A recente reeleição do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tem ressoado fortemente na Europa, especialmente entre os partidos de extrema direita que se veem fortalecidos por sua vitória. Em seu discurso após o resultado das eleições, Trump proclamou a chegada de uma nova “era dourada da América” e se gabou de ter realizado “o maior movimento político de todos os tempos”. Para os populistas europeus, isso é mais do que uma retórica; é um sinal de que suas próprias agendas anti-imigração e nacionalistas podem ganhar impulso.
A celebração do retorno de Trump foi evidente entre líderes de partidos populistas. Geert Wilders, do Partido da Liberdade da Holanda, enviou sua mensagem de congratulações através da rede social X, instando Trump a não desistir e a continuar lutando e vencendo eleições. De forma semelhante, Alice Weidel, co-líder do partido Alternativa para a Alemanha (AfD), destacou que não foi o “woke Hollywood”, mas sim “o povo trabalhador americano” que decidiu as eleições. Estes comentários refletem a esperança de muitos partidos populistas da Europa de que a retórica e as políticas de Trump lessem um padrão de normalização para as suas próprias plataformas, que muitas vezes incluem forte oposição à imigração e a defesa de valores tradicionais.
Viktor Orbán, primeiro-ministro da Hungria e líder do partido Fidesz, saudou a vitória de Trump como uma “vitória muito necessária para o mundo”. No entanto, apesar do clima de celebração, a renomada pesquisadora da Chatham House, Armida van Rij, aponta para a complexidade do panorama político europeu. Segundo ela, embora haja sobreposições nas agendas dos partidos populistas da Europa e na do presidente Trump, é fundamental não simplificar a diversidade desses grupos políticos como um único bloco homogêneo. Van Rij identifica três temas centrais que unem esses partidos: a negação da “cultura woke”, a defesa de valores tradicionais e uma forte oposição à imigração.
A reação da extrema direita na Europa não se limita apenas ao discurso, mas também se manifesta na ação política. A agenda ambiental da União Europeia, que enfrenta resistência significativa por parte de líderes de extrema direita que desejam minimizar ou eliminar legislações climáticas, faz parte desse discurso. As promessas de Trump de anular praticamente todos os esforços do presidente Joe Biden em reduzir emissões de carbono agora têm ressonância em uma Europa onde os partidos populistas procuram combater o que consideram um exagero da ação climática.
A normalização e amplificação de ideias radicais na política europeia
Outro aspecto convergente entre Trump e seus aliados europeus é a construção de uma identidade nacional forte, que define o que um americano, um húngaro ou um italiano deve ser. A linguagem usada pela extrema direita em toda a Europa, como os slogans anti-imigração proferidos pelo Partido da Liberdade da Áustria, ilustra isso. Exemplos chocantes, como “amor à pátria em vez de ladrões marroquinos”, revelam essa busca por uma identidade nacional purificada.
Ainda assim, mesmo com esse novo encorajamento, a análise do Center for European Reform sugere que a retórica de Trump pode acabar fortalecendo a extrema direita na Europa, normalizando e amplificando suas ideias. No entanto, há uma preocupação subjacente de que, apesar da aparente sinergia, os interesses dos populistas europeus podem ser muito diferentes das políticas que Trump deseja implementar.
Por exemplo, enquanto Orbán celebra a vitória de Trump, sua proximidade econômica com a China, representada por seu forte vínculo com o presidente Xi Jinping, pode se tornar uma área de conflito dado que a China é considerada um inimigo por muitos dentro do Partido Republicano. Van Rij argumenta que essa tensão pode se intensificar, com os EUA exigindo que Orbán escolha um lado, uma situação que ele pode não estar disposto a aceitar. Ao mesmo tempo, a relação de Orbán com Trump não é isenta de riscos, pois o primeiro-ministro deve equilibrar suas alianças internas e externas em um clima de crescente polarização.
O impacto dessas dinâmicas é palpável em outros países, como na França, onde a líder do partido nacionalista, Marine Le Pen, ofereceu uma resposta mais contida à reeleição de Trump. Le Pen talvez esteja mais consciente das implicações econômicas de um retorno à política “América Primeiro”, que pode afetar negativamente a economia francesa, frequentemente descrita como uma das principais economias da zona do euro. Em um momento em que a França ocupava o quarto lugar como maior exportador para os EUA da UE, as tarifas propostas por Trump podem se traduzir em consequências adversas em sua campanha por um assento presidencial.
Desafios e oportunidades futuras para os populistas europeus
À medida que observamos o desdobramento dessa nova era de Trump, fica claro que seus aliados europeus poderão ser tanto favorecidos quanto desafiados. E embora a retórica unificadora possa gerar um sentimento de apoio mútuo, a realidade das políticas de Trump resultará em contraditórias dinâmicas de poder nas quais os populistas precisam navegar. A disparidade nas agendas de política econômica e a variação nas prioridades exteriores destacam a complexidade desse novo relacionamento, sugerindo que celebrando a vitória de Trump, os populistas da Europa podem enfrentar novos dilemas. Van Rij observa que, apesar de todos compartilharem a retórica de anti-imigração, as divergências nas políticas econômicas e externas podem acabar criando fraturas no movimento populista europeu.
Assim, enquanto a reeleição de Trump parece proporcionar um novo ar de entusiasmo entre os populistas europeus, a realidade complexa de suas políticas e as divisões internas poderão trazer desafios inesperados para o futuro. Fica a pergunta: será que os populistas vão conseguir transformar essa onda de apoio em uma mudança política significativa ou estarão condenados a lutar contra as contradições que a própria política de Trump pode trazer? O tempo dirá.