A situação em Gaza parece cada vez mais sombria, principalmente à luz dos recentes desenvolvimentos que trouxeram alívio ao Líbano. Enquanto a trégua entre Israel e Hezbollah oferece um respiro necessário aos libaneses, os palestinos em Gaza sentem-se abandonados e isolados, mesmo com o governo dos Estados Unidos intensificando seus esforços para encerrar os combates na região devastada. Essa vulnerabilidade expõe um paradoxo gritante em um cenário de múltiplas frentes de conflito no Oriente Médio, onde aqueles que mais sofrem geralmente são os civis.
Durante quase um ano, o Hezbollah fez questão de ressaltar sua determinação em não interromper a batalha contra Israel até que um cessar-fogo em Gaza fosse alcançado. Porém, após uma escalada dramática da campanha militar israelense, que culminou na eliminação de importantes líderes do Hezbollah, o grupo militante libanês foi forçado a repensar sua posição e, em um movimento estratégico, abandonou sua exigência inicial de um cessar-fogo. A partir deste ponto, a dinâmica do conflito mudou, colocando Gaza em uma posição ainda mais vulnerável.
Os moradores de Gaza, como Hatem Mohamed, de 47 anos, expressam sua frustração ao constatar que o movimento de Hezbollah parece ter priorizado sua sobrevivência enquanto seus músculos de luta são ampliados no Líbano. “Gaza é deixada sozinha. O Hezbollah tem suas próprias considerações para abandonar Gaza e preservar o que restou de suas forças… e isso não é vantajoso para nós”, desabafou Hatem. Esse sentimento de abandono é palpável, levando a uma sensação de que a causa palestina poderá ser sacrificada no altar das negociações geopolíticas que estão ocorrendo à sombra do conflito.
Atualmente, as negociações para um cessar-fogo em Gaza e a liberação dos reféns israelenses permanecem paralisadas, com ambas as partes relutantes em ceder em suas demandas. Os números falam por si: ao todo, mais de 250 pessoas foram sequestradas em ataques do Hamas a Israel no dia 7 de outubro de 2023. Desde então, mais de 1.200 perderam a vida devido ao conflito conturbado. Embora a pressão internacional esteja crescendo, tanto Israel quanto o Hamas permanecem firmes em suas exigências respectivas, o que apenas reforça um ciclo vicioso de hostilidade e intransigência.
Qatar, uma das chaves mediadoras em negociações anteriores de cessar-fogo, anunciou recentemente que recuou dessa posição, fechando o escritório político do Hamas em Doha após avaliar que as partes não estavam negociando de boa fé. Isso soa como um sino de alarme em um contexto mais amplo, onde a falta de bons ofícios e diálogo torna-se a norma e não a exceção. Por sua vez, analistas apontam que o cessar-fogo entre Israel e Hezbollah pode não ter impacto significativo nas conversas em andamento relacionadas a Gaza. Para Tahani Mustafa, analista da International Crisis Group, as exigências de ambos os lados são mutuamente exclusivas e Israel não sente pressão suficiente para diminuir a intensidade de suas ações militares.
Netanyahu revela que não está pronto para acabar com a guerra
Apesar de todos esses desafios, líderes israelenses e americanos estão começando a sinalizar que a trégua no Líbano poderia abrir um novo espaço para discussões sobre um cessar-fogo em Gaza. O governo Biden, que se aproxima de um término, expressou que pode haver uma “nova oportunidade” para impulsionar um acordo no enclave. O Conselheiro de Segurança Nacional, Jake Sullivan, destacou em uma recente entrevista que a pressão está aumentando sobre o Hamas, já que o cenário se transforma em um campo de visão global, onde não apenas Israel e os EUA observam, mas um olhar atento de outras nações também estará sobre o movimento palestino.
Por outro lado, o primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, na mesma linha de raciocínio, afirmou que as condições para um acordo que garanta a liberação de reféns israelenses melhoraram, no entanto, deixou claro que não assinará um cessar-fogo definitivo enquanto o Hamas continuar existindo na estrutura populacional de Gaza. “Estou pronto para um cessar-fogo a qualquer momento. Mas acabar com a guerra, isso eu não estou pronto, pois precisamos alcançar a eliminação do Hamas”, declarou Netanyahu, revelando a natureza complexa e angustiante do impasse atual.
Enquanto isso, as tragédias que se desenrolam em Gaza pessoalmente afetam o dia a dia da população. Com a chegada do inverno, a situação se torna ainda mais crítica, pois muitos palestinos deslocados enfrentam condições climáticas severas em abrigos temporários desgastados. Muitas vezes, as famílias refugiadas falham em obter a assistência humanitária necessária, resultando em uma crise humanitária que se aprofunda à medida que os meses passam. “Se o Hezbollah finalizou sua guerra, então, Deus queira que estejamos próximos do fim (em Gaza)”, alertou Jihad Abu Yasser, um jovem padeiro, com frustração evidenciada em suas palavras, um clamor comum entre os que se veem presos entre a luta por direitos e a sobrevivência.
À medida que os dias passam e as esperanças para um futuro pacífico diminuem, a trajetória dessas linhas de batalha continua a colocar em xeque a resiliência da população de Gaza e a sua luta, em um contexto que parece ressoar muito além das fronteiras geográficas do conflito.
Fontes: CNN, International Crisis Group.