Nos últimos dias, a Geórgia tem sido palco de intensos protestos que vão além do que poderia ser imaginado, refletindo um descontentamento generalizado com as recentes decisões do governo. O que começou como uma resposta a um adiamento na proposta de adesão ao **União Europeia (UE)** rapidamente se transformou em uma onda de manifestações que agitaram o país e chamaram a atenção internacional. Neste cenário tumultuado, cidadãos de todas as classes sociais se uniram em busca de uma voz que represente seus anseios por um alinhamento mais próximo ao Ocidente, desafiando um governo que tem sido criticado por sua inclinação autoritária e laços com a **Rússia**.
A Geórgia, um país situado no sul do Cáucaso com aproximadamente 3,7 milhões de habitantes, tem vivido uma crescente insatisfação política. Após uma vitória controversa do partido **Georgian Dream** nas eleições de outubro, que muitos considerados um plebiscito sobre a adesão da Geórgia à UE, as tensões se intensificaram de forma alarmante. Enquanto a Constituição georgiana já estabelece a busca pela adesão europeia como um objetivo central do país, o governo manifestou uma recuada significativa, sugerindo uma aproximação com a **Rússia** e sinalizando que as conversações para adesão ao bloco europeu seriam suspensas por quatro anos. Esta decisão veio em resposta à rejeição dos resultados eleitorais georgianos pela **Parlamento Europeu**, que citou alegações de irregularidades.
As ruas de Tbilisi, a capital georgiana, inundaram-se com manifestantes que demandavam não apenas a volta às negociações de adesão com a União Europeia, mas também denunciavam o tratamento agressivo dos órgãos de segurança pública. A resposta do governo, marcada por um forte aparato policial e uso de gases lacrimogênios e canhões de água, gerou mais indignação entre a população, resultando em confrontos diretos entre manifestantes e forças policiais. Já na primeira semana de dezembro, as manifestações haviam se espalhado para pelo menos oito cidades, com relatos de violência e detenções de mais de 100 protestores, além de pessoas sendo hospitalizadas devido à gravidade dos confrontos.
Entre os que se uniram aos protestos, apoiadores da democracia afirmaram que não reconhecem mais a legitimidade do governo e que seus direitos de expressão e reunião estão sendo violados. Muitas testemunhas oculares da repressão relataram uma brutalidade sem precedentes, comparável a tempos de repressão durante a era soviética. Uma vinícola local, Tsotne Jafaridze, expressou sua descrença ao se referir à agressão praticada contra civis, incluindo idosos e mulheres. A presidente do país, **Salome Zourabichvili**, criticou a forma como a polícia tratou jornalistas e líderes opositores, fazendo um paralelo com a repressão característica da Rússia.
O contexto que levou a esse turbulento cenário não é novo. Com a invasão da Geórgia pela Rússia em 2008, o ressentimento contra o vizinho do norte sempre esteve presente, e a grande maioria dos georgianos abraça a ideia de uma integração europeia. Uma pesquisa recente revelou que quase 80% da população apoia a adesão à UE, um desejo acentuado desde o início da guerra na **Ucrânia** em 2022, que resultou na fuga de milhares de russos para a Geórgia, exacerbando temores de uma “rusificação” do país. O governo do Georgian Dream, que tem vínculos com interesses russos e uma crescente tendência autoritária, gerou uma defesa clara por parte da população, que resiste ao cerceamento de direitos e liberdades fundamentais.
Internacionalmente, a resposta à violação dos direitos humanos por parte do governo georgiano tem sido vigorosa. Os Estados Unidos e a União Europeia condenaram o uso excessivo da força policial contra protestantes e expressaram preocupação com o estado de crescente autoritarismo na Geórgia. O Departamento de Estado dos EUA anunciou a suspensão de sua parceria estratégica com a Geórgia em decorrência das “ações antidemocráticas” e reforçou o pedido ao governo do país para que retome sua trajetória euro-atlântica. A comissária de política externa da União Europeia, **Kaja Kallas**, reiterou o apoio ao povo georgiano, afirmando que as represálias contra os manifestantes e a hesitação do governo em prosseguir seu caminho europeu trariam “consequências diretas” da parte da UE.
Em meio à tensão crescente e manifestação nacional, o governo georgiano, liderado por **Irakli Kobakhidze**, tentou minimizar as críticas, alegando que a polícia agiu para proteger a ordem constitucional. Apesar da confirmação de ações repressivas, o partido de governo insiste que a busca pela adesão à União Europeia ainda é uma prioridade, embora desafiando os apelos internos e externos para que reconsidere sua posição.
A atual situação na Geórgia é um indício claro de que a luta por um futuro democrático está longe de ser resolvida. A inconformidade do povo georgiano frente a um governo que se alinha com os interesses russos é palpável e, enquanto o derramamento de sangue e a brutalidade policial se agravam, levantam questões sobre até onde a resistência pode ir e que futuro se desenha para essa nação que já sonhou em ser parte da Europa.
Os protestos na Geórgia nos convocam a pensar sobre os desafios enfrentados pelas democracias na atualidade, revelando a importância da defesa dos direitos humanos e liberdades fundamentais. Apenas o tempo dirá qual será o desfecho dessa batalha pela soberania e pela direção política do país.