Em um movimento inesperado, a Intel anunciou, na última segunda-feira, que o CEO Pat Gelsinger renunciou ao cargo após um período tumultuado à frente da renomada fabricante de chips. O que antes era um colosso da tecnologia, que dominava o mercado de microprocessadores, viu suas ações despencarem à medida que a empresa falhou em acompanhar a onda crescente de inteligência artificial, sendo superada por competidores cada vez mais ágeis e inovadores.
Gelsinger, que assumiu a liderança da Intel em fevereiro de 2021, retornou à companhia onde havia construído sua carreira ao longo de décadas, incluindo um cargo como diretor técnico. Antes desse retorno, ele havia feito história como CEO da VMWare, uma gigante de software. Sua entrada na Intel foi recebida com expectativa, já que muitos acreditavam que ele poderia revitalizar a empresa, que neste período enfrentava uma concorrência feroz, atrasos na produção e a perda de talentos-chave.
No entanto, a realidade se mostrou desafiadora. Durante sua gestão, a Intel viu sua participação de mercado declinar, mesmo após receber bilhões de dólares em ajuda do governo dos EUA para fortalecer sua capacidade de fabricação interna de chips. O desempenho das ações da Intel reflete essa luta: durante o tempo de Gelsinger no comando, o valor das ações caiu impressionantes 61%. Coincidentemente, após o anúncio de sua saída, as ações da empresa tiveram um leve aumento de 4% no pregão pré-mercado.
Outras decisões drásticas também foram tomadas por Gelsinger, como a comutação de 15% da força de trabalho da Intel, que foi divulgada em agosto, uma parte de um esforço para cortar US$ 10 bilhões em custos. Ele descreveu essa ação como uma tentativa de “fundamentalmente mudar a forma como operamos”. Apesar destas tentativas, a Intel não conseguiu resgatar a imagem de inovação que um dia a caracterizou, sendo surpreendida por mudanças rápidas no mercado, particularmente pelas demandas impulsionadas pela revolução da mobilidade e agora pela inteligência artificial.
Um dos pontos críticos foi a ascensão da Nvidia, que, antes uma mera concorrente da Intel, tornou-se a segunda companhia mais valiosa do mundo em um espaço de tempo relativamente curto. A introdução do ChatGPT pela OpenAI, no ano seguinte à assunção de Gelsinger, catalisou mudanças impressionantes no setor tecnológico. A Nvidia, agora ostentando um valor de mercado colossal de US$ 3,4 trilhões, teve um crescimento explosivo de quase 720% nas suas ações nos últimos dois anos. Em comparação, a Intel, com um valor de mercado de apenas US$ 104 bilhões, é um exemplo claro das transformações vertiginosas que o setor enfrentou.
Com a saída de Gelsinger, a liderança da Intel será assumida temporariamente por dois executivos: David Zinsner, atual diretor financeiro, e Michelle (MJ) Johnston Holthaus, que é a gerente do grupo de computação para clientes da Intel. A nomeação de Holthaus também inclui a criação de um novo cargo, a CEO de produtos da Intel, que será responsável pelas iniciativas relacionadas a data centers e produtos de inteligência artificial, uma área de vital importância para a recuperação da empresa e para os seus esforços de redefinição.
Frank Yeary, presidente do conselho independente da Intel, agora nomeado como presidente executivo interino, expressou a determinação da empresa em recuperar a confiança dos investidores e trabalhar fortemente na competição de manufatura, afirmando que a Intel tem um longo caminho pela frente. “Com a liderança de Dave e MJ, continuaremos a agir com urgência nas nossas prioridades: simplificando e fortalecendo nosso portfólio de produtos e avançando em nossas capacidades de manufatura e fundição, enquanto otimizamos nossas despesas operacionais e de capital”, declarou.
O cenário atual da Intel nos leva a refletir sobre o futuro da empresa, além das incertezas que podem surgir com a necessidade de adaptações rápidas dentro de um mercado que evolui em um ritmo acelerado. As mudanças à vista não são apenas uma questão administrativa, mas sim um redirecionamento completo para restaurar a confiança dos consumidores e investidores e recuperar a posição que a Intel uma vez ocupou como líder no setor. Uma nova era se inicia, e só o tempo dirá se essa transição será o milagre que a Intel tanto deseja e necessita.
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