Conacri, Guiné — A cena chocante de um estádio de futebol transformado em um campo de tragédia se desenrolou no último domingo, quando uma estampida resultou na morte de pelo menos 56 pessoas, incluindo várias crianças, e deixou muitas outras feridas em Nzerekore, no sul da Guiné. O incidente, que se seguiu a confrontos entre torcedores durante uma partida de um torneio local, acendeu um alerta sobre a segurança em eventos esportivos no país. O governo militar da Guiné, que assumiu o poder em um golpe de estado em 2021, anunciou uma investigação para determinar a responsabilidade pelos eventos catastróficos, conforme declarado pelo ministro da Comunicação, Fana Soumah, em um pronunciamento veiculado pela televisão nacional.

As tensões começaram a aumentar entre os torcedores das equipes Labe e Nzerekore durante a final do torneio, que visava homenagear o líder militar do país, Mamadi Doumbouya. Relatos indicam que a confusão teve início após um pênalti contestado, o que levou os apoiadores a expressarem sua frustração por meio de protestos e, em alguns casos, jogando pedras, uma situação que complicou ainda mais a intervenção das forças de segurança que, segundo fontes locais, utilizaram gás lacrimogêneo, exacerbando o clima de pânico.

Pessoas se apressam em Nzerekore onde oficiais locais disseram que um esmagamento ocorreu após confrontos em um jogo de futebol
Pessoas se apressam em Nzerekore, Guiné, onde oficiais locais relataram uma mortal pressão no estádio após confrontos entre torcedores durante uma partida de futebol, 1 de dezembro de 2024, em uma imagem obtida de um vídeo de rede social.

Crédito: Redes sociais/Reuters

Vídeos que circulam nas redes sociais capturaram o desespero do momento, com torcedores correndo em busca de uma saída, muitos deles escalando cercas para escapar do caos. Em um dos vídeos, a gravidade da situação é evidente, com pessoas caídas no chão enquanto outros tentam prestar socorro. As consequências do incidente foram devastadoras, com autoridades locais relatando que vários dos feridos estavam em estado crítico e recebendo tratamento em hospitais regionais.

Conforme o desespero se espalhava, um grupo de oposição, a Aliança Nacional pela Alternância e Democracia, fez um apelo para que uma investigação independente fosse conduzida. Acoalizão criticou a realização do torneio, acusando os organizadores de usá-lo como uma estratégia para angariar apoio para as “ambições políticas ilegais e inadequadas” do atual regime militar. A Guiné, desde o golpe que destituiu o presidente Alpha Conde, tornou-se um exemplo do crescente padrão de governos militares na África Ocidental, onde a desconfiança e a insatisfação com as promessas não cumpridas se tornaram comuns.

A Guiné, assim como países vizinhos como Mali, Níger e Burkina Faso, está vivendo um período de instabilidade política, exacerbado pela falta de retorno a um governo civil e pela crescente influência de regimes militares. O líder atual, Mamadi Doumbouya, que assumiu o poder em 2021, justifica seu governo como um meio de evitar que o país mergulhe no caos, embora tenha enfrentado severas críticas por suas promessas não cumpridas e pela gestão da crise atual.

O que deveria ser uma celebração de esporte e união rapidamente se transformou em um lembrete sombrio da fragilidade da paz no país. O clamor por justiça e responsabilidade cresce enquanto os cidadãos se recuperam do luto pela perda tragicamente evitável de vidas. O governo militar, diante da pressão interna e externa, se vê em uma encruzilhada, precisando urgentemente abordar as preocupações de segurança e a insatisfação popular para evitar novos episódios de violência.

As lições a serem aprendidas a partir deste incidente trágico são claras: a segurança em eventos esportivos deve ser priorizada e os responsáveis devem ser chamados a responder por suas ações. À medida que o país busca curar suas feridas e restaurar a confiança em suas instituições, a esperança é que eventos como este não se repitam no futuro.

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