O Weekly Shonen Jump, publicação reconhecida mundialmente por suas histórias em quadrinhos japonesas que geram franquias de bilhões de dólares, anunciou uma notícia que pode mudar a dinâmica da indústria: a partir de novembro de 2024, a revista aumentará as taxas de pagamento para seus artistas. Este movimento é visto como um resultado necessário em resposta à histórica desvalorização dos criadores de manga, cuja remuneração nem sempre condiz com o sucesso comercial de suas obras. Afinal, se as histórias que criam cativam milhões de leitores pelo mundo, por que suas compensações não refletem esse valor?
Por mais de cinquenta anos, a Shonen Jump tem sido um pilar do entretenimento, moldando não apenas a cultura pop japonesa, mas também a global. Com uma audiência fiel que abrange várias gerações, a demanda pelos seus conteúdos só cresceu, gerando receitas impressionantes. De acordo com dados da Shukatsu-Mirai via Mipon, o rendimento médio anual de um mangaka varia entre ¥4 milhões e ¥6,6 milhões (aproximadamente US$ 27 mil a US$ 44 mil). No entanto, esses números têm sido questionados, especialmente quando olhamos para o esforço e as horas de trabalho exigidas nesse campo.
A partir do próximo ano, os artistas da Shonen Jump receberão um valor inicial de ¥31.350 (cerca de US$ 203) por página colorida e ¥20.900 (aproximadamente US$ 135) por páginas em preto e branco. Embora pareça um aumento digno, muitos ainda se questionam se este valor será suficiente, considerando as condições extremas de trabalho e a pressão para produzir conteúdo de qualidade em prazos apertados. O anúncio é, sem dúvida, um passo positivo, mas abre a discussão sobre como a compensação deve ser revista para incluir todos os membros das equipes criativas, que muitas vezes consistem em mais do que apenas um artista.
A luta por reconhecimento e remuneração justa não é uma novidade no Japão, onde criadores como Inio Asano destacaram as questões de saúde e bem-estar em suas obras, como no seu famoso manga Downfall. Na realidade, a maioria das histórias publicadas no Weekly Shonen Jump enfrenta uma dura batalha para sobreviver a um ano completo, com muitas sendo canceladas prematuramente. Este cenário não só coloca a estabilidade financeira dos mangakas em perigo, mas também suas saúde mental e física, especialmente quando associamos isso ao ciclo extenuante de criação de conteúdo que a indústria exige.
Um exemplo marcante dessas pressões é o caso de Eiichiro Oda, autor de One Piece, cuja recente pausa forçada não apenas chamou atenção para a necessidade de um tratamento mais humano nas indústrias criativas, mas também levantou questões sobre a viabilidade do modelo de trabalho atual. A falência da saúde de Oda em decorrência do estresse associado à criação contínua de uma das séries de maior sucesso do mundo é um lembrete sombrio de que a fama e o sucesso não são, de forma alguma, uma garantia de bem-estar.
Adicionalmente, a Jump GIGA, revista que abriga o manga Black Clover, também teve aumento de taxas com seus artistas recebendo ¥19.800 (cerca de US$ 128) por página colorida. No entanto, mesmo com esse reconhecimento, os desafios persistem. A divisão dos pagamentos entre criadores e assistentes é um fator que pode desestabilizar o equilíbrio financeiro que muitos almejam. Cada vez mais, as questões de saúde mental e condições de trabalho estão se tornando tópicos essenciais que precisam ser discutidos ao lado dos aumentos salariais.
Enquanto a indústria do manga continua a evoluir, a responsabilidade recai sobre editoras como a Shueisha e a Weekly Shonen Jump para abordar questões críticas além do aumento de pagamentos. Independentemente da popularidade das séries, é imperativo que o foco não seja apenas a produção em massa, mas a saúde e o bem-estar dos criadores que tornam tudo isso possível. Se a indústria realmente deseja se reinventar e atrair novos talentos, soluções mais abrangentes e sustentáveis são essenciais. Afinal, sem artistas saudáveis, não há criatividade duradoura.
Em suma, a decisão da Shonen Jump de aumentar os pagamentos aos seus mangakas é um sinal positivo, mas não é suficiente para resolver os problemas maiores que assolam a indústria do manga. Para que esses criadores realmente prosperem, um compromisso contínuo em melhorar as condições de trabalho e garantir uma compensação justa deve ser mantido como prioridade.