador Angus Konstam explorou as origens desse estereótipo sonoro, atribuídas praticamente a um único filme clássico da Disney de 74 anos atrás, que moldou a forma como vemos os piratas até hoje. O longa-metragem em questão é “Treasure Island” (A Ilha do Tesouro), lançado em 1950, e estrelado pelo ator Robert Newton no papel do icônico Long John Silver.

Segundo Konstam, a famosa maneira de falar dos piratas que reconhecemos hoje não tem suas raízes verdadeiras na história precisa dos piratas, mas sim na dramatização que filmes como “Treasure Island” proporcionaram ao público. Newton, ao enfatizar seu sotaque somerset no filme, ajudou a estabelecer um modelo de voz que se tornaria sinônimo da figura do pirata. O historiador fez questão de esclarecer que Newton não havia planejado criar um molde para a representação do pirata, mas sua interpretação acabou por definir como a maioria dos piratas seriam ouvidos nas telas e em outros produtos de mídia no futuro.

Em uma entrevista concedida à WIRED, Konstam comentou: “Foi inventado pelo ator Robert Newton quando ele fez o filme da Walt Disney ‘Treasure Island’ em 1950. Ele usou seu sotaque nativo e o enriqueceu um pouco, e isso criou o som do pirata, essencialmente. É um grande sotaque, mas é apenas a visão de um ator sobre o que teria a sonoridade de um pirata.” Essa declaração ressalta a singularidade do sotaque e a ironia de que um único desempenho tenha evoluído para se tornar a representação predominante de piratas na cultura popular.

Newton, um ator inglês, trouxe à sua atuação um contexto que provavelmente facilitava sua performance pela familiaridade com o próprio sotaque. No entanto, a realidade é que os piratas históricos vinham de diversas regiões e portos, variando de sotaques, especialmente na Grã-Bretanha e na Europa, ou mesmo da América Colonial. Assim, a ideia de que todos os piratas devem soar da mesma maneira é uma simplificação que, embora divertida e prontamente reconhecida, não reflete a verdadeira diversidade da pirataria na vida real.

A influência de “Treasure Island” e a interpretação de Robert Newton se estenderam muito além de suas próprias produções. Participações como a série “Black Sails”, lançada em 2014, prestam homenagem a esse legado e expandem a narrativa do famoso romance “Treasure Island”, escrito por Robert Louis Stevenson em 1883. O impacto do sotaque de Newton nas expressões contemporâneas do gênero é indiscutível, a ponto de se tornar um elemento quase obrigatório em histórias de piratas. Isso levanta uma questão intrigante: como as representações de piratas seriam se o sotaque de Newton não tivesse sido tão amplamente adotado? Seria possível imaginar o icônico filme da Disney “Piratas do Caribe” ou até mesmo produções de videogame como “Sea of Thieves” sem essa referência? A continuidade desse estereótipo confirma a importância do primeiro passo dado por Newton.

A imersão do sotaque de Newton se reflete na maneira como o gênero de piratas se desenvolveu ao longo das décadas, e mesmo que muitas representações atuais não sejam uma cópia direta do que Newton criou, a presença de seu sotaque é um tributo ao impacto que ele teve na forma como o público percepciona os piratas. O que se vê hoje em dia é um reconhecimento e uma reverência à contribuição de Newton, demonstrando como sua performance moldou as expectativas e definições do que é ser um pirata em mídias contemporâneas.

No final das contas, o que Angus Konstam explica sobre a voz dos piratas na mídia popular revela não apenas a evolução de um estereótipo, mas também a importância das narrativas que moldam a cultura popular. À medida que continuamos a contar e recontar histórias sobre piratas, o acento de Robert Newton permanecerá uma parte essencial dessa tapeçaria, ecoando através das gerações. Seja através do clássico “Treasure Island” ou de novas aventuras que surgem, o legado de Newton está destinado a continuar navegando pelas águas da imaginação coletiva por muitos anos ainda.

Fontes: WIRED, YouTube

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