Na última segunda-feira, legisladores franceses apresentaram uma moção de desconfiança contra o Primeiro-Ministro Michel Barnier, estabelecendo o cenário para um voto que pode desmantelar o governo em questão de dias. Este acontecimento se insere em um contexto político conturbado, onde as tensões aumentam e as expectativas de mudança governamental se tornam palpáveis para a população.
A moção foi formalmente apresentada após Barnier tentar aprovar uma parte do orçamento de 2025 do seu governo, que contempla um aumento de impostos e cortes de gastos que somam 60 bilhões de euros (aproximadamente 62,8 bilhões de dólares), com o intuito de reduzir o déficit fiscal para 5% no próximo ano e alinhar-se às normas da União Europeia até o final da década. Este aspecto revela a ambição do governo em buscar um equilíbrio orçamentário, mas ao mesmo tempo levanta a insatisfação popular diante de um endurecimento fiscal.
Michel Barnier, que assumiu a liderança de um governo minoritário apoiado por centristas e conservadores em setembro, tentou implementar o orçamento utilizando uma cláusula constitucional que lhe permite ignorar a votação no legislativo. No entanto, essa manobra deu aos legisladores a oportunidade de apresentar moções de desconfiança contra ele. Os parlamentares de esquerda, já conhecidos por suas promessas de derrubar o governo Barnier, aproveitaram essa brecha e apresentaram a moção de desconfiança, potencialmente alinhando-se a um movimento mais amplo contra a política fiscal do governo.
Uma votação prévia está prevista para acontecer na próxima quarta-feira, o que mantém a expectativa nas ruas e nos mercados financeiros. O clima é de apreensão e as declarações das lideranças políticas acentuam o sentimento de que uma mudança significativa está no horizonte. Mathilde Panot, uma parlamentar de esquerda e uma crítica declarada ao governo Barnier, afirmou nas redes sociais que “este é um golpe de poder a mais por um governo ilegítimo” e alertou o presidente Emmanuel Macron, insinuando que a queda de Barnier seria apenas o primeiro passo para uma instabilidade mais ampla no governo.
Caso a moção seja aprovada, isso poderá lançar a França em um caos político relevante. O projeto de orçamento será imediatamente rejeitado, e tanto Barnier quanto seus ministros passarão a atuar em uma capacidade provisional até que Macron nomeie um novo primeiro-ministro. Essa incerteza política representa uma séria preocupação para a população e investidores, já que um colapso governamental frequentemente resulta em instabilidade econômica e desconfiança em relação à capacidade do governo de cumprir suas promessas fiscais.
Além disso, uma eventual queda do governo colocaria os mercados financeiros em alerta, especialmente considerando que a segunda maior economia da Europa já enfrenta desafios fiscais significativos, com o déficit orçamentário projetado para atingir 6,1% do PIB em 2024, mais do que o dobro permitido pela Comissão Europeia. Tais números não apenas refletem a fraqueza governamental, mas também as preocupações sobre a capacidade de garantir a disciplina fiscal necessária em tempos de crise.
Os investidores, preocupados com a situação, já começaram a classificar os títulos de crédito franceses como quase tão arriscados quanto os da Grécia, um sinal significativo de desconfiança nos mercados. Essa situação coloca um fardo adicional sobre Barnier, cujo orçamento, embora tenha temporariamente acalmado os mercados e Bruxelas, provocou a ira de figuras políticas como Marine Le Pen e seu partido, o Rali Nacional, que prometeram se unir aos legisladores da esquerda para derrubar o governo a menos que suas demandas sejam atendidas. Esta coalizão de descontentamento é um reflexo da insatisfação crescente com as políticas atuais e destaca um cenário político muito polarizado.
“Vamos apoiar esta moção de desconfiança porque os franceses já tiveram o suficiente de serem maltratados. Eles acharam que as coisas mudariam com Barnier, mas na verdade pioraram”, disse Le Pen a repórteres na segunda-feira. Essa declaração evoca a frustração de uma parte significativa da população francesa, que esperava um alívio das dificuldades econômicas e sociais, e mostra como a política pode impactar diretamente na vida cotidiana dos cidadãos. Le Pen, mais provocativa, impôs um prazo a Barnier para que ele respondesse às demandas de seu partido, aumentando ainda mais a pressão sobre o governo e pressionando a agenda política a níveis mais intensos.