A época das festas de fim de ano está se aproximando, e a empolgação nas casas aumenta à medida que as crianças fazem suas listas de presentes. Para muitos pais, a pergunta que paira no ar é se um smartphone ou tablet deve ser incluído nessa lista. Se você é um dos muitos que estão considerando essa possibilidade, é hora de refletir. Afinal, um dispositivo que oferece acesso direto à internet e redes sociais pode transformar o Natal ou Hanukkah de uma criança em algo mágico, mas também traz uma série de responsabilidades e preocupações que devem ser avaliadas antes da compra.
Segundo especialistas em desenvolvimento infantil, como a Dra. Anita Everett, diretora do Centro de Serviços de Saúde Mental da Administração de Abuso de Substâncias e Saúde Mental, embora a conectividade e o acesso à informação sejam vantajosos, existem preocupações legítimas sobre o impacto no desenvolvimento, segurança e saúde mental das crianças. Historicamente, psicólogos têm sugerido que o acesso a dispositivos móveis e às redes sociais seja adiado o máximo possível, com recomendações, como a de Jonathan Haidt, que sugere esperar até os 16 anos. Mas se a decisão já foi tomada e a lista de presentes inclui um smartphone, como podemos garantir que essa transição ocorra de maneira mais tranquila possível?
Para que essa experiência seja melhor aproveitada, é fundamental que os pais se preparem, sendo conscientes das maiores preocupações, conhecendo as necessidades dos filhos e estabelecendo limites claros. Phyllis Fagell, uma conselheira profissional licenciada e autora, compara a entrega de um smartphone à compra de um novo animal de estimação. “Não se trata apenas de trazer para casa o que a criança deseja. Assim como com um cachorro, você deve estar preparado para os desafios que podem surgir”, afirma ela. “Por isso, é tão importante preparar o terreno antes de entregar um smartphone. Converse abertamente com seus filhos para garantir que todos estejam na mesma página.
Com a crescente popularidade dos smartphones, vem também uma série de riscos associados, como exposição a conteúdo inadequado, interação com estranhos e bullying virtual. A Dra. Hansa Bhargava, pediatra do Children’s Healthcare of Atlanta, alerta sobre os efeitos que o uso excessivo desses dispositivos pode ter no desenvolvimento das crianças. “A literatura demonstra que o tempo excessivo em frente a telas pode interferir nas interações sociais e no desenvolvimento PSíquico. A interação pessoal é crucial para a saúde mental e o desenvolvimento do cérebro”, afirma Bhargava. Além disso, ela menciona que mesmo interações simples, como uma conversa rápida pelo telefone, são preferíveis à troca de mensagens por texto.
Embora ainda não se tenha uma comprovação conclusiva sobre a dependência do uso de dispositivos, muitos pediatras estão preocupados com os efeitos que o uso excessivo pode ter no cérebro das crianças. Os smartphones podem afetar a liberação de dopamina, o neurotransmissor ligado à sensação de prazer, de forma semelhante a substâncias viciantes. A Dra. Everett adiciona que, em crianças mais velhas, pode haver um aumento da ansiedade quando o celular é desligado, ou quando é necessário permanecer longe das redes sociais por um tempo.
A importância de considerar as necessidades individuais de cada criança
Ao pensar em dar um smartphone, os pais devem analisar especificamente as necessidades, desafios e a maturidade do filho. O que pode ser adequado para uma criança pode não ser para outra, mesmo dentro da mesma família. A Dra. Bhargava aconselha que o timing pode ser muito importante. “Geralmente, quanto mais tarde, melhor”, diz ela. “No entanto, é crucial considerar as necessidades individuais. Você deve perguntar: essa criança segue regras? Ela se distrai facilmente? Costuma fazer decisões impulsivas que pode lamentar depois?” Conhecer os motivos pelos quais a criança deseja ter um smartphone também pode ajudar os pais a decidir sobre seu uso; em alguns casos, um celular simples pode ser uma opção mais viável.
De acordo com a conselheira Phyllis Fagell, muitas crianças desejam ter um smartphone para não ficar de fora das conversas com amigos. No entanto, como as crianças amadurecem, a forma como utilizam seus dispositivos pode mudar. Pode-se observar um sexto ano que usa o smartphone de maneira responsável, mas a situação pode mudar ao chegar à oitava série, onde a pressão de grupo e a busca por aceitação podem fazer com que alguns adolescentes cometam erros.
Estabelecendo limites para o uso do smartphone
Ao definir regras quanto ao uso do smartphone, as diretrizes variam de família para família, mas algumas boas práticas incluem priorizar a vida real em vez de telas. A Dra. Bhargava sugere regras como: nenhum telefone durante as refeições, não usar o dispositivo até concluir as tarefas escolares, e proibir a utilização na escola. Além disso, é vital que os pais liderem pelo exemplo. Se você deseja que seus filhos cumpram as regras, é fundamental que você também as siga.
Uma regra importante que muitos especialistas concordam é que os celulares não devem funcionar como barreiras para o desenvolvimento saudável das crianças. Eliminar distrações durante o aprendizado é essencial, e a Dra. Fagell aconselha a impedir que telefones sejam levados para o quarto à noite, evitando comportamentos impulsivos que podem acontecer quando uma criança usa o telefone sozinha em um ambiente privado.
Além disso, os pais devem estar cientes das configurações de privacidade dos dispositivos, assim como dos contatos que seus filhos podem ter online. É fundamental que cumpra com a responsabilidade de revisar periodicamente o conteúdo acessado. Dessa forma, conversas abertas sobre segurança online se tornam inevitáveis. “Devemos estar atentos ao que está acontecendo em suas vidas, como usam os dispositivos e a apoio que possam necessitar. Estar pronto para um reset de regras pode ser necessário a qualquer momento”, conclui a Dra. Fagell.
Praticar o que se prega
Os pais devem lembrar que, ao conceder um smartphone a seus filhos, eles também estão assumindo uma nova responsabilidade. Pergunte a si mesmo: você tem tempo para monitorar o uso das redes sociais e dos dispositivos? Se não consegue encontrar tempo hábil, como poderá garantir que seus filhos cumpram as regras? Lembre-se de que é mais fácil praticar o que você prega: coloque seu telefone de lado durante os jantares em família e estabeleça horários específicos para o uso do smartphone.
Ter conversas importantes sobre o uso do smartphone
Dar a um filho um smartphone não é apenas uma questão de estipular regras de uso, mas também envolve ter conversas significativas sobre o potencial negativo da internet. Isso inclui não apenas discutir a responsabilidade de ser um bom cidadão digital, mas também mostrar a repercussão que ações impensadas podem trazer a longo prazo. Assim, uma comunicação saudável ficará estabelecida durante essa transição.
Para ajudar nessa fase de transição, recursos como os conversation starters da Administração de Abuso de Substâncias e Saúde Mental podem ser muito úteis aos pais ao estabelecer as diretrizes de segurança online, criando um ambiente nas quais as crianças saibam que podem se abrir e vir até nós sempre que precisarem.
Em resumo, a escolha de dar um smartphone a uma criança pode trazer inegáveis benefícios, além de desafios. O importante é fornecer as orientações, os limites e o suporte necessários para garantir que essa experiência contribua positivamente para o desenvolvimento e a segurança da criança.