Embora a cerveja e as bebidas alcoólicas sejam muitas vezes consideradas resistentes à recessão, a verdade é que estão longe de serem imunes a tarifas. Com a intenção do ex-presidente Donald Trump de implementar uma tarifa de 25% sobre produtos importados do Canadá e do México, a próxima rodada de tarifas pode fazer com que os consumidores americanos tenham que pagar mais por algumas de suas bebidas preferidas, incluindo a cerveja Modelo, uma das marcas mais populares do país.

Especialistas da indústria e proprietários de negócios já começam a se preparar para possíveis aumentos nos preços, especialmente aqueles que dependem da importação, como a tequila, que é exclusivamente produzida no México. Para evitar que seus clientes gastem mais, alguns atendentes do setor decidiram estocar produtos populares.

“Muitas dessas empresas, especialmente as menores, não têm muita escolha a não ser repassar esses custos”, comentou Dave Williams, presidente da Bump Williams Consulting, que auxilia o setor de bebidas alcoólicas com serviços de consultoria e análises. Ele acrescenta ainda que a realidades são desafiadoras: “A infeliz realidade é que isso vai se refletir nos preços ao consumidor.”

Os efeitos das tarifas não afetarão apenas as pequenas empresas, mas também as maiores do setor. A Constellation Brands, que importa as famosas cervejas Modelo e Corona, bem como a tequila Casa Noble do México, poderia enfrentar um aumento de custos de 16%, segundo um analista da Wells Fargo, Chris Carey. Isso, por sua vez, pode levar a um aumento estimado de 4,5% nos preços das bebidas.

Por ora, as tarifas ainda são apenas uma proposta, mas caso se tornem realidade, representariam um forte golpe a uma indústria já debilitada por guerras comerciais, interrupções na cadeia de suprimentos e uma batalha global contra a inflação. Williams observa que “é para isso que servem as negociações: para iniciar conversas e desencadear esperanças de que cheguem a um resultado satisfatório para todos”. Porém, alerta que é importante que as empresas se preparem para o pior caso.

Uma “biblioteca” de tequila em Nova Jersey

Um exemplo notável é o Meximodo, um restaurante e bar de tequila em Metuchen, Nova Jersey, que já tomou medidas para se proteger contra os potenciais aumentos de preços. Meximodo detém o título do Guinness World Records de mais variedades de bebidas espirituosas de agave, com uma coleção de 1.033 garrafas de tequila e mezcal. Para um negócio que usa produtos importados e serve pratos autênticos mexicanos, a tarifa de 25% representaria um ônus enorme.

Meximodo, um restaurante em Metuchen, Nova Jersey, atua com diversidade e na preservação do tequila.
Meximodo, um restaurante em Metuchen, Nova Jersey, atua com diversidade e na preservação do tequila.

Segundo TJ Pingitore, vice-presidente sênior do Le Malt Hospitality Group, que opera o Meximodo, a empresa está utilizando tecnologia para melhorar a eficiência em operações, contabilidade e fornecimento, o que pode ajudar a suavizar os impactos das tarifas. “Se nós experimentarmos tarifas de 20% ou 30%, o cliente final pode perceber apenas uma pequena fração disso”, garante Pingitore.

Além das táticas tecnológicas, a Le Malt adotou uma estratégia mais simples para lidar com esses riscos: aumentar as importações. Recentemente, a empresa triplicou um pedido, passando de 12.000 para 36.000 garrafas de tequila, não querendo arriscar a escassez caso as tarifas venham a ser implementadas.

Importações do México aumentam e atraem tarifas

Em uma reviravolta significativa, o México substituiu a China como o maior exportador de produtos para os Estados Unidos. Em 2023, os americanos importaram $5,69 bilhões em cerveja e $4,81 bilhões em álcool do México, contabilizando um aumento impressionante de 126% desde 2017. Este contexto intensifica as preocupações relacionadas às tarifas, exacerbando um cenário já delicado.

De acordo com o Conselho de Bebidas Destiladas dos Estados Unidos, no último ano, o país também importou **$543 bilhões em álcool** do Canadá. As tarifas podem ter efeitos de >”spreading”<, com outros países retaliando com suas próprias taxas sobre produtos americanos. E a experiência passada sugere que as consequências podem ser drásticas. Após a imposição de tarifas sobre o aço e alumínio em 2018, as exportações de uísque americano para a União Europeia caíram 20% entre 2018 e 2021, mas, logo após a suspensão das tarifas, dispararam para um recorde de **$2,2 bilhões em 2023**.

As pequenas cervejarias também podem sentir o impacto

Ainda que as pequenas e independentes cervejarias, que geram quase **190.000 empregos**, possam ser consideradas menos afetadas, isso não significa que estejam livres de impactos. Katie Marisic, diretora sênior de assuntos federais da Brewers Association, afirma que “mais de 9.900 pequenas e independentes cervejarias existem; nós fazemos produtos que não podem ser fabricados em nenhum outro lugar”. Contudo, ela adverte que mesmo assim essas pequenas cervejarias não estão totalmente imunes às tarifas.

Cervejas sendo produzidas em uma operação diurna de um cervejaria
Imagem de uma linha de enchimento de cerveja em uma cervejaria.

O aumento de tarifas pode elevar os custos de ingredientes essenciais, como a cevada maltada canadense e o alumínio, que é crucial para as latas de cerveja. Em 2018, as tarifas dos Trump geraram aumentos de preço devido aos impactos materiais sobre a cerveja artesanal. Os desafios de adaptação são inevitáveis, conforme as cervejarias tentam inovar em um cenário financeiro desafiador.

Portanto, com todas essas mudanças no horizonte, os amantes de cerveja e tequila podem precisar preparar seus bolsos para o que vem a seguir. Será que as tarifas realmente se concretizarão ou tudo não passará de uma simples conversa de mercado? O futuro já começou a ser esboçado.

Similar Posts

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *