Exploração inovadora revela novos habitats de vida marinha
Um grupo de cientistas conseguiu, de forma inesperada, identificar comunidades de animais como vermes-tubo e caracóis habitando cavernas vulcânicas localizadas no subsolo marinho. Essa descoberta, além de surpreendente, revela a existência de um ecossistema vibrante que estava até então desconhecido para a ciência. A pesquisa foi realizada durante uma expedição de 30 dias a bordo do navio de pesquisa “Falkor (too)”, do Schmidt Ocean Institute, com o objetivo de explorar um vulcão subaquático localizado na costa da América Central, que faz parte da elevação do Pacífico Oriental.
A elevação é uma crista geológica onde duas placas tectônicas se encontram no fundo do Oceano Pacífico, destacando-se como uma região de atividade vulcânica intensa. Neste local, estão localizadas as fontes hidrotermais, que são aberturas no fundo do mar onde a água do mar e o magma quente das profundezas da crosta terrestre se encontram, criando o que podemos considerar fontes termais subaquáticas. Uma diversidade de vida marinha se agrupa ao redor dessas fontes, onde elementos químicos se misturam, proporcionando os nutrientes necessários para a sobrevivência de organismos como bactérias, mexilhões, vermes-tubo e outros animais que habitam as grandes profundezas oceânicas. Enquanto o ecossistema das fontes hidrotermais já foi objeto de estudos aprofundados, as áreas localizadas abaixo dessas fontes haviam permanecido em grande parte inacessíveis até o momento.
Uma revelação impactante sobre a vida subterrânea
Utilizando o veículo operado remotamente chamado SuBastian, os pesquisadores conseguiram acessar partes do subsolo marinho e fizeram uma descoberta surpreendente: cavernas conectadas às fontes hidrotermais e repletas de vermes-tubo gigantes, que chegam a medir até 0,5 metros de comprimento, além de outros animais. Essa revelação sugere uma interconexão entre os ecossistemas do fundo do mar e do subsolo, criando condições para que a vida prospere em locais inesperados tanto acima quanto abaixo do fundo do oceano. A equipe que fez essa descoberta registrou a primeira observação de um ecossistema subterrâneo em junho de 2023, mas o relato sobre o ambiente e suas formas de vida foi divulgado recentemente na revista Nature Communications.
Segundo a bióloga marinha e coautora do estudo, Dr. Sabine Gollner, é de extrema importância entender como os animais se deslocam e se dispersam, permitindo assim um vislumbre sem precedentes sobre este ambiente inexplorado. Ela comentou sobre a relevância dos estudos realizados, afirmando que a capacidade dos animais de viver em condições tão extremas abaixo das fontes hidrotermais é algo verdadeiramente surpreendente.
Os cientistas têm investigado a vida animal que se agrupa ao redor das fontes hidrotermais ao longo dos últimos cinquenta anos. As movimentações das placas tectônicas da Terra resultam na formação de novas fontes hidrotermais ao longo do tempo, levando a um rápido processo de colonização por animais fundamentais do fundo do mar, como os vermes-tubo. Através de análises previamente realizadas, há indícios de que a vida microbiana também habita o subsolo marinho, com amostras coletadas a partir de fluidos liberados pelas fontes hidrotermais. Apesar de os vermes-tubo já terem sido observados vivendo em fendas do fundo do mar, a equipe de pesquisa questionou como suas larvas, que possuem menos de um milímetro de comprimento, conseguiriam nadar contra a correnteza para se estabelecerem e crescerem nessas condições adversas.
Para investigar essa dinâmica, a equipe projetou um experimento que envolvia a colocação de caixas de malha no fundo do mar, sob uma profundidade de 2.515 metros, com o intuito de coletar amostras de fendas na crosta terrestre. Contudo, o que começou como uma simples experiência revelou-se um grande desafio. Foi necessário desenvolver métodos criativos e inovadores para explorar o subsolo. O uso do SuBastian incluiu a perfuração de pequenos buracos em rochas do fundo do mar, revelando câmaras riandentes abaixo das fontes hidrotermais, onde a temperatura da água atingia surpreendentes 24 graus Celsius. Nesse ambiente quente, não apenas os vermes-tubo, tanto em larvas quanto em forma adulta, foram encontrados, mas também caracóis e bactérias quimiossintéticas.
Com a ausência de luz solar nas profundezas do fundo do oceano, os organismos dependem de outros mecanismos para sobreviver. As bactérias quimiossintéticas, por exemplo, utilizam reações químicas para produzir açúcares que servem como alimento para os animais que se agrupam nas fontes hidrotermais. A descoberta ampliou significativamente a compreensão sobre a vida animal nestes ecossistemas, conforme apontou a principal autora do estudo, Dr. Monika Bright. Ela mencionou que as comunidades de animais que habitam os ambientes acima e abaixo do fundo do mar convivem em um delicado equilíbrio, dependendo dos fluidos das fontes e do oxigênio proveniente da água do mar.
O futuro da pesquisa sobre os ecossistemas marinhos
A descoberta de vida em este sub-habitat anteriormente desconhecido levanta questões sobre a diversidade biológica que pode existir nas profundezas do oceano, além do que já temos registrado. Alex Rogers, um biólogo marinho e diretor de ciência do Ocean Census, que não participou deste estudo, expressou sua crença de que a interdependência desses ecossistemas subterrâneos pode continuar a existir, mesmo quando as fontes se tornem inativas, formando assim novos habitats para outras espécies.
Os pesquisadores planejam prosseguir com investigações para determinar a existência de vida em todos os ventos hidrotermais de profundidade e buscar entender a extensão horizontal e vertical das cavernas. O estudo salienta a necessidade de proteger esses frágil ecossistemas, tanto os visíveis na superfície quanto aqueles ocultos abaixo dela, já que cada parte desempenha um papel crucial em sua manutenção. A equipe apenas levantou seis pequenos quadrados do fundo marinho durante a pesquisa para minimizar a perturbação, com receios de que uma intervenção maior, como a mineração de fundo marinho, alterasse a dinâmica das fontes hidrotermais, levando à morte das comunidades que dependem delas. Dr. Bright enfatizou a importância de proteger não apenas o que está acima, mas também o que se encontra oculto sob a superfície, uma vez que esse universo subaquático é uma parte integral de um ecossistema maior.